Recém-chegado de uma viagem à Arábia Saudita, Emirados Árabes do Dubai e Abu Dhabi, pude constatar alguns motivos pelos quais Paris ou Londres já não são na Europa. As transformações estruturais que ocorrem nestes países estão a deslocalizar os centros de poder financeiro, não para o Oriente, como há uns anos se poderia esperar, pelo efeito demográfico, mas para o Médio Oriente.

Estrategicamente posicionados, entre 8h de viagem para a Ásia ou para a Europa, estes países estão a criar um hub que vai desafiar o centro de gravidade das decisões mundiais. Não seria expectável, pelo menos para mim, que com a instabilidade contínua nesta região, pudéssemos assistir à construção de megacidades que conseguem atrair todo o tipo de imigração.

Efetivamente, o Médio Oriente beneficia da mão de obra a um custo mais reduzido, mas com experiência, da Índia e do Paquistão, e também da imigração europeia ou americana com elevado valor acrescentado, que vê aqui oportunidades de crescimento e é atraída pela fiscalidade reduzida, quer ao nível das empresas, quer ao nível pessoal.

Se adicionarmos ao fator trabalho, o fator do custo de energia, também ele mais reduzido, então temos países que conseguem oferecer habitação a custos mais acessíveis do que nas cidades europeias, e oferecer um nível de vida superior.

À medida que as barreiras à deslocalização física e virtual se reduziram, a movimentação do PIB ou da riqueza também ficou mais fácil. Estes países conseguem, através da inovação e da promessa de um estilo de vida mias descontraído, criar um interesse único nos mais jovens. Com efeito, assistimos a uma emigração de europeus com elevado valor acrescentado, naquela que é uma perda de valor para o Continente, que fica cada vez mais fragilizado.

Aliás, o resultado das diversas eleições na Europa, e Portugal foi o último caso, evidenciam uma insatisfação crescente face à classe política, que ignora consistentemente os problemas da sociedade e adia a implementação de soluções em prol de um futuro melhor.

Enquanto isso, outros blocos económicos tiram partido desta inabilidade, drenando os recursos tangíveis e intangíveis da Europa. Até porque os problemas afetam a sociedade de uma forma transversal, desde a saúde, educação e justiça, ao excesso de tributação e, em particular a burocracia.

A burocracia, muito ligada à corrupção, tem sido um dos grandes problemas que leva os investidores a cansarem-se e a desistirem de um continente que tem tudo para oferecer. Mas o problema da Europa ainda vai agravar-se mais com as eleições nos EUA.

A impreparação para lidar com um mundo mais instável e incerto pode ditar mesmo uma mudança irreparável.