Portugal está no radar do maior grupo de telecomunicações da Finlândia, que é uma das referências mundiais. Na última edição presencial da Web Summit, em novembro de 2019, a Nokia anunciou a criação de um centro de competências, no país. Doze meses depois, a Nokia decidiu trazer para o seu complexo na Amadora, distrito de Lisboa, uma nova unidade – desta vez focada na área financeira -, mas o anúncio só foi feito na última quarta-feira (17 de fevereiro) por questões de confidencialidade. A nova unidade faz parte de um memorando de entendimento [MoU] com o Governo, que promete contar com a Nokia em iniciativas para a transição digital do país. Esta é a sexta unidade da Nokia no país, cujo objetivo é servir a partir de Portugal todos os mercados da multinacional de origem finlandesa. A nova estrutura representa um investimento de 90 milhões e 300 vagas na Nokia Portugal. Em entrevista ao Jornal Económico, o diretor-geral da Nokia Portugal abre a porta a mais investimentos, no futuro.
A Nokia Portugal vai abrir um Centro de Serviços Partilhados, em Portugal, dedicado à área financeira. Quando é que a nova unidade estará 100% operacional?
Queremos começar a contratar ainda neste primeiro trimestre. E o centro tem de estar concluído até ao final do próximo ano.
O que levou a Nokia a instalar mais uma unidade no país?
Vários aspetos. Provavelmente o mais importante é a pool de talentos que Portugal tem. Temos talentos muito qualificados, temos ótimas universidades, recursos com enormes competências quando comparados com outros países da União Europeia. Depois a questão da localização geográfica: estarmos num ponto de charneira entre aquilo que é a Europa e o Ocidente. Os ecossistemas que nós temos de empreendedorismo também foi um factor que foi realçado, bem como a estabilidade que temos. E facto da Nokia já ter uma forte presença em Portugal ajuda. No fundo, temos já uma plataforma em Portugal que nos possibilita acrescentar algumas sinergias com novos centros de competências.
Este novo centro de competências abre 300 novas vagas na Nokia Portugal. Em que áreas vão procurar novos profissionais?
Este centro tem características diferentes dos centros que a Nokia tem já implementados em Portugal. Será um centro de serviços partilhados na área financeira. Os recursos procurados são, por isso, mais na área financeira – recursos altamente qualificados. Mas, hoje em dia, quando se fala neste novo tipo de áreas não se consegue muito dissociar a parte das engenharias mais recentes, como os famosos cientistas de dados. E estas engenharias novas têm de ser sempre consideradas quando se fala de dados e a área financeira é, essencialmente, suportada a partir de dados e de grande gestão de informação.
Que serviços serão prestados e que mercados serão servidos?
O novo centro vai servir Portugal, mas, essencialmente, o mundo. Todos os nossos centros em Portugal operam para o mundo inteiro. As atividades centram-se na gestão financeira, desde a gestão de encomendas dos nossos clientes até ao controlo financeiro. A ideia é ter uma cadeia perfeitamente integrada de suporte ao negócio a partir de Portugal. A isso, vamos juntar a digitalização e a inteligência artificial, tools para otimizar esta cadeia integrada de processos e suporte ao negócio.
O novo centro representa um investimento de 90 milhões de euros. A Nokia reserva para Portugal mais investimentos no futuro?
Trabalhamos diariamente para que a nossa operação tenha níveis de competitividade que criem valor para a Nokia. E temos tido algum sucesso em pôr Portugal no mapa estratégico da Nokia. Está sempre em aberto a possibilidade de termos novos centros.
A Nokia assinou um MoU com o Governo para a transição digital. Em que iniciativas vão participar?
No fundo é uma declaração de intenção de cooperação que nós assinamos com o Governo. Naturalmente, temos algumas expectativas e há um compromisso com o Plano de Ação para a Transição Digital, nos três eixos: a relação com a academia está ativa e vai continuar, mas tem de ser, eventualmente, reforçada; nas empresas, iremos participar nas redes de inovação e de empreendedorismo que estão a ser estabelecidas para potenciar a digitalização do nosso tecido empresarial; e queremos ser uma empresa de referência para projetos estratégicos de modernização da administração pública.
Um dos focos do MoU com o Governo passa pelo 5G. Qual será o papel da Nokia?
Vamos tentar ser fornecedores de referência no mercado português para os operadores. Vamos tentar maximizar a nossa presença nos operadores nacionais, mas também nas empresas e na AP, porque o 5G tem um aspeto extremamente importante, ao contrário das outras tecnologias, à modernização e digitalização. A nossa presença no negócio das empresas e da AP pode alavancar, cooperar e catalisar o 5G para a modernização das empresas e da administração pública.
A Nokia trabalha com os três principais operadores nacionais?
Somos fornecedores dos três operadores no país como fornecedor de soluções, umas relacionadas diretamente com o 5G e outras não relacionadas diretamente.
Como vê a polémica do processo de implementação do 5G em Portugal?
Não comentamos situações políticas. Mas, independentemente de estarmos atrasados ou não – os prazos são o que são – temos de pensar em Portugal, tal como fizemos nas outras gerações da rede móvel, como um exemplo de empreendedorismo e de inovação naquilo que foram os serviços móveis e aquilo que é a história dos serviços móveis. Fomos várias vezes referências mundiais para serviços, como no caso do serviço pré-pago. Fomos um pioneiro e um inovador mundial na introdução do pré-pago. É made in Portugal. Portanto, independentemente do debate do atraso, acho que Portugal vai estar à altura como esteve nas outras gerações do móvel. E vamos ser inovadores e trazer outra vez o empreendedorismo e inovação para o sector das telecomunicações.
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