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New Capital, ou como desmistificar os mercados financeiros promovendo a literacia financeira

O que é uma ação, o que é uma commodity, o que é um índice? É precisamente este tipo de questões e a outras mais complexas que a plataforma de literacia financeira criada pelo fundador da Forall Phones e da Relive quer explicar a investidores amadores. “Somos uma plataforma de educação”, conta José Costa Rodrigues ao Jornal Económico.
11 Fevereiro 2021, 07h20

O jovem empresário José Costa Rodrigues, que fundou a Forall Phones e a imobiliária Relive, considera que há em Portugal um défice de literacia financeira e, por isso, vai lançar uma plataforma que pretende, precisamente, ajudar investidores amadores e outros interessados nos mercados de capitais a investir de forma informada e segura. A aplicação New Capital é lançada esta sexta-feira.

O que é uma ação, o que é uma commodity, o que é um índice? É precisamente a este tipo de questões e a outras mais complexas que a New Capital pretende dar resposta aos chamados investidores amadores, segundo contou José Costa Rodrigues ao Jornal Económico (JE). “Somos uma plataforma de educação”, resume o empreendedor de 24 anos de idade.

A ideia não é nova, mas só ganhou maturidade na mente de José Costa Rodrigues em plena pandemia, quando se apercebeu que muitas pessoas, sobretudo jovens, sem conhecimento de fundo sobre o mercado de capitais começavam a procurar fazer investimentos, sobretudo no forex (mercado cambial). Ciente que muitos entram neste tipo de negociação bolsista desprovidos de informação fiável, o jovem empresário reuniu pessoas que “estão por dentro dos assuntos financeiros, que percebem como o mercado funciona e que têm legitimidade suficiente para abordar o tema”, para lançar uma plataforma que promoverá a literacia financeira.

O objetivo da New Capital, que já tem pré-registados dez mil pessoas, vai apresentar conteúdos “feitos por profissionais” que explicam todos os assuntos relacionados com os mercados, procurando ensinar a poupar e a investir. O jovem empreendedor pretende proporcionar uma informação “um pouco ao estilo que é feito no Contas Poupança [programa sobre finanças pessoas transmitido pela SIC]”, mas aplicado à realidade dos mercados.

A ideia da New Capital estava no radar de José Costa Rodrigues desde 2019, quando estudava nos Estados Unidos, onde plataformas como a Robinhood ganhavam fama entre os mais jovens e os investidores mais inexperientes. “Era uma espécie de Uber das ações do mercado de investimento”, comenta.

Fundador da Forall Phones, da imobiliária Relive e da ‘app’ New Capital José Costa Rodrigues | Foto cedida

“Nos EUA já era muito normal os retail traders operarem comprando ações através de plataformas muito simples e user friendly. Quando voltei para Portugal procurei por essas plataformas e vi que há um ou dois bancos grandes com esse tipo de soluções. Com o tempo, surgiram outras plataformas mais eficientes do que as portuguesas onde dava para comprar ações”, conta.

“Quando apareceu a Covid-19, surgiu também uma oportunidade para fazer investimentos”, acrescenta. O empresário, começou então a ver que o que já acontecia nos EUA estava agora a desenvolver-se em Portugal. “Este movimento era muito liderado pelo forex (mercado cambial) e era muito associado a esquemas em pirâmide e a situações esquisitas”, detalha.

Convencido de que muitos investiam sem saber o que estavam a fazer, José Costa Rodrigues identificou uma oportunidade “para criar algo mais concreto, confiável e transparente”. A partir daí desenvolveu a New Capital, “que é uma plataforma de educação sobre poupar e investir”.

Sabendo que “a maioria dos portugueses, especialmente nesta fase, não tem dinheiro para investir”, a New Capital focar-se-á nos temas de poupança, propondo-se a “divulgar as melhores práticas e filtrando os melhores conteúdos”. Paralelamente, haverá espaço para dicas sobre como, quando e onde investir.

A New Capital baseia-se, assim, apenas em conteúdos informativos sobre poupança e investimentos. Da parte de José Costa Rodrigues não há qualquer desejo de tornar a plataforma numa porta de acesso à compra de títulos, o que obrigaria à regulação da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM). “Nisso não entramos porque não dominamos o assunto”, garante.

O acesso à New Capital “vai ser totalmente gratuito”, acrescenta. Só numa fase posterior, dependendo da aceitação dos utilizadores e se for possível ter “conteúdos bons, com convidados de grandes empresas ou bancos de investimento a darem formações”, é que o jovem admite vir a cobrar pelo acesso à plataforma. Nesse caso, seria criado um plano de subscrição pago que reservasse “conteúdos premium aos subscritores”.

José Costa Rodrigues acredita que a plataforma vai ter sucesso, uma vez que o hábito do cidadão normal investir no mercado de capitais “vai tornar-se numa coisa natural”

“Hoje já faz parte da conversa de café. O problema é que a literacia financeira, em Portugal, é terrível. Quando todos falam de investimento, numa altura em que o mercado está muito bom, há muita gente que está a ganhar dinheiro agora. Mas isto pode ser uma bolha e se as pessoas não estiverem minimamente educadas para os investimentos a fazer, vai correr mal”, argumenta.

“E se a literacia financeira ainda não faz parte dos manuais escolares tem de haver uma plataformas que eduquem as pessoas”, diz.

Para ajudar a catapultar a plataforma de literacia financeira e para munir o espaço com informação credível, o jovem empresário está em diálogo com o banco BiG, o banco Carregosa ou a corretora XTB. Mas, para já, não há parcerias fechadas.

Falta de literacia financeira está ao nível das ‘fake news’
Questionado sobre se a promoção da literacia financeira não é também um papel do regulador do mercado, a CMVM, José Costa Rodrigues insiste na ideia de que essa é uma responsabilidade de todos. “Acho que a CMVM faz o seu trabalho muito bem e não pode ser a CMVM a controlar tudo”, diz, indicando que da mesma forma que “as fake news proliferam há pessoas a investir mal informadas e essa desinformação também prolifera”.

“É um pouco nossa responsabilidade bloquearmos esses conteúdos, senão vão chegar a cada vez mais pessoas. E este problema tem tendência a chegar às pessoas que menos têm para investir e que menos conhecimento têm para o fazer, mas que ainda assim o fazem”, realça.

Instado a comentar o caso da Gamestop e se o mesmo poderia acontecer em Portugal, o jovem empresário diz não acreditar que um episódio semelhante ocorra, pelo menos na mesma dimensão. Contudo, afirma que a “tendência” para investidores amadores investirem já existia.

“Agora, quando um grupo de pessoas se decide começar a investir numa ação em concreto há um potencial de escalar muito rapidamente”, sublinha.

“Durante muitos anos os mercados financeiros foram algo do além, digamos. Mas de repente houve uma democratização dos mercados, com estas novas tecnologias. Não é que não pudéssemos investir antes, mas agora os mercados estão mais acessíveis. Estão tão acessíveis que chega a ser perigoso. Quando estas pessoas se juntam e percebem que podem ter impacto nos mercados, é quase uma revolução que se praticou”, analisa.

“Estou muito expectante para ver como isto vai ser regulado, porque o mercado transformou-se a partir de agora. A questão é como é que isto agora será regulado”, refere.

É nesse sentido – reitera ao JE – que a New Capital pode ter um papel a desempenhar, mas à escala da realidade portuguesa.

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