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Nova sede do BdP: “Foi uma decisão coletiva e não uma decisão do Governador”, diz Centeno

“Nós estivemos um ano e meio a trabalhar neste projeto particular, desde o final de 2023. Largas dezenas de pessoas trabalharam neste projeto, dentro e fora do banco. É uma decisão coletiva e não uma decisão do Governador”, disse.
25 Julho 2025, 21h36

O Governador do Banco de Portugal Mário Centeno foi entrevistado pela RTP, esta sexta-feira, para esclarecer o negócio em torno da nova sede do Banco de Portugal, que vai ser construída nos terrenos da antiga Feira Popular.

Segundo Mário Centeno a decisão foi “coletiva” e envolveu um ano e meio de trabalho no projeto.

“O banco tem quase 180 anos de história e o banco não é o seu Governador. O banco tem décadas de espera por este investimento. É um investimento, não é um custo”, disse o Governador do Banco de Portugal cujo mandato acabou mas fica até setembro.

Passaram oito governadores e vinte e dois ministros das Finanças até conseguirmos hoje chegar a este ponto”, sublinhou Mário Centeno que assegurou que “é com enorme ansiedade e expectativa que o banco vê este passo”, reforçando que o banco “segue sempre as melhores práticas”.

“É muito importante respeitá-lo (contrato para a compra da nova sede), o banco segue sempre as melhores prática, o banco tem rigor financeiro em todas as suas decisões”, referiu.

“Estamos a falar de um contrato entre o banco central e a maior seguradora portuguesa. A maioria dos portugueses tem ou teve em algum momento um contrato com a Fidelidade. Eu acho muito leviano que se levantem dúvidas sobre estas relações contratuais feitas pelo banco central”, disse Centeno.

“O conselho de administração assim o decidiu. É um projeto [nova sede] com mais de 50 anos”, referiu.

Mário Centeno disse que “era uma expectativa do banco de décadas de termos novas instalações onde pudéssemos estar todos juntos”.

“O banco olhou para mais de 20 localizações possíveis em Lisboa”, explicou o Governador do Banco de Portugal.

“O projeto da nova sede é muito importante”, disse.

“Vamos poupar 10 milhões de euros por ano em rendas com esta operação”, sublinhou.

Mário Centeno justificou assim a decisão do conselho de administração do Banco de Portugal (BdP) de celebrar o contrato de compra e venda do futuro edifício com a Fidelidade em maio, quando já estava em fim de mandato. O Governador explicou que o BdP esteve desde finais de 2023, “um ano e meio”, a trabalhar no projeto, num trabalho que envolveu “largas dezenas de pessoas”, de “dentro e fora do banco, com os melhores assessores jurídicos, técnicos, engenheiros que existem no país”.

“Nós estivemos um ano e meio a trabalhar neste projeto particular, desde o final de 2023. Largas dezenas de pessoas trabalharam neste projeto, dentro e fora do banco. É uma decisão coletiva e não uma decisão do Governador”, referiu.

O Governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, disse ainda, esta sexta-feira, que o Ministério das Finanças conhece “todas as informações” sobre a compra das novas instalações da instituição em Lisboa, incluindo o contrato promessa de compra e venda, os alertas e as avaliações, e considerou “muito leviano” o leque de dúvidas levantadas. “Não chegou nenhuma pergunta do Ministério das Finanças”, disse Centeno.

“Tínhamos duas avaliações e o banco seguiu a de menor valor”, sublinhou.

Sobre a notícia do Observador que referiu que apesar do Banco de Portugal ter anunciado um investimento de 192 milhões na nova sede, custo total deverá ultrapassar os 235 milhões de euros, Centeno explicou que o que foi divulgado “foram os compromissos que o Banco de Portugal assumiu. Depois há naturalmente que dotar este edifício moderno das condições para que possa albergar os 1.300 postos de trabalho que o banco tem em Lisboa, e esse trabalho ainda não foi feito e não há estimativas que se possam divulgar sobre esse valor”.

O Observador revelou que existiram alguns alertas de consultores sobre o projeto, quanto à sua localização, licenciamentos, avaliações de impacto ambiental. Mário Centeno disse que não ignorou esses alertas, “pelo contrário, transpô-los para o contrato de promessa de compra e venda, acautelando os direitos do banco”, acrescentando que “a parte dos alertas que ainda não tinha sido clarificada ou resolvida, se não o tiver sido no momento da assinatura do contrato, o banco pode sair do contrato sendo reembolsado do dinheiro e do custo de financiamento dessas verbas”.

O Ministério das Finanças pediu uma auditoria à Inspeção Geral de Finanças (IGF) sobre o processo de construção do novo edifício do Banco de Portugal. Sobre isto Mário Centeno lembrou que “há pareceres de 2019, no Banco de Portugal, que contraditam essa possibilidade”, referindo-se a pronuncias passadas do BCE a condenar a intromissão de órgãos como a IGF no banco central. Em 2019, o BCE opôs-se à fiscalização do Banco de Portugal, dizendo na altura que a IGF não é independente do ministro das Finanças.

“Há um Conselho de Auditoria no banco que é nomeado pelo Ministério das Finanças e que é o ponto de ligação entre o acionista e o banco”, disse Centeno.

Sobre as notícias de recondução do chefe de gabinete e de indicação de Rita Poiares (mulher de Ricardo Mourinho Félix) para diretora-adjunta do gabinete de estatística, à última da hora, Mário Centeno respondeu que ambos têm carreiras muito longas e “absolutamente exemplares” na instituição, e “não merecem este tipo de referência”.

“Para entrar no Banco de Portugal não se pode ter média de 10 é preciso ter um nível académico muito elevado”, disse  criticando “quem deu essas notícias”.

O ainda governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, disse ainda, esta sexta-feira à RTP, que respeita a decisão do Governo em não o reconduzir no BdP e que “não há desilusão” na saída.

Mas realçou “a minha independência não pode ser posta em causa por ninguém”.

Mário Centeno deu a primeira entrevista após o Governo de Luís Montenegro ter anunciado que Álvaro Santos Pereira será o novo governador do Banco de Portugal. Sobre esta nomeação Centeno desejou “as maiores felicidades” a Álvaro Santos Pereira.

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