1. Na política social do Governo o tema da habitação deveria ser prioritário desde sempre e não apenas durante o período eleitoral e com a chegada dos dinheiros da “bazuca” europeia.

Os recentes números do Relatório Anual de Arrendamento de Quartos da plataforma Idealista mostram o evidente e o inevitável. Falam de percentagens de oferta de quartos e de descida de valores mensais de rendas. Mas, se se olhar ao detalhe, verifica-se que a média de preço por um quarto em Lisboa anda nos 356 euros mensais, que é mais de metade do salário mínimo nacional.

Mais. Os recentes números da 7ª edição do concurso do Programa Renda Acessível da Câmara Municipal de Lisboa mostram outra realidade confrangedora. Das mais de cinco mil candidaturas, apenas ficaram satisfeitos 116 pedidos para casas, ou seja, 2,3% do total! E as ofertas de habitação estão concentradas em Alvalade, Santa Maria Maior e Lumiar, as zonas com preços mais em conta nas rendas.

Depois de anos com planos de habitação, com congelamento de rendas transferindo para os senhorios o ónus social de promover habitação, tudo continua na mesma. E quem está no terreno à procura de casa sabe que é quase impossível encontrar algo dentro dos 500/600 euros de renda e com condições minimamente dignas. Para médias salariais que não chegam aos mil euros, a habitação tornou-se o grande drama dos portugueses com poucos recursos financeiros.

O próprio turismo serviu em tempos de desculpa para a inexistência de habitação em Lisboa mas, na realidade, não são apenas os locais históricos e centrais que estão inacessíveis, também a habitação a 20, 30 ou 50 quilómetros de distância de Lisboa está cara.

A arma do Orçamento do Estado e dos benefícios fiscais para contratos de arrendamento de longo prazo não está a funcionar porque é difícil resolver o caso de um inquilino incumpridor ou de um inquilino destruidor.

A opção pelos quartos tem-se, assim, revelado uma hipótese de curto prazo. A redução das aulas presenciais a estudantes fora da cidade de Lisboa libertou quartos que foram sendo ocupados por jovens e não jovens que não conseguem arrendar e não têm condições para a compra.

Também aqui a opção é difícil para quem não tem poupanças iniciais para a entrada, ou não tem familiares que ajudem, ou ainda para quem não tem um emprego estável e razoavelmente remunerado.

A sociedade portuguesa é cada vez menos inclusiva naquilo que são as necessidades básicas e dispersa-se a discutir o “sexo dos anjos”. As edilidades que fazem fronteira com Lisboa vão ajudando de forma mínima com o pagamento de contas de água ou eletricidade, mas são incapazes de, elas próprias, gerarem oferta que permita que apenas um terço dos rendimentos seja alocado à habitação.

Isto significa que as edilidades teriam de fazer grandes sacrifícios, porque os portugueses necessitados têm o ordenado mínimo nacional como única fonte de rendimento. Estamos pois a gerar desenraizados sociais que são alvo de especuladores ou gente sem escrúpulos que vai viver do mercado paralelo.

A inexistência de habitação está a deixar muitas famílias com a vida na franja da legalidade. O Governo insiste em anúncios de marketing, sem perceber que o jogo da promessa não pode funcionar na habitação.

2. Parabéns ao grande atleta Cristiano Ronaldo pelo triunfo no último jogo da Seleção e por mais um recorde. Mas fica um alerta: a Seleção não pode continuar como está. Algo terá de mudar.