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Moody’s com perspetiva negativa para a banca

A agência de notação financeira Moody’s emitiu um “outlook” negativo para o sector bancário em 2024, por cauda da deterioração do ambiente operacional, do aumento dos empréstimos em incumprimento e do impacto da guerra em Israel.
5 Dezembro 2023, 16h07

A agência de notação financeira Moody’s emitiu um “outlook” negativo para o sector bancário em 2024, por cauda da deterioração do ambiente operacional, do aumento dos empréstimos em incumprimento e do impacto da guerra em Israel.

As perspectivas da Moody’s para os bancos globais no próximo ano são negativas, uma vez que as políticas monetárias mais restritivas dos bancos centrais resultaram num menor crescimento do PIB, revela o Moody’s 2024 outlook for global banks.

“A redução da liquidez e da capacidade de reembolso irá reduzir a qualidade dos empréstimos, conduzindo a maiores riscos para os activos. A rentabilidade irá provavelmente diminuir devido aos custos de financiamento mais elevados, ao menor crescimento do crédito e à acumulação de reservas”, revela Felipe Carvallo, Vice-Presidente – Diretor de Crédito Sénior da Moody’s Investors Service.

“O financiamento e a liquidez colocarão desafios, mas a capitalização permanecerá estável, beneficiando da geração orgânica de capital e do crescimento moderado dos empréstimos, e à medida que alguns dos maiores bancos dos EUA acumulam o capital” segundo Felipe Carvallo.

A Moody’s aponta vários Key Drivers para o Outlook negativo. “O ambiente operacional deteriorar-se-á sob políticas monetárias restritivas. Os principais bancos centrais começarão a reduzir as taxas, mas o dinheiro permanecerá escasso, resultando num menor crescimento do PIB em 2024. A inflação está a abrandar, mas os riscos geopolíticos e climáticos permanecem. O crescimento económico da China deverá abrandar devido à redução dos gastos privados, às exportações fracas e à actual correcção do mercado imobiliário”.

“A qualidade do crédito será afetada por uma liquidez reduzida e por uma capacidade de reembolso mais apertada. As anteriores subidas das taxas conduzirão a um maior risco dos ativos e à acumulação de reservas”, defende a agência que acrescenta que “o aumento do desemprego nas economias avançadas enfraquecerá o desempenho dos empréstimos”.

“A exposição ao sector imobiliário comercial nos EUA e na Europa constitui um risco crescente; na Ásia-Pacífico, determinados mercados imobiliários enfrentam tensões. Os bancos chineses enfrentam riscos decorrentes de um crescimento económico mais lento e do impacto de segunda ordem de uma recessão prolongada do sector imobiliário”, refere a Moody’s.

Mas há mais factores chave a sustentarem o pessimismo da Moody’s. “A rentabilidade cairá devido ao aumento dos custos de financiamento, ao menor crescimento dos empréstimos e às necessidades de provisões para perdas com crédito”.

“Os ganhos de rentabilidade dos últimos dois anos provavelmente começarão a diminuir, mas permanecerão sólidos. Os custos de financiamento mais elevados reduzirão as margens de juros líquidas, enquanto a produção de empréstimos continuará a enfraquecer à medida que os aumentos das taxas limitam a procura e os requisitos de concessão de crédito se tornam mais rigorosos”.

Os custos com provisões acompanharão o aumento dos riscos dos activos, enquanto os custos operacionais enfrentam o aumento dos investimentos relacionados com a tecnologia e os novos custos regulamentares, vaticina a Moody’s.

O financiamento e a liquidez serão mais difíceis devido à contração da política monetária. O crescimento dos depósitos desacelerará à medida que os depósitos passarem para produtos de poupança com maior remuneração ou à medida que saírem dos sistemas bancários, enquanto o financiamento do mercado aumenta. O menor crescimento do crédito limitará as tensões de financiamento. A escassez de moeda estrangeira afectará a liquidez em alguns mercados fronteiriços, defende ainda a agência.

Por fim os fundos próprios manter-se-ão globalmente estáveis. Os bancos na Europa manterão amplos amortecedores  (almofadas) acima dos mínimos regulamentares de capital. Nos Estados Unidos, alguns dos maiores bancos reforçarão o capital devido a alterações regulamentares. Na Ásia-Pacífico, a geração de capital orgânico e políticas de dividendos prudentes permitirão a estabilidade do capital.

No que se refere principais tendências na banca da Europa Ocidental, que em si são também negativas, a Moody’s especifica que o crédito dos bancos às famílias e ao sector empresarial continuarão a diminuir, reflectindo uma política de concessão de crédito mais restritiva e uma procura de empréstimos fraca.

“O endurecimento dos requisitos de concessão de crédito que estamos a observar entre os bancos dos EUA e os bancos europeus, em resposta ao aumento dos riscos dos ativos pode levar à contração do crédito, o que por sua vez reduz o crescimento”, diz a Moody’s.

A performance da carteira de crédito enfraquecerá, mas apenas moderadamente, defende a agência. “Na Europa, a queda do valor dos imóveis resultará num maior número de empréstimos problemáticos, mas os bancos estão bem capitalizados e a qualidade de crédito das suas carteiras de empréstimos ao imobiliário comercial é forte”, diz a agência de notação financeira.

Os bancos na Suécia são os mais expostos, devido a concentrações muito elevadas de crédito à habitação e a uma recessão mais profunda no mercado imobiliário local, aponta a Moody’s.

Operadores alternativos de concessão de crédito a particulares, menos regulamentados, estão a crescer e podem retirar oportunidades de crédito ao sistema bancário, mas também tendem a financiar mutuários mais fracos e mais alavancados, que são susceptíveis a taxas de juro mais elevadas, acrescenta a agência.

À medida que os bancos concedem financiamento a particulares, qualquer deterioração da qualidade do crédito nas outras instituições de crédito pode reflectir-se num aumento das provisões/imparidades para crédito e repercutir-se também no mercado dos bancos regulamentados.

A Moody’s diz que após uma melhoria significativa, a rentabilidade estabilizará. “As margens de juro líquidas na Europa e na Ásia-Pacífico continuarão a beneficiar da reavaliação dos empréstimos, com uma repercussão relativamente mais gradual nos custos de financiamento. Os bancos com uma vasta carteira de mercados beneficiarão da diversificação”, revela.

As almofadas de capital manter-se-ão amplas. Os bancos europeus encontram-se entre os que têm mais elevados rácios de capitalização ponderada pelo risco e manterão amplas almofadas acima dos mínimos regulamentares.

“Note-se que a perspetiva negativa reflecte a nossa opinião sobre os fundamentos do crédito no sector bancário mundial nos próximos 12 meses”, conclui.

A Moody’s considera também que a subida do desemprego e a baixa na confiança dos consumidores pode causar problemas no crédito nas economias desenvolvidas como o Canadá e Reino Unido.

Nos Estados Unidos esperam um abrandamento na concessão de crédito, embora sem perdas pronunciadas.

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