Henry George, economista americano do século XIX, escreveu um dia que protecionismo é fazermos a nós próprios em tempos de paz o que o inimigo tenta fazer-nos em tempos de guerra. O Presidente Trump ou não leu os escritos de George, ou não gostou do que leu. Assim, estamos em vias de ter pela frente uma nova guerra comercial, mas a uma escala não vista há perto de um século.

Há uma grande diferença entre as guerras comerciais e as outras: é que não há um vencedor. Isto ficou demonstrado aos americanos com o Smoot-Hawley Tariff Act de 1930, que pretendia tirar a economia da recessão de 1929 aumentando as tarifas sobre as importações e assim estimulando a produção nacional e o emprego. Na altura, Henry Ford e outros opuseram-se à medida, sem sucesso. A retaliação que se seguiu atingiu as exportações americanas e, com a já debilitada procura interna, o desemprego nos EUA duplicou. Foi preciso esperar pela mudança do Congresso e a aprovação do Reciprocal Trade Agreements Act de 1934 para pôr fim ao conflito.

Também não é novidade os EUA escolherem um “inimigo” oriental. Em 1971 a Time de 10 de maio discutia (tema de capa) “how to cope with Japan’s business invasion”. A 28 de julho de 1985 o New York Times Magazine escrevia, com título “The Danger from Japan” sob fundo de sol nascente, “today, 40 years after the end of World War II, the Japanese are on the move again in one of history’s most brilliant commercial offensives, as they go about dismantling American industry. (…) Only then [após dez anos] we will know who finally won the war 50 years before.”

Desta vez Trump escolheu mal o alvo. Tem sido imagem de marca da sua política do Make America Great Again apelar ao orgulho americano e acusar os outros países de falta de reciprocidade no seu comprometimento económico, militar, etc. A etapa seguinte é negociar bilateralmente, numa versão do dividir para reinar, e conseguir – na base do músculo – concessões vendidas internamente como sucessos negociais, com dividendos políticos internos apesar de resultados discutíveis (veja-se o exemplo da cimeira com Kim Jong-un, cujos resultados estão por demonstrar, apesar dos tweets de Trump).

Porém, com a China a coisa correu mal. Não só a China respondeu à letra, tarifando importações dos EUA em resposta às tarifas impostas sobre as suas exportações, como cancelou as reuniões agendadas para tentar ultrapassar o diferendo. A razão apresentada é simples: antes das eleições americanas de novembro não há clima político para um compromisso equilibrado. Agora, estamos à espera de ver como Trump vai descalçar esta bota. É que, como diz o ditado, “quem vai à guerra dá e leva”.