A transição energética está cada vez mais dependente da mudança de comportamentos por parte dos consumidores. De acordo com o estudo global EY Energy Transition Consumer Insights (21 países, mais de cem mil consumidores), 70% dos benefícios da transição energética estão relacionados com a forma como a energia é consumida, mas apenas 30% dos consumidores estão verdadeiramente envolvidos nesta mudança, com disponibilidade para dedicarem mais tempo e dinheiro para mudarem os seus hábitos de consumo.

O estudo revela que, apesar do crescente interesse em adotar comportamentos mais sustentáveis, a confiança dos consumidores está em declínio. A confiança desempenha um papel crucial, sendo um indicador do sentimento do consumidor que permite antecipar comportamentos, consumidores confiantes tendem a estar mais seguros e a investir mais.

Nos últimos anos, tem-se verificado uma forte aceleração do investimento em novas tecnologias de energia renovável e infraestruturas (lado da oferta), no entanto é urgente investir mais no envolvimento dos consumidores, o lado da procura, para que a transição seja bem sucedida.

Principais conclusões do estudo em Portugal (mais de 2000 inquiridos):

1- Os resultados revelam uma significativa “apatia energética” dado que cerca de três quartos dos consumidores afirmam terem feito o máximo possível para serem mais sustentáveis, com 42% do total a não saberem que ações e investimentos devem fazer. Para 79% dos consumidores é da responsabilidade do seu fornecedor de energia oferecer alternativas sustentáveis.

2- Para a maioria dos entrevistados, o preço é a principal razão por trás da resistência em fazer mais. Para 88% dos inquiridos, a energia é uma despesa orçamentada do agregado familiar e 67% dizem não poder absorver um aumento na fatura de 10%. Os consumidores estão a sentir o impacto do aumento dos preços e cerca de 19% encontra-se numa situação de pobreza energética com mais de 10% da sua remuneração gasta em eletricidade e gás.

3- Os consumidores continuam interessados em novos produtos e serviços energéticos, como energia solar e veículos elétricos, mas dois terços dizem que não conseguem ou não têm capacidade para investir nestas soluções nos próximos três anos.

4- Quando questionados sobre quais os principais investimentos que planeiam fazer no curto prazo, o foco vai para: melhorias no isolamento das suas casas, aquisição de eletrodomésticos mais eficientes, aquecimento de água elétrico, aquisição de veículos elétricos. Apenas 11% classificam bombas de calor no topo das suas prioridades imediatas.

5- As gerações Z e Millennials revelam maior interesse em alternativas sustentáveis e demonstram procurar fornededores de energia que combinem ofertas de energia low-cost com novos produtos sustentáveis (solar, baterias, bombas de calor e soluções de carregamento de veículos elétricos) bem como outros serviços de valor acrescentado para as suas casas.

6- Segundo o Índice de Confiança do Consumidor de Energia da EY, está a emergir uma transição energética a dois níveis em Portugal. Os consumidores que podem pagar por novas soluções estão a capturar os benefícios das mesmas, enquanto aqueles que não podem investir ficam de fora. A confiança num sistema energético justo e equitativo também caiu para níveis preocupantes dado que apenas 23% confiam que a transição energética é equitativa.

Os resultados deste estudo mostram que os consumidores estão a enfrentar desafios significativos na transição energética, ao mesmo tempo que procuram equilibrar as suas prioridades económicas, ambientais e com preocupações relacionadas com equidade no acesso a novas soluções. Se queremos alcançar os objetivos de descarbonização e transição para uma energia mais limpa, é essencial compreender e abordar as preocupações e necessidades dos consumidores. Afinal, são eles que têm o poder de moldar o futuro energético global.