Hoje em dia não é possível ler uma notícia online sem observar as movimentações que se passam na caixa de comentários. Encontram-se verdadeiras pérolas, heróis do teclado, desesperados e eloquentes. Descobrem-se comportamentos que apenas o anonimato permite e que envergonhariam a mais selvagem groupie de uma qualquer banda de rock dos anos 80. Leem-se insultos a famílias inteiras com nuances dramáticas e toques de malvadez, mas também há humor. Muito humor. E genialidade. Daquela própria dos loucos.

O meu fascínio por este mundo paralelo levou-me a constatar que existem espécies distintas de comentadores online que muito raramente se misturam, um pouco como os sapos e os crocodilos que coabitam no mesmo espaço mas não se interessam uns pelos outros. Das mais raras espécies que todos os dias emergem num qualquer site noticioso há cinco tipos predominantes. Ora vejamos.

1. O desporto-dependente.
É nos sites de desporto que este comentador mais aprecia presentear os demais com a sua fervorosa opinião, por norma carregada de vernáculos e pontos de exclamação. Contudo, nos dias sem grandes eventos desportivos gosta de emitir o seu ponto de vista sobre temas tão distintos como a religião ou política. Infelizmente, como está tão habituado a emitir opinião sobre desporto (e de uma forma tão aguerrida), as probabilidades de tecer um exaltado comentário sobre o seu clube do coração num artigo sobre o Papa esquecendo o tema em discussão são muito altas.

2. O maldizente político (de esquerda ou direita).
Encontra-se esta espécie de comentador pelos artigos de política, seja ela nacional ou internacional. Se a notícia fala sobre um qualquer tema político encontraremos certamente o mal-dizente político. Se for de esquerda, encontra justificação para tudo o que acontece de mau no anterior governo, utilizando inúmeras vezes a expressão “o 25 de Abril não foi feito para isto”. Se for de direita, certamente a expressão “este Governo não faz nada” pairará no meio do seu eloquente comentário, enquanto destila algumas considerações pouco próprias sobre o estado da Nação. Este tipo de comentador tem ainda uma particularidade rara. Por norma, os comentários são quase tão longos como as notícias e assustam muitas das outras espécies, o que lhe aumenta o ego, pois todos sabemos que quanto maior o comentário, melhor é!

3. O engraçadinho.
Adora intrometer-se em tudo o que é discussão, muitas vezes apenas para dizer uma piada ou para criar confusão de forma divertida. Regra geral, consegue trazer outros comentadores da mesma espécie para as conversas e juntos afugentam os demais. Quando deixam de ter resposta, ou de ser alvo de insultos, desistem e procuram uma nova notícia onde exista troca de opiniões séria para começar tudo de novo.

4. O sabido.
Esta espécie de comentador é amplamente interessado, lê tudo e passa de artigos sobre economia para a Casa dos Segredos mais rapidamente que um TGV em potência máxima. Gosta de intervir em tudo e mais alguma coisa e tem de deixar sempre um pouco da sua sapiência por onde passa – mesmo que não tenha percebido uma palavra do que acabou de ler. Não é raro encontrar comentários começados por “não é bem assim” ou “já no outro dia expliquei” tecidos por esta espécie. Por norma são pouco interessados na opinião alheia, pois têm a certeza de que a sua é a mais correta.

5. O Chef.
Este tipo de comentador circula mais nas redes sociais do que propriamente nas caixas de comentários dos sites de notícias. Poucas vezes lê notícias, ficando apenas pelo titulo e fotografia que aparecem nos seus feeds. Contrariamente às outras espécies, o Chef não emite a sua opinião, limitando-se a transcrever habilmente receitas culinárias e sugestões para as refeições. Tem preferência por títulos clickbait e artigos sobre curiosidades. Apesar de ser uma espécie recente no mundo dos comentadores já tem uma legião de fãs, e não são poucas as vezes que vemos os ditos a solicitarem sugestões ou a sugerirem variantes das receitas.

Existem muitas outras espécies e subespécies, algumas, raras, que conseguem manter um discurso consciente, enquadrado e dentro das normas da boa-educação. Infelizmente, essas estão à beira da extinção. E você, que tipo de comentador é?