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“No contexto empresarial, Portugal teve um enorme sucesso na promoção da eficiência energética”

Em entrevista ao Jornal Económico, António Lorena, head of sustainability business unit da Quadrante, fala num “business case para a eficiência energética”, quando convidado a analisar os contributos de Portugal para o campo da transição sustentável. 
7 Maio 2025, 07h00

A eficiência energética consta, desde 2021, da lista de prioridades de Portugal no Plano Nacional de Energia e Clima, em linha com a estratégia da União Europeia (UE). No mundo dos negócios, destacam-se aqueles que avançam na gestão da eficiência energética, não apenas em termos ambientais, mas também financeiros.

António Lorena, head of sustainability business unit da Quadrante, fala num “business case para a eficiência energética” quando questionado pelo Jornal Económico (JE) sobre os contributos de Portugal para o campo da transição sustentável.

“No contexto empresarial, Portugal teve igualmente um enorme sucesso na promoção da eficiência energética. É um trabalho com quase quatro décadas acumuladas, com políticas contínuas e estáveis, que permitiram criar o business case para a eficiência energética e um ecossistema de empresas de serviços que possibilitam à indústria incorporar as melhores técnicas disponíveis”, explica. Para António Lorena, o “ecossistema de auditores, projetistas e instaladores é um ativo fundamental para que o país consiga manter este trajeto”.

Antes mesmo da eficiência energética, é na descarbonização do sistema elétrico nacional que o país “tipicamente se destaca”, dispondo de insuspeitas fontes de energia renováveis. “Hoje somos inegavelmente um dos países com emissões mais baixas associadas à eletricidade”, recordou o responsável da multinacional portuguesa especializada em consultoria e projeto em Engenharia, Arquitetura, Ambiente e Sustentabilidade.

“A par disto, noutras áreas, como o ciclo urbano da água, Portugal conseguiu avanços enormes em duas décadas, mas agora surgem questões de sustentabilidade financeira e de renovação dos ativos, e não deverá ser dado como certo a manutenção da qualidade da água de abastecimento ou a qualidade do saneamento”, acrescentou.

Questionado sobre o estado da arte em Portugal na agenda da transição sustentável, António Lorena afirma que o país tem tido algum sucesso no desafio da “conciliação dos objetivos da transição sustentável e o desenvolvimento de novos clusters económicos” em território nacional.

“Se, por um lado, podemos destacar positivamente áreas como a descarbonização do sistema elétrico nacional, por outro, existem outras dimensões onde Portugal não tem conseguido avançar de igual forma”, explica, ressaltando que a transição sustentável “apresenta várias dimensões”, pelo que não se pode dizer que o país apresenta “um desempenho igual em todas”.

“Existe um fluxo de investimentos relevantes em novas áreas, como data centers, química, mineração, hidrogénio e baterias, entre outros, que têm o potencial de induzir alterações estruturais no perfil económico do país. Contudo, nem sempre o país vive bem com estes investimentos. Diria que existe um certo sentimento de desconfiança que temos de ser capazes de ultrapassar, sem atropelar as legítimas cautelas ambientais e sociais”, analisou.

E sobre essa mesma desconfiança, acrescenta António Lorena, “é menos visível em países habituados a lidar com setores como a mineração ou a indústria pesada”. “Mesmo em Portugal, observamos diferenças entre as regiões. Isto tem, naturalmente, consequências, mas enquanto país podemos coletivamente concluir que estamos menos disponíveis para apostar estrategicamente no desenvolvimento económico nacional através do investimento em setores industriais cruciais à competitividade do país e que, numa lógica de médio a longo prazo, possam trazer um contributo importante na jornada de transição sustentável do país”, analisou.

Por fim, que indústrias são mais permeáveis à mudança? “Os setores mais rápidos a adaptarem-se aos desafios da sustentabilidade são aqueles que conseguem facilmente conciliar o desempenho ambiental e social com o económico”, respondeu António Lorena, justificando a conclusão com a experiência de estreita colaboração da Quadrante, no mercado há 27 anos, com a indústria.

“Os setores mais intensivos no uso de energia ou materiais percebem como as melhorias incrementais representam uma mais-valia económica. Por exemplo, os produtos de construção, a produção de embalagens e os têxteis, para se manterem competitivos, têm de percorrer este caminho. Contudo, em alguns destes setores, não estão capitalizados, e isso impede uma transição mais rápida”, explicou.

No ano passado, a Quadrante participou em mais de 500 projetos nos 13 mercados em que está presente, incluindo Portugal, onde está envolvida no plano de descarbonização da Ana Aeroportos.

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