O Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, fechou 2017 com um novo recorde de passageiros, quase 27 milhões, o que representa um crescimento de cerca de 19% em relação ao ano anterior. Em maio último, já ultrapassava os 11 milhões de passageiros, pelo que é de prever novo recorde em 2018. Infelizmente, com este crescimento, aumentam também os atrasos e cancelamentos de voos, as horas de espera no SEF e as falhas de segurança, tornando por vezes caótico o aeroporto da capital.

A companhia mais afetada é a TAP, cujas reclamações no Portal da Queixa só no primeiro semestre deste ano cresceram 133%, correspondendo a maioria a voos cancelados ou atrasados, sobretudo nas rotas domésticas onde se inclui a “ponte aérea” que liga o Porto a Lisboa. Em alguns casos, os atrasos são superiores a três horas, o que por vezes torna mais rápida a viagem de automóvel entre as duas cidades do que de avião.

Em suma, a principal companhia aérea a operar no Aeroporto Humberto Delgado é também a mais afetada pelos graves constrangimentos desta infraestrutura aeroportuária. A TAP culpa a ANA pelos “sérios danos” que as limitações do aeroporto estão a causar aos seus índices de pontualidade e ao seu plano de expansão, a ANA refuta, acusando a companhia de ter uma “operação global sobredimensionada relativamente à frota e tripulação disponível e problemas técnicos”.

Enquanto decorre esta troca de acusações, os utentes – portugueses e turistas estrangeiros – sofrem na pele as consequências desta situação, vendo os seus voos sucessivamente alterados, atrasados, cancelados e perdendo escalas com outros voos.

Mas será que estes constrangimentos resultam mesmo da falta de capacidade do aeroporto gerido pela ANA (responsável também pelos aeroportos do Porto, Faro, Funchal e Ponta Delgada), empresa detida pela Vinci desde 2012? Será mesmo uma infraestrutura esgotada? Será que os atrasos se devem às limitações face ao tráfego de Lisboa? Será que não existe uma estratégia económica para que a ANA assuma a gestão de mais um aeroporto nacional – sim, gestão, já que o investimento fica do lado do Estado – a construir na margem sul?

Há muitos anos que se fala da necessidade de um outro aeroporto na região de Lisboa, mas só agora se têm verificado atrasos inaceitáveis, com danos evidentes para os passageiros, para a transportadora nacional e para a imagem externa do país. A ninguém parece ocorrer que o Aeroporto de Beja, situado entre os dois maiores destinos turísticos do país e notícia por estes dias por ter recebido o maior avião do mundo, poderia representar uma alternativa viável, sobretudo numa altura crítica como é o verão.

Terá sido o crescimento do Turismo a provocar estes danos em Lisboa ou existirão interesses associados a esta momentânea necessidade de evidenciar atrasos e cancelamentos? Existirem, existem, com certeza: interesses imobiliários e de construção, táxis e Uber, transportes públicos, concessionários de portagens, hotéis, etc. A questão é se terão força suficiente para forçar uma decisão, caso seja mesmo de prosseguir.