Ao longo de muitos anos o sucesso, ou insucesso, das empresas familiares ficou na dependência do génio, da vontade, da inspiração ou da capacidade do líder do momento.

Era assim na criação da empresa e na sua afirmação e crescimento, e era assim nos sucessivos momentos de transmissão geracional do testemunho. E foi esta dependência do acaso que construiu uma realidade frequentemente motivadora de alguns provérbios, de que o mais conhecido será porventura este: “pai rico, filho nobre, neto pobre”. Ora, a verdadeira questão que, a este propósito, se coloca hoje é se terá que continuar a ser assim. A nosso ver não tem.

A sociedade mudou muito, as empresas e as famílias também e a relação das famílias empresárias com as empresas também.

A profissionalização da gestão empresarial, as novas regras de Corporate Governance e as obrigações de diversidade de composição dos órgãos sociais, os novos conceitos de família, os novos instrumentos financeiros que permitem separar as funções accionistas e de gestão. Todo um conjunto de novas realidades que “não se dão bem” com o acaso ou com a inspiração.

Há, no entanto, ainda um caminho para fazer, sobretudo no domínio da conceptualização e formação.

Para além dos conhecimentos base de cada um e da formação essencial para gerir uma empresa, existe depois um conjunto de saberes pluridisciplinares essenciais para o bom sucesso das empresas familiares e das famílias empresárias. Perseguir permanentemente a excelência ou ter capacidade de iniciativa, orientar-se para o trabalho como chave do sucesso ou ser austero, são algumas das atitudes essenciais para o êxito das empresas familiares e não podem ser deixadas ao acaso, antes são fruto da educação e da formação.

Este é um campo em que há muito a fazer, em Portugal especialmente. E pode ser um muito interessante desafio para as nossas universidades. Ponto é que estas recuperem a sua raiz latina de universalidade, a par da ligação profunda à realidade que se pretende tratar. Fica a ideia.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.