Artigo originalmente publicado no caderno NOVO Economia de 2 de setembro, com a edição impressa do Semanário NOVO.
Pedro Brinca
Economista e professor universitário
Independentemente das causas, os valores da inflação na zona euro ainda se encontram em níveis bastante elevados e ainda distantes do objetivo dos 2%. E isto é tão ou mais preocupante porque algumas das condições restritivas que terão levado a um abrandamento da inflação – nomeadamente a quebra dos salários reais – inverteram-se em 2023 e observamos agora os salários a crescerem mais rápido que os preços. Observamos políticas orçamentais expansionistas por toda a zona euro que têm o potencial de agravar ainda mais o problema. Terá sido esta análise que terá estado por detrás das palavras proferidas por Christine Lagarde na conferência de junho, em Sintra, e que avisaram para uma necessidade potencial de subir mais as taxas de juro e por mais tempo, apelando aos governos da zona euro para terem uma atitude mais prudente na gestão dos apoios orçamentais por via da crise da inflação. Neste contexto, perante o perigo de que as expetativas possam desancorar do objetivo dos 2% a médio prazo e que, por essa via, possamos perder o controlo da inflação, é expetável que o BCE suba ainda mais a taxa de juro de referência na reunião de 14 de setembro e que a esperança de que seja este o último aumento ou de que as taxas pudessem inclusive inverter a dinâmica e começassem a descer em fevereiro tenha de ser revista.
Paulo Rosa
Economista sénior do Banco Carregosa
Christine Lagarde deverá endurecer o discurso com os dados mais recentes da inflação, mas o mercado continua a não antecipar mexidas – depois de nove reuniões consecutivas com subidas de taxas, continua a esperar que o BCE pause a subida de juros e mantenha um “esperar para ver” se estes juros já quebram esta inflação. Se a inflação em setembro tiver um comportamento como agora, de manutenção ou até mesmo de aceleração, em vez de desacelerar, duvido que na reunião seguinte o BCE não suba taxas. Há um risco de uma segunda vaga da inflação: se os preços do petróleo subirem, com os estímulos na China (que, aliás, foram quando o preço do petróleo começou a escalar), não podemos pôr de lado novas subidas. E com a economia em estagnação, volta a estar em cima da mesa um cenário de estagflação, como se temeu no final do ano passado. Aproximando-nos do inverno, o frio determinará as necessidades de gás natural para climatização, o que pode voltar a influenciar os preços e obrigar o BCE a novas medidas.
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