A primeira grande campanha contra o PAN surgiu há uns meses. Haveria para aí uma organização clandestina terrível, chamada Intervenção e Resgate Animal (IRA), cujos militantes, de rostos cobertos, se dedicavam a salvar animais maltratados. Foi o horror! Felizmente, ilustres democratas, desses com carreiras feitas entre os corredores do poder e algumas discotecas essenciais aos desígnios da Nação, logo nos alertaram para a erupção do fascismo mascarado, uma espécie de maçonaria dos bichos.

Como muitas outras pessoas, não fui insensível ao drama encenado. Fui ver do que se tratava e acabei, confesso-o, em conluio com os ‘bandidos’: coloquei um perigoso ‘like’ na página de facebook do IRA, da qual sou agora visitante assíduo.

Ao dia a que escrevo, mais de 250 mil pessoas, com certeza todas com tão pouco discernimento quanto eu, fazendo perigar o Estado de Direito, ali estão ainda a dar o seu apoio ao trabalho de quem disponibiliza uma parte do seu tempo para minorar o sofrimento de alguns animais e insiste em alertar consciências para a necessidade de equilibrar as necessidades humanas com o tratamento digno de todas as outras espécies.

E, assim, enquanto tantos ‘democratas’ decretavam a morte eleitoral do PAN, que estaria por detrás do suspeito movimento porque haveria a possibilidade de por lá circular uma funcionária do dito partido, eu imediatamente intui o crescimento do apoio ao IRA e da votação no PAN – quanto mais não fosse porque o povo é falho de inteligência, como aliás comprovadamente sabem os militantes do bloco central de interesses (PS+PSD) que controla Portugal há 45 anos.

Há cerca de 15 dias, na noite das eleições europeias, que deram 5% dos votos e um deputado ao PAN, iniciou-se outra fase do delírio. Partido verde? Preocupações ambientais? Tretas! Comentadores de pontaria afinada insistiram na estigmatização do “partido animalista”, que ainda por aí anda em exibição.

O tecido partidário português tem esta dinâmica. Nunca dá as boas vindas a quem apareça a disputar terreno. Visto de dentro, 230 deputados, uma dúzia de ministros mais os correlativos secretários e a pequena multidão de assessores e outros velhos servidores do Estado constituem uma reserva pequena demais para ser dividida com novos movimentos.

Que fique claro: não conheço nenhum dirigente do PAN. As únicas informações que tenho sobre o partido são aquelas que estão disponíveis ‘on line’ para toda a gente.

A minha simpatia pelo PAN radica em questões de higiene partidária. Acredito que Portugal tem muito a ganhar com a fragmentação do terreno dos chamados partidos ‘generalistas’ – e, sobretudo, com a diminuição do peso do bloco central.

As eleições europeias mostraram que há boas ideias e gente melhor preparada a correr por fora do sistema. Um europeísta convicto, como eu, só afasta os extremos militantes que querem a extinção da União e não a sua reforma. Gosto do PAN como gosto do Livre ou da simplicidade do discurso liberal, seja em tons de de esquerda ou de direita. Sou militante da pluralidade. Acredito que o governo será melhor se for representativo de mais pessoas, de ideias complementares, de interesses negociados às claras, que terá maior eficácia se alargar a base de apoio e for melhor escrutinado pela cidadania. Governos de um só partido são vespeiros de interesses. Como estamos em Portugal não preciso, infelizmente, de explicar a afirmação. E faço outra: a forma como se debate o PAN mostra o imobilismo do sistema. E como este não quer nem alterações nem novidades.