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Novo Banco com prejuízos de 179 milhões em tempo de pandemia, agrava 92,3%

Os resultados do Novo Banco no 1º trimestre de 2020 foram condicionados por um agravamento do custo do risco de crédito, tendo as imparidades sido reforçadas adicionalmente em 69,7 milhões, sendo que o banco espera que o nível de provisionamento se mantenha elevado nos próximos trimestres. Mas também pela desvalorização dos mercados financeiros. António Ramalho destaca o aumento das receitas core em 20% em linha com o exigido por Bruxelas.
  • António Ramalho, Novo Banco
5 Junho 2020, 19h07

O Novo Banco apresentou prejuízos consolidados de 179,1 milhões de euros em março de 2020, o que se traduz num agravamento face a março de 2019 de 92,3% (quando eram de – 93,1 milhões). Em valor absoluto os prejuízos agravaram 85,9 milhões de euros à custa de imparidades “para riscos de crédito” (impacto da pandemia Covid-19) de quase 70 milhões (69,7 milhões de euros), são imparidades para perdas esperadas de crédito (equiparadas a genéricas). Mas o Novo Banco também sofreu o impacto dos mercados financeiros, porque como não vendeu a carteira de dívida pública para salvaguardar a margem financeira (que subiu 10,1% num ano), sofreu prejuízos em operações de cobertura de dívida pública no valor de 58,6 milhões de euros “fruto da estratégia de geração de margem”, refere a instituição. Mas também deve os prejuízos à desvalorização da carteira de obrigações mensurada ao valor de mercado, com os ganhos não realizados a diminuírem 61 milhões de euros.

A margem financeira subiu 10,1% para 137,4 milhões, as comissões caíram 2,4% para 70,5 milhões e com isto o produto bancário comercial subiu 5,5% face a março de 2019.

Os resultados de operações financeiras tombaram -121,5 milhões o que provocou uma queda de 46% do produto bancário para 116,4 milhões. O resultado operacional caiu -99,4%.

As imparidades para crédito agravaram 82,5% (mais 64 milhões no período). “Os aspetos mais relevantes da atividade combinada durante o 1º trimestre de 2020 prendem-se com o comportamento do produto bancário comercial que ascendeu a 207,9 milhões (+5,5% em termos homólogos), influenciado pelo crescimento na margem financeira (+10,1%), o qual mais que compensou o decréscimo nos serviços a clientes (-2,4%)”, diz o banco.

“Os resultados de operações financeiras foram negativos em -93, milhões, reflexo das perdas decorrentes da atividade recorrente (-79,6 milhões), impactadas pelos efeitos da pandemia Covid-19 e da resultante volatilidade nos mercados financeiros e de capitais no primeiro trimestre de 2020”, acrescenta a instituição.

Os custos operativos consolidados apresentam uma redução de -3,7%, situando-se em 115,8 milhões, “reflexo das melhorias concretizadas ao nível da simplificação dos processos e da otimização de estruturas com a consequente redução no número de balcões e de colaboradores, tendo os custos da atividade legacy apresentado também uma redução”.

O Novo Banco explica que o montante afeto a provisões no valor de 151,5 milhões desdobra-se em 141,7 milhões para crédito (dos quais 69,7 milhões de euros são reflexo do impacto do atual contexto da pandemia Covid-19), 7,7 milhões para outros ativos e contingências e o remanescente 2,1 milhões para títulos.  O custo do risco que no fundo mede o custo das novas imparidades foi de 211 pontos base. É um dos mais altos do mercado.

Mas o banco diz que “excluindo o reforço de imparidades reflexo da atualização da informação forward looking dos modelos IFRS 9, também conhecido por IFRS9 dinâmico, (no valor já referido de 69,7 milhões), o custo do risco foi de 107 pontos base neste trimestre.

Mas apesar dos impactos negativos da crise pandémica o banco invoca o aumento do “core banking income”, de 20,1% em linha com as exigência da DG Comp de Bruxelas, e essa subida foi resultado do aumento dos proveitos com a atividade core e com a redução dos custos operativos.

“O processo de reestruturação que temos estado a realizar de forma decidida e com sucesso, ainda que não esteja terminado, permitiu que o Novo Banco nesta crise tenha provado ser um instrumento decisivo e único no apoio às empresas e famílias portuguesas e à economia nacional”, diz em comunicado António Ramalho, CEO do Novo Banco.

O banco apresenta os resultados separando a atividade recorrente da atividade herdada do BES (Legacy).

Assim o Novo Banco recorrente teve prejuízos de 75,1 milhões (-127,8 milhões face ao período homólogo do ano anterior, devido à queda do trading de 111 milhões e do agravamento de imparidades e provisões de 32 milhões. A margem financeira do banco recorrente subiu 8,8% ou 10,3 milhões) o que ajudou a que o produto bancário comercial subisse 4,8% num ano. Aqui os custos caíram 2,3% para 113,5 milhões, graças à “transformação digital”.

O custo do risco na atividade recorrente foi de 84 pontos base o que compara com 38 pontos base no primeiro trimestre do ano passado. A pandemia veio estragar a performance do Novo Banco recorrente.

Mas o crédito a clientes (líquido) subiu no balanço recorrente 0,3% para 23.803 milhões de euros face a dezembro e de +5,3% face a março de 2019. Muito à custa do aumento do crédito a empresas.

“Os indicadores de qualidade dos ativos recorrentes tiveram uma ligeira melhoria traduzida na diminuição do rácio de NPL (crédito vencido) para 3,5%, tendo a cobertura por imparidades caído -0,4 pontos percentuais.

O Novo Banco Legacy melhorou os prejuízos de -145,8 milhões em março de 2019 para -34,2 milhões em março de 2020 (-76,5%).

A margem financeira subiu 28,5% aqui, e mesmo com uma queda das comissões de -49,2% o produto bancário comercial subiu 21,6%. O produto bancário do Legacy subiu 51,9%.

O ativo do Novo Banco Legacy caiu 184 milhões de euros, ou -4,1% face a dezembro de 2019, destacando-se a redução da carteira de crédito líquida de -127 milhões (-8,7%).  A atividade legacy não tem passivos diretamente afectos. O custo do risco de crédito é aqui de 336 pontos base, sem surpresas. O rácio de NPL é de 81,1% e a cobertura de 52,5%.

Em termos consolidados (recorrente+legacy) o rácio de NPL é de 11,1%.

Mas há pontos positivos a destacar, o Novo Banco está “bem capitalizado e apresenta sólidos níveis de liquidez, estando bem posicionado para dar suporte aos clientes de retalho e empresas”.

O banco destaca ainda o crescimento do crédito a clientes recorrente (+5,1%; 1.192 milhões de euros), com um aumento de +0,2% no trimestre (+57 milhões),” confirmando a tendência positiva já alcançada no exercício de 2019 (+5,6%; +1.303 milhões).

Destaque ainda para o aumento dos recursos de clientes de balanço (+1,5%; 434 milhões), com os depósitos a apresentarem um crescimento de 2,4% nos primeiros três meses de 2020 (+659 milhões). “O Banco continua a manter uma forte posição de liquidez através do crescimento dos recursos na atividade recorrente”, diz o NB.

A instituição salienta ainda os progressos na rentabilidade sustentável, com o incremento do produto bancário comercial recorrente que atingiu +196,7 milhões (+4,8%) e a margem financeira a evoluir +8,8% face a 31 de março de 2019.

“Os serviços a clientes apresentam-se em linha com o período homólogo totalizando 70,1 milhões (em março do ano passado eram 71,4 milhões), já refletindo os efeitos da crise no final de março”, diz o comunicado que destaca ainda o “continuado enfoque na otimização da estrutura de custos, privilegiando o investimento no negócio e na transformação Digital”.

O Novo Banco salienta a “redução dos custos operativos recorrentes em 2,3%, para 113,5 milhões e relembra a execução da estratégia de redução dos créditos não produtivos (NPL), que foram -162 milhões no trimestre para 3.268 milhões (-3 189 milhões comparativamente a março de 2019), representando um decréscimo no rácio de NPL de 11,8% em dezembro de 2019 para 11,1% em março deste ano. O rácio de NPL da atividade recorrente situou-se nos 3,5% ligeiramente abaixo dos  3,6% em dezembro.

O banco invoca ainda” a redução do ativo da atividade legacy em -4,1% (-184 milhões) com reflexo em todas as categorias de ativos”.

“A reestruturação ainda não está terminada. Mas estamos a dar a volta ao cabo da Boa Esperança. Estamos perto do turnaround que pretendemos fazer em 2020”, afirmou António Ramalho, CEO do Novo Banco, ao anunciar ontem uma redução nos prejuízos no ano passado. Mas tal como já disse, publicamente, “o orçamento [do Novo Banco] de janeiro é valido para o final do ano? A única coisa que tenho a certeza é que não vai ser cumprido da mesma forma”.

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