A Moody’s reduz as perspectivas do sistema bancário dos EUA a “negativas”, invocando o “ambiente operacional em rápida deterioração”.
Recorde-se que é a agência de rating Moody’s Investors Service que despoleta a situação do Silicon Valley Bank quando, em meados da semana passada, avisa o SVB Financial Group através de uma chamada telefónica, a dar conta que se preparava para baixar a classificação da dívida do banco, relata a Reuters.
O alerta da Moody’s tinha a ver com o impacto do valor da carteira de dívida soberana norte-americana que o SVB tinha contabilizado como detidas até maturidade (held-to-maturity) o que implicava ajustar a avaliação dos títulos ao preço do mercado, e como se sabe a subida dos juros promovida pela Reserva Federal provocou uma subida das yields (juros) e um uma queda no preço das obrigações, que se movimentam em sentido contrário às taxas. Uma tendência que foi reforçada na terça-feira, quando o presidente do banco central Jerome Powell admitiu a possibilidade de a Fed voltar a acelerar a subida dos juros para travar a inflação. Depois das declarações, a taxa dos títulos do Tesouro americano a dois anos superaram os 5% pela primeira vez desde 2007.
A queda do valor das obrigações, onde o SVB tinha parte da sua tesouraria, levou a Moody’s a ligar aos executivos do banco. A agência de rating ia avançar com a revisão em baixa do rating. Preocupados que a decisão da agência abalasse a confiança dos investidores e dos clientes, contactaram o Goldman Sachs para encontrar uma saída. Foi o assim desencadeado o processo que levaria ao maior colapso de um banco deste a crise financeira de 2008 e que já contagiou o Signature Bank que também foi encerrado.
A Moody’s Investors Service na segunda-feira cortou a sua visão sobre todo o sistema bancário de estável para para negativo. Na nota emitida esta semana a Moody’s justifica a alteração brusca do “Outlook” para “Negativo” da banca dos Estados Unidos com o “ambiente operacional em rápida deterioração”.
Este é um rude golpe para um sector já de si em situação volátil.
A agência explica que está a fazer esta alteração à luz de três falhas-chave que levaram os reguladores a intervir no domingo com um programa de liquidez, anunciado pela Fed, e com uma garantia de cobertura de todos os depósitos (mesmo os que estão acima de 250 mil dólares, que no caso do SVB era a maioria) pela secretária de Estado do Tesouro.
“Passámos de uma perspectiva estável para uma perspectiva negativa sobre o sistema bancário dos EUA, para reflectir a rápida deterioração do ambiente operacional após a corrida aos depósitos no Silicon Valley Bank (SVB), Silvergate Bank, e Signature Bank (SNY) e os colapsos do SVB e SNY”, disse a Moody’s num relatório.
A mudança seguiu-se à ação da agência no final da segunda-feira, altura em que a Moody’s anunciou a revisão em baixa ou em risco de redução de rating em sete instituições financeiras.
Ao colocar todo o sector em risco de baixar a notação financeira, as agências de classificação de rating levaram em conta as ações extraordinárias tomadas para fortalecer o sector. Mas alerta que outros bancos com perdas potenciais na carteira de dívida soberana (portanto perdas não realizadas) ou com depositantes sem estar cobertos pelo seguro do FDIC (fundo que garante depósitos até 250 mil dólares) “ainda podem estar em risco”.
A Reserva Federal estabeleceu uma linha de crédito aos bancos para assegurar que as instituições atingidas por problemas de liquidez tivessem acesso a dinheiro de forma rápida. O Tesouro reforçou o programa com 25 mil milhões de dólares em fundos e prometeu que os depositantes com mais de 250.000 dólares no SVB e no Signature Bank teriam pleno acesso aos seus depósitos. Mas a Moody’s disse que as preocupações se mantêm.
A agência de rating considera que “os bancos com substanciais perdas potenciais de títulos (detidos até à maturidade) e com depositantes americanos acima de 250 mil dólares e não segurados pelo Federal Deposit Insurance Corporation podem ainda ser mais vulneráveis à concorrência dos depositantes ou à fuga em última instância, com efeitos adversos no financiamento, liquidez, resultados e capital”.
As ações dos bancos recuperaram fortemente, apesar da descida da classificação da Moody’s.
O fundo negociado em bolsa do SPDR Bank (State Street Global Advisors) subiu quase 6,5% hoje na abertura nos EUA. Os principais índices também subiram, com o Dow Jones Industrial Average a subir quase 450 pontos, ou 1,4%.
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