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“O Daesh ainda não chegou ao fim”

Christopher Ghika, vice-comandante das forças internacionais conjuntas, afirma que a capacidade de transformação do Daesh é uma das suas piores facetas. E recorda que ninguém sabe onde está al-Baghdadi, o líder do movimento.
31 Março 2019, 14h00

Apesar da vitória militar da coligação internacional sobre as forças do Daesh, a ameaça que o autoproclamado Estado Islâmico exercia sobre o resto do mundo ainda não foi apagada, dada a sua capacidade de adaptação às adversidades que, no terreno, lhe foram impostas.

O Major-General Christopher Ghika, Vice-Comandante de Estratégia e Informação da Força Conjunta da Operação Inherent Resolve, profundo conhecedor do terreno, afirma que, apesar de todos os claros sinais do fim do controlo territorial, esse facto “não é o fim da ameaça do Daesh ou da campanha militar contra eles, que continuará. O Daesh continua a representar uma ameaça tanto para o Iraque e para a Síria, como também para a região e o mundo. Eles adaptaram-se, e estão a tentar transformar-se num movimento subterrâneo”.

Em conferência de imprensa a um grupo restrito de jornais europeus – de que o Jornal Económico faz parte – a Christipher Ghika diz que o Daesh está agora numa fase de “tentar realizar ataques direcionados, com o objetivo de desestabilizar áreas do Iraque e da Síria, e é por isso que a coligação internacional está empenhada em apoiar a Força de Segurança do Iraque e as forças sírias para impedir o seu ressurgimento”.

O próximo passo dos seus membros está identificado: “eles vão tentar transformar-se numa organização clandestina, que usará táticas do tipo insurgente para atacar as forças estabilizadoras do Estado na Síria, para minar os esforços de reconstrução e estabilidade e para atacar a população”.

“Pode-se derrotar uma força militar, mas derrotar a narrativa é mais difícil. A forma como essa narrativa é transmitida, pela internet, é um desafio”, refere o militar. Como também é a forma como os países de origem devem lidar com os seus cidadãos que quiseram aderir ao Daesh. “Aqueles que cometeram crimes, aqueles que foram membros do Daesh, devem ser responsabilizados pela lei dos governos nacionais soberanos desses indivíduos”.

Apesar disso, diz ainda o militar, “no longo prazo precisamos de encontrar um consenso internacional sobre um processo que responsabilize aqueles que são membros da Daesh ou que os ajudaram. Isso pode ser feiro na região”. “Sabemos que vários combatentes iraquianos querem voltar ao Iraque; suspeito que alguns tentam voltar para a Síria”.

Estes refugiados são ainda “provavelmente são alguns milhares, mas é difícil dizer”, como também é difícil dizer para onde estão, ou onde sequer está Abu Bakr al-Baghdadi, o líder do movimento: “receio não saber onde ele está. Se soubesse, faríamos alguma coisa sobre isso. Mas acho que é importante perceber que ele é cada vez menos relevante: teve o seu momento em 2014 e acreditamos que ele é atualmente um membro do Daesh como qualquer outro”.

Definido que os Estados Unidos e a coligação internacional não vão, para já, abandonar o terreno na Síria – ao contrário do que chegou a ser dito pelo presidente Donald Trump, Christopher Ghika considera que “a intenção dos Estados é a manter uma força no nordeste da Síria, que pode ajudar na prevenção do ressurgimento do Daesh”.

A batalha contra o autoproclamado Estado Islâmico está, por isso, ainda longe do fim. E o mais provável é que o mimetismo das iniciativas dos seus componentes venha a afetar novamente os territórios do Ocidente – Europa incluída. Para o Major-General, baixar a guarda seria em qualquer circunstância uma péssima opção.

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