De um dia para o outro, jornalistas de toda a Europa e dos EUA chegaram a Lisboa e colocaram o país no mapa político. No mundo da comunicação, aliás, este foi um momento de glória para Portugal. A 25 de Abril de 1974 dá-se o golpe militar que pôs fim ao regime do Estado Novo, que fez o pleno das manchetes dos grandes jornais e foi capa simultânea da “Time” e da “Newsweek”. Para além de ser notícia de abertura de noticiários na rádio e televisão, um privilégio que, regra geral, só acontece no caso de um país pequeno por uma razão muito boa ou muito má.
Desde então, muito mudou em Portugal, mas antes de nos adentrarmos nessa transformação, um apontamento sobre o facto de o desenvolvimento económico e político do país – mau grado as semelhanças com democracias industriais mais desenvolvidas – apresentar, na sua vertente política, especificidades que fazem de Portugal um laboratório apetecível para estudar problemas que afetam as democracias contemporâneas.
Primeiro detalhe invulgar, a transição democrática na década de 1970 foi desencadeada por um golpe de Estado levado a cabo por militares de média patente. A revolução social resultante tem um legado, visível ainda hoje, no papel que o Estado desempenha na economia, na cultura política e medidas políticas, assim como nas divisões sociais subjacentes ao sistema partidário.
Mais. O legado pós-colonial revelou-se importante não só ao nível das relações internacionais, como também na sociedade portuguesa, levantando questões ligadas a atitudes raciais e à integração social. Bem como em termos de política externa, pois Portugal, um país médio no contexto europeu, situado no extremo ocidental do continente europeu e saído de um império que perdurou até excecionalmente tarde, na década de 1980, voltou -se para a Europa, enquanto motor da democracia e do desenvolvimento. Resultado? O país adotou uma política externa complexa, conciliando um triplo desafio, i.e., os compromissos europeus com as idiossincrasias das relações transatlânticas e os estreitos laços culturais e económicos que Portugal mantinha com as antigas colónias.
E depois há os “números”, que nos ajudam a ter uma perceção do que (muito) que mudou no país escuro e triste. a começar pelo analfabetismo. Em 1970, um em cada quatro portugueses era analfabeto, e, em 2021, estima-se que rondasse os 3,1%. No caso da habitação, em 1970, 68% das casas não tinham duche ou banho, 53% não tinham água canalizada, e 42% não tinham instalações sanitárias. Nos dias de hoje, a situação foi praticamente invertida. Ou ainda a taxa de mortalidade infantil, que passou de números assustadores para o país da UE que, em 2022, estava no top dez dos países com menor taxa de mortalidade infantil.
O cosmopolitismo também saiu reforçado nestas décadas. Se em 1974 o número de estrangeiros a viver no país era residual, atualmente rondarão os 800 mil, representando 7,5% dos residentes. E no que respeita ao consumo de cinema em sala, o número de espetadores fala por si: 35,6 milhões em 1974, 41,5 milhões em 1975 e 42,8 milhões em 1976, comparando com 9,6 milhões de espetadores em 2022 (Pordata).
A pergunta. portanto, continua a ser pertinente: o que mudou nestes 50 anos de democracia?
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