Quando olhamos para os mapas desenhados na Antiguidade e na Idade Média, ou para registos iconográficos com milénios, ficamos maravilhados com a representação de seres que, hoje, não temos dúvidas em classificar de imaginários, como, por exemplo, o grifo, metade águia e metade leão, presente no Egito ou em Persépolis.
O mesmo acontece quando lemos histórias escritas há muito, onde surgem criaturas tão extraordinárias como o génio da lâmpada de “As Mil e Uma Noites”, ou os elfos, oriundos de geografias e culturas mais próximas das nossas.
Num tom lúdico e bem-humorado, o argentino Jorge Luis Borges, elenca algumas das mais fantásticas criações da imaginação humana, capaz de inventar sereias, unicórnios ou dragões. “O Livro dos Seres Imaginários”, editado pela Quetzal, é uma das obras mais originais e fascinantes do autor, uma reinvenção do mundo construída a partir de um bestiário moderno.
Neste livro, Borges traça um catálogo de 116 seres fantásticos que povoaram a mitologia e a religião desde o início dos tempos. Alguns, como o golem, a esfinge e o centauro, são filhos da metafísica ou da literatura; outros, como os gnomos e fadas, são o resultado da invenção humana.
Seguindo as evocações dos clássicos, bebendo em Heródoto, Aristóteles e Plínio, mas também nas revelações dos místicos e nos sonhos de escritores e poetas, Borges dá vida a velhas histórias esquecidas e mostra que, apesar da disparidade na origem e nas formas desses estranhos seres, todos eles vêm da mesma imaginação humana, de desejos e medos semelhantes.
Jorge Luis Borges nasceu em Buenos Aires, em 1899. Em 1914 viajou com a família pela Europa, acabando por se instalar em Bruxelas, e posteriormente em Maiorca, Sevilha e Madrid. Regressado a Buenos Aires, em 1921, Borges começou a participar ativamente na vida cultural argentina. Em 1923, publicou o seu primeiro livro – “Fervor de Buenos Aires” –, mas o reconhecimento internacional só chegou em 1961, com o Prémio Formentor, a que se seguiram inúmeros outros.
A par da poesia, Borges escreveu ficção, crítica e ensaio, géneros que praticou com grande originalidade e lucidez. A sua obra é como o labirinto de uma enorme biblioteca, uma construção fantástica e metafísica que cruza todos os saberes e os grandes temas universais. Foi professor de literatura e dirigiu a Biblioteca Nacional de Buenos Aires entre 1955 e 1973. Morreu em Genebra, em junho de 1986.
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