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Morna “tem futuro” mas é preciso fomentar ensino, afirma ministro da Cultura de Cabo Verde

“É simbólico do que vai acontecer no próximo ano, a partir do momento que for ratificada a proposta”, afirmou Abraão Vicente.
3 Dezembro 2019, 20h44

O ministro da Cultura cabo-verdiano afirmou esta terça-feira que a morna “tem futuro”, mas Cabo Verde precisa de fomentar o seu ensino nas escolas, face à esperada classificação como Património Cultural e Imaterial da Humanidade na próxima semana.

Abraão Vicente falava aos jornalistas, na cidade da Praia, à margem de um ‘flash mob’ promovido por dezenas de crianças de escolas primárias da capital, incluindo da Escola Portuguesa de Cabo Verde, para assinalar o Dia Nacional da Morna, cantando várias mornas históricas.

“Prova que a morna tem futuro. Prova que Cabo Verde está preparado para ensinar a morna”, afirmou o ministro.

O governante sublinhou que a morna está agora “voltada para o futuro” e que iniciativas como a de hoje representam tudo o que acontecerá depois da esperada elevação daquele género musical a património da humanidade, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), na próxima semana.

“É simbólico do que vai acontecer no próximo ano, a partir do momento que for ratificada a proposta”, afirmou Abraão Vicente.

Cabo Verde apresentou em março do ano passado a candidatura da morna a Património Cultural e Imaterial da Humanidade, cuja decisão pública deverá ser conhecida durante a reunião do Comité do Património Cultural e Imaterial da UNESCO, que decorre de 09 a 14 de dezembro, em Bogotá, Colômbia.

Esta proposta já foi aprovada em novembro pelo comité técnico da UNESCO, pelo que o governante acredita que, previsivelmente em 11 ou 12 de dezembro, será ratificada a classificação da morna como património da humanidade.

Para tal, recordou, foi preparado um dossiê de 1.000 páginas, com mais de 300 entrevistas, pesquisas em todo o território nacional e na diáspora, “para demonstrar que a morna está enraizada na cultura popular” de Cabo Verde.

Ainda assim, Abraão Vicente reconhece a necessidade de “trabalhar afincadamente com o ministério a Educação” na promoção daquele género musical nas escolas.

“Este ano notou-se uma redução do tempo dedicado ao ensino das artes em Cabo Verde. É algo em que nós estamos em contramão com as indicações da UNESCO e com a classificação de um património imaterial. O primeiro passo é formar professores e o segundo passo é que as escolas de facto incorporem a matéria ‘cultura cabo-verdiana’ e a matéria ‘ensino da música cabo-verdiana’ como algo prioritário”, destacou o ministro.

Acrescentou que “um debate para o futuro” será sobre “o lugar que se quer dar à língua [crioulo]”, usada em todas as mornas.

“De resto, penso que Cabo Verde está preparado para dar este passo, já que muitas das nossas mornas já estão escritas em pauta, há uma investigação muito apurada (…) por parte de muitos investigadores cabo-verdianos que já puseram em documento aquilo que pode ser a metodologia a ser aplicada”, destacou.

A delegação cabo-verdiana que vai estar na reunião do Comité do Património Cultural e Imaterial da UNESCO – liderada por Abraão Vicente e que integra músicos cabo-verdianos -, parte na quinta-feira para Bogotá, prevendo, antes do arranque dos trabalhos, novas reuniões individuais com os representantes dos países que participam na votação da proposta.

À partida para a Colômbia, o Abraão Vicente confessa a expetativa por uma das notícias mais aguardadas desde a independência de Cabo Verde.

“É o sentimento de que o trabalho preliminar já foi feito e a expetativa de poder mandar ao senhor primeiro-ministro, que é quem comunicará oficialmente ao país essa notícia, a boa notícia no dia 11 ou 12 [de dezembro]”, admitiu Abraão Vicente.

Desde 2018 que a morna passou a ter um dia nacional, 03 de dezembro, dia de nascimento do compositor mindelense Francisco Xavier da Cruz ou B.Leza, uma das maiores referências daquele género musical.

O dossiê cabo-verdiano contou com o apoio técnico de Portugal e com a colaboração do antropólogo Paulo Lima, especialista português na elaboração de processos de candidatura a Património Imaterial da Humanidade da UNESCO, como o fado, o cante alentejano e a arte chocalheira.

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