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O coronavirus é grave para Portugal? O médico Ricardo Mexia diz que não e tranquiliza os portugueses

O médico Ricardo Mexia explicou na SEDES, em Lisboa, que em Portugal não há razão para alarme por causa do coronavirus. O presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública considera que há é uma “epidemia de informação” e que a letalidade do coronavirus é, por exemplo, muito inferior à da gripe espanhola.
Ricardo Mexia na SEDES
Ricardo Mexia na SEDES
10 Fevereiro 2020, 23h39

A pandemia chegou ao nosso país? “A Organização Mundial de Saúde (OMS) diz que não”. Eis a resposta dada esta segunda-feira, 10 de fevereiro, pelo médico Ricardo Mexia, na Associação para o Desenvolvimento Económico e Social (SEDES), em Lisboa. “Além dos problemas enfrentados na China com esta doença – as situações mais graves concentram-se na zona da Wuhan –, por isso o que existe verdadeiramente neste momento a nível internacional é uma epidemia de informação, uma ‘infodemia’, que leva a situações tão absurdas como a redução de vendas de cerveja na marca Corona, ou a teorias da conspiração que sugerem que o vírus apareceu na zona onde estão os laboratórios de Wuhan, o que faz com que boa parte dos impactos deste problema sejam de ordem económica”, comenta Ricardo Mexia.

Foi mais um “Fim de tarde na SEDES com quem sabe”, desta feita a debater o tema “Coronavirus e o impacto na sociedade”, com a participação de Ricardo Mexia, presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública (www.anmsp.pt), e de Peter Villax, presidente da Associação Portuguesa de Empresas Familiares, membro do Conselho de Administração e da Direcção da Health Cluster Portugal, presidente da Comissão de Propriedade Intelectual da Associação Comercial de Lisboa/CCI, vice-presidente da Farma e Inovação e membro do Conselho de Administração da Hovione.

Ricardo Mexia explicou que a associação de médicos internos de saúde pública é composta por 250 profissionais de Medicina e funciona como uma “comunidade científica” que, no caso do coronavírus, tem acompanhado a sua evolução – um vírus designado cientificamente como “2019 – nCov” –, bem como a respetiva cadeia de transmissão em mais de um continente, o que permite caraterizar esta doença como uma pandemia.

Originada num vírus que foi transmitido do animal para o homem, passando eventualmente do morcego, através de um intermediário que terá sido o pangolim, até chegar ao homem, o “nCov” provoca uma patologia respiratória, com sintomas de tosse, febre e dificuldade respiratória, o que corresponde a um quadro de doença com sintomas que se podem confundir com uma gripe lenta.

A comunidade médica internacional já enfrentou outras patologias semelhantes, como em 2003/2004 a SARS (a Síndrome Respiratória Aguda Grave) que também surgiu na China, no final de 2002, ou posteriormente a MERS (a Síndrome Respiratória do Médio Oriente) cujo vírus foi detetado na Jordânia e na Arábia Saudita em 2012.

No caso do MERS, embora tenha ficado maioritariamente restringido à zona da península arábica, até ao começo de 2018 houve 2.220 casos confirmados, que provocaram 790 mortes. A maioria das mortes foi registada na Arábia Saudita, mas depois da fase mais crítica voltaram a ser detetados novos casos. Também houve situações de coronavírus da MERS em geografias fora do Oriente Médio, contando-se entre os países afetados a Tunísia, o Reino Unido, França, Alemanha e Itália, sobretudo em pessoas que viajaram ou trabalharam no Oriente Médio.

Um novo surto de MERS por coronavírus foi registado na Coreia do Sul, entre maio e julho de 2015, com mais de 180 casos e 36 mortes. No caso da MERS, as situações mais graves foram registadas no Egito, Omã, Qatar e Arábia Saudita, onde os camelos (dromedários) podem ter sido a fonte primária de infeção das pessoas. No entanto, a comunidade científica não determinou com rigor a forma como o vírus passou dos camelos para as pessoas, sendo mais vulneráveis em homens idosos, em doentes diabéticos ou com doenças crónicas renais. Esta reincidência dos coronavírus coloca o receio de poder haver repetição destas doenças nos anos vindouros, embora seja difícil ter certezas a este respeito.

Ricardo Mexia explicou que o contágio dos coronavírus é geralmente feito por doentes com tosse, que projetam no ar as gotículas expelidas pela tosse, ou por espirros de quem está infetado com o vírus. No coronavírus oriundo da China, na região de Wuhan, localizada na Província de Hubei, os sintomas costumam surgir num intervalo de catorze dias, manifestando-se de forma lenta e gradual, ao contrário da gripe tradicional que tem um desenvolvimento muito rápido, com sintomas imediatos de febre, frio, dores musculares e mal-estar geral.

O médico esclareceu que até às 16h00 de segunda-feira, 10 de fevereiro, Ricardo Mexia o novo coronavírus de Wuhan já causou 910 mortes e infetou mais de 40 mil pessoas, sendo “uma doença essencialmente concentrada na Província chinesa de Hubei”, admitindo-se que “os casos transmitidos para fora da China são comparativamente residuais”. Contudo, o número de doentes não deverá parar, prevendo-se aumentos nas próximas duas semanas, sobretudo devido ao efeito do fim das férias na China, prolongadas pelas comemorações das festividades do Ano Novo Lunar chinês.

Comparando com a severidade de outros vírus, este coronavírus – segundo Ricardo Mexia –, é menos agressivo e menos letal (o seu grau de mortalidade ronda os 2% de casos infetados), o que fica francamente abaixo das taxas de mortalidade provocadas pelo SARS (de 10%), da grips espanhola (também com 10%), da varíola (com 30%), do Ebola (com 50%) ou da gripe aviária (que chegou aos 60%), segundo dados médicos internacionais.

Com o desenvolvimento do conhecimento médico sobre este coronavírus, Ricardo Mexia considera que a capacidade de diagnóstico melhore muito rapidamente e que haja utilização de mais eficazes meios de combate a este surto. “Em Portugal a situação não constitui qualquer problema porque os dois casos em vigilância esperavam resultados laboratoriais do Instituto Ricardo Jorge”, adiantou, esclarecendo que “as 20 pessoas que ficaram em quarentena não são doentes e apenas foram submetidas a isolamento voluntário que terminará no próximo domingo – aliás, se quisessem poderiam ter feito a quarentena no seu domicílio”.

Relativamente às recomendações a seguir pela população em geral, Ricardo Mexia recordou as boas práticas de higiene, como lavar as mãos diversas vezes por dia, ou usar máscaras em zonas com grandes concentrações de pessoas, esclarecendo igualmente que “não há restrições a viagens”, apenas cuidados reforçados relativamente a pessoas que vieram de países asiáticos.

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