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Seis sugestões de leitura com sabor a terra e mar

Na esplanada, na toalha de praia, à sombra de uma bela árvore algures na serra ou na planície, ou num prosaico sofá, não dê descanso à leitura e deixe-se surpreender por uma das nossas sugestões.
22 Agosto 2021, 11h30

Para quem não está na corrida ao Espaço que vários multimilionários, quiçá entediados, têm vindo a promover recentemente, pode de uma forma cool e refrescante dedicar-se a outro género de viagens. É só mergulhar num livro e tem um ponto de partida garantido. Até à chegada muito poderá acontecer. Tudo depende da sua relação com esse objeto mágico e da vontade de chegar ao destino. A última página.

Boas leituras!

 

“Figuras numa Paisagem”, de Paul Theroux

 

Um dos nomes incontornáveis da literatura de viagem, Paul Theroux, e também um dos mais acarinhados pelo público, é um autor que, por inerência das suas deambulações, coleciona histórias e pessoas que vai conhecendo durante as suas viagens. Tudo somado não teremos uma epifania mas um livro que reúne pessoas, lugares e estórias.

“Figuras numa Paisagem” é a mais recente obra de Theroux disponível em Portugal pela sua editora habitual, a Quetzal. Não revelando tudo, refira-se que é uma viagem feita de muitas viagens com “paragens” diversas: Equador, Zimbabwe, Havai e mais além no caso dos ensaios. Na série dos textos de crítica literária, o autor discorre sobre facetas talvez menos conhecidas nas obras de Graham Greene, Paul Bowles, Henry David Thoreau, Joseph Conrad ou Georges Simenon, entre outros. Numa terceira série, que versa sobre perfis pessoais, somos convidados a fazer uma viagem aérea com Elizabeth Taylor, a envolver-nos com a neurologia de Oliver Sacks e a explorar Nova Iorque com o ator Robin Williams.

 

“A Ponte sobre o Drina”, de Ivo Andric

 

Século XVI, Visegrado, cidade na fronteira entre a Sérvia e a Bósnia. Mehmed-Paxá, Grão-vizir, sonha ainda com o dia em que, criança, foi separado da sua família cristã, sendo obrigado a atravessar o rio para a outra margem. Assim começa a história. Décadas depois, essa criança, entretanto convertida à fé do Islão, dá a ordem de construção de uma ponte sobre o rio Drina. A sua edificação exigiu anos de trabalho árduo, lágrimas e sangue, sacrifícios e vítimas. É uma história épica. Nela o autor plasma desde o quotidiano ao desmoronar de Impérios e ao nascimento de novas nações. Qual espetador, qual metáfora.

Ivo Andric, nasceu em Travnik, na atual Bósnia, em 1892. Escritor, político e diplomata, foi sempre uma personalidade controversa e esteve preso, suspeito de envolvimento no assassinato do arquiduque Francisco Fernando. Encontrava-se em Berlim, na qualidade de ministro dos Negócios Estrangeiros na Alemanha do III Reich, quando foi durpreendido pelos bombardeamentos a Belgrado na Segunda Guerra Mundial. Os Nazis ofereceram-lhe asilo, que recusou, regressando a uma Jugoslávia ocupada. Viveu fechado no seu apartamento, em prisão domiciliária, até à sua morte, em 1975. Uma edição da Cavalo de Ferro.

 

“Ler o Mundo”, de Michèle Petit

 

Uma das mais extraordinárias viagens de sempre é mergulhar num livro. E despertar esse prazer, esse fascínio nos mais novos é missão que muitos país, hoje, dizer ser praticamente impossível. Não garantimos fórmulas mágicas, ou outras, mas sugerimos uma incursão por esta obra da antropóloga Michèle Petit. Para quem a literatura, oral e escrita, e a arte sob todas as suas formas, devem ter um lugar na vida de todos os dias, em particular na das crianças e dos adolescentes.

Para que serve ler, porquê ler hoje, porque devemos incitar as crianças a fazê-lo? Como transmitir o gosto da leitura e o das práticas artísticas? Entre muitas outras questões a que procurou responder quando confrontada por professores, bibliotecários, promotores da leitura ou alunos que se preparam para tais funções, por ocasião das muitas intervenções que tem feito ao longo do tempo.

“Muitas áreas da nossa vida requerem uma parte de imaginário, mas há três que me vêm logo à mente, de tal forma essa vertente é aí importante: o amor, a viagem, a habitação.” Um livro a descobrir e a partilhar. A edição é da Faktoria K de Livros, uma chancela da Kalandraka.

 

“As Aventuras de Tintin – Carvão no Porão”, de Hergé

 

Numa lista de sugestões de leituras com “sabor a mar”, teria de figurar um título onde participe o famoso oficial da Marinha, o capitão Haddock, e incansável companheiro de aventuras de Tintin. Considerado o personagem mais humano de Hergé, é sem dúvida um dos mais coloridos graças ao seu vernáculo, ou melhor, jargão marinheiro.

Em “Carvão no Porão”, cujo tema da emigração clandestina é de uma assustadora actualidade, os dois heróis reencontram diversas personagens inesquecíveis, parte integrante da galeria comum a outros livros, como é o caso de Castafiore, do general Alcazar, de Oliveira de Figueira e do miúdo irrequieto (eufemismo para verdadeiramente insuportável) que dá pelo nome de Abdallah. Dúvidas houvesse, aqui fica uma das explosões do capitão Haddock: “Com mil biliões de mil milhões de mil raios! Mais uma partida desse maldito miúdo!… Será que nunca mais consigo ter um pouco de sossego, com mil macacos?”.

 

“Uma Semana nos Rios Concord e Merrimack”, de Henry David Thoreau

 

“Uma Semana nos Rios Concord e Merrimack” foi escrito em 1849. Primeiro livro de Henry David Thoreau e obra inseparável de “Walden ou a Vida nos Bosques”, relata a viagem que empreendeu, juntamente com o seu irmão John, em 1839, no barco que os dois construíram, Musketaquid – o nome índio do rio Concord.

O leito do rio espelha as suas desarmantes reflexões, amiúde ‘colhidas’ nas margens Da história dos índios à dos colonos puritanos, da poesia moderna à filosofia clássica, das críticas que tece ao cristianismo aos louvores às escrituras orientais, da apologia da amizade e da natureza, nada escapa à sua acutilância, sempre em busca das pessoas que se foram, “arrastadas pela corrente”, no alvorecer da sociedade industrial e materialista. Uma viagem que é, também, um extraordinário ensaio sobre a amizade. A edição portuguesa é da Antígona.

 

“100 Experiências Inesquecíveis em Portugal”, de Joke Langens

 

Este não é um guia de viagens e, embora possa parecer, não pretende sê-lo. Está organizado em sete capítulos regionais e inspira-se em histórias e estórias. E apresenta as cem experiências, como se lê no título, sem qualquer ordem cronológica nem conteúdos patrocinados, apenas sugestões genuínas.

O belga Joke Langens mudou-se para Portugal em 2013 e passou a palmilhar o país. “100 Experiências Inesquecíveis em Portugal”, editado pela Casa das Letras, é o resultado do súbito impasse que os viajantes inveterados enfrentaram em 2020. Quando o ato de viajar para o estrangeiro passou a ser algo de “excecional” e muito restrito, devido à pandemia, Langens olhou para dentro e passou para o papel sugestões – experiências – para todos. Ou seja, para quem visita o país pela primeira vez e para quem já palmilhou “n” vezes o território. Porque, na verdade, nunca o conhecemos.

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