A Carillion é uma empresa britânica do setor da construção e da gestão de instalações que entrou em processo de insolvência e liquidação a 15 de janeiro. No Reino Unido, a empresa tinha como principal cliente o Estado britânico, para quem já tinha construído dezenas de edifícios e infra estruturas, e para quem fazia a gestão de outras tantas dezenas de instalações como escolas ou hospitais. A empresa também tinha operações no Médio Oriente o no Canadá. Segundo as últimas contas, a empresa tem dívidas de mais de 1,6 mil milhões de libras.

O montante das dívidas da Carillion não é particularmente impressionante. Podemos considerá-la uma empresa de média dimensão, que neste caso se traduz num problema financeiro da mesma magnitude. Para os mercados financeiros, o buraco financeiro da Carillion não representa um risco sistémico. As ações da Carillion foram suspensas visto que a empresa entrou em processo de liquidação. As ações das empresas dos mesmos sectores ou relacionadas com a Carillion também sentiram o tremor, mas tirando isso, life goes on…

No entanto, por vezes no médio-prazo não é a dimensão do buraco financeiro que mais importa, mas a abrangência socioeconómica da empresa, e as implicações políticas do evento – principalmente numa fase tão instável para a política britânica. Nestas questões o grupo Carillion tem outra dimensão. Só no Reino Unido a Carillion empregava mais de 20 mil trabalhadores, sendo responsável pelos respectivos esquemas de pensões, e tinha uma rede de fornecedores que, segundo a imprensa britânica, tem mais de 30 mil pequenas empresas, também elas empregadoras de outras tantas dezenas de milhares de trabalhadores.

No que toca às pensões, os trabalhadores da Carillion podem estar relativamente tranquilos. No Reino Unido existe o Pension Protection Fund (PPF), que foi criado em 2004 precisamente para cobrir os riscos de situações como estas. O fundo normalmente assume os défices dos esquemas de pensões de empresas falidas, aplicando simplesmente alguns cortes aos benefícios dos pensionistas. Mas no que toca aos empregos dos mais de 20 mil trabalhadores e às dívidas aos mais de 30 mil fornecedores, a história não é tão linear. O Governo ordenou que por enquanto a empresa continue a operar normalmente – até porque é o Estado o principal cliente – mas no médio prazo a solução não parece sustentável. Esta situação levanta o debate em torno das parcerias público-privadas a favor da esquerda britânica (Corbyn esfrega as mãos), numa fase de instabilidade política e em que o Governo tem que tomar decisões relativamente ao Brexit que vão mudar o rumo económico do país de forma profunda e definitiva.

O problema da Carillion vai continuar a dar que falar no país, tem potencial para ser um tema decisor para política britânica, e consequentemente para os termos do Brexit. Os mercados não deram demasiada importância no curto-prazo, mas as consequências desta insolvência podem voltar a fazer-se sentir-se.