O surto do coronavírus, que a todos afeta, em Portugal e no mundo, é um grave problema de saúde pública que, pela sua dimensão global e perigosidade, nos levou ao isolamento social, com efeitos dramáticos no planeta, e paralisou de forma imediata a nossa economia.

Com mais de dois milhões e oitocentos mil infetados e duzentos mil mortos, e em Portugal a caminhar para os mil mortos e os 23 mil atingidos, esta pandemia já provocou gigantescas dificuldades de liquidez e de cumprimento de obrigações financeiras no tecido empresarial português, composto por micro, pequenas e médias empresas. O governo português, à semelhança de todos os outros, reagiu, apresentando variadas medidas de auxílio à economia e às empresas e de apoio às famílias.

Se ao Estado, os apoios para apoiar a saúde e a economia foram, para já, os anunciados pelo Eurogrupo e passam por um pacote de empréstimos reembolsáveis, superior no caso português a 5 mil milhões de euros para fazer face à pandemia da Covid-19, os apoios do Estado à economia real têm resultado apenas pela via da Segurança Social na disponibilização de lay-off (pressão do orçamento não do Estado, mas sim de todos nós, através da Segurança Social) e, em larga maioria, por medidas financeiras pela via da banca nacional como parceiro estratégico, através de pedidos de moratórias dos créditos existentes (famílias e empresas) e da criação de novas linhas de crédito reembolsável, com contragarantia pública parcial do Estado, no valor total de 6,2 mil milhões de euros.

Pois aqui reside o maior dos problemas: quem necessitar capital para reforço de tesouraria ou quem precisar de reduzir os seus encargos bancários mensais com serviços bancários (moratórias), só tem uma alternativa: recorrer à banca. Os tempos exigem, pois, com nervos de aço, cabeça fria e coração quente, principalmente dos nossos banqueiros, a aplicação de soluções e medidas que permitam mitigar os impactos económicos e sociais da atual situação de crise e emergência social.

Os nossos bancos, hoje mais robustos e capitalizados, terão assim doravante um papel adicional e crucial ao tentarem aguentar a nossa economia e contribuir para a sua recuperação no período pós covid-19, para que esta continue a gerar valor, riqueza nacional e emprego. Terão de ter um forte empenho e relevante contributo para fazer face aos desafios e impactos provocados por esta pandemia. Sabemos que a banca tem tomado iniciativas próprias, como a disponibilização adicional sem custos de meios de pagamento e de transações financeiras, mas é inegável que terá que assumir um papel central de farol da economia e das nossas famílias que se endividaram para adquirir habitações ou outros bens inerentes ao credito ao consumo.

Mas o que estão os bancos a fazer para apoiar os efeitos desta epidemia, sendo que os próprios não estarão imunes no futuro aos efeitos desta crise? Para além de atribuir moratórias a milhões de empréstimos e conceder novos créditos que todos teremos, no futuro, de pagar, o seu papel absolutamente fundamental, passa por atenuar as dificuldades do presente e apoiar a recuperação que aí terá de vir. Nós, portugueses, contamos com a coragem e a necessária dedicação à causa pública de quem garante o funcionamento do sistema financeiro português.

Mas sejamos claros neste ponto: os bancos não poderão atribuir todos os montantes que lhes forem solicitados, pela simples razão de que a garantia do Estado é só parcial (e não cobre a totalidade do capital emprestado) e os bancos,  como não estão imunes, terão que assegurar que a atribuição de novos créditos (e não dádivas), em altura de risco, possa resultar em deterioração das suas situações de prudencial de estabilidade financeira.

Nunca como agora, Portugal está tão dependente da sua banca. E esta, neste terrível contexto em que lutamos pela sobrevivência coletiva contra um inimigo comum, tem de estar ao lado dos cidadãos e das empresas, dando o seu contributo nacional e com todo o sentido de responsabilidade social. Como um farol, a evitar que os portugueses fiquem à deriva e se tornem náufragos no mar salgado de Camões, feito de lágrimas de Portugal.