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O que nos preocupa é a retenção dos alunos ou a mudança de paradigma no ensino em Portugal?…

Mantenho a esperança de que o Governo esteja ciente de que a educação, em Portugal, tem de sofrer uma mudança estrutural a curto prazo. O Governo tem, aliás, dado alguns sinais de mudança quando introduz a flexibilização curricular e mais autonomia nas escolas.
28 Novembro 2019, 07h15

Muito se tem falado, neste início de ano letivo, sobre a retenção dos alunos nas escolas portuguesas, uma vez que o Governo quer terminar com os “chumbos” até ao 9.º ano de escolaridade.

Há quem defenda que é uma medida meramente económica e que o governo vai poupar cerca de 250 milhões de euros com esta decisão. A ser assim, isto representaria uma regressão na evolução do País. Isto é, sabendo todos nós que a educação é a garantia da evolução de uma sociedade, o Governo deveria investir cada vez mais na educação e não o contrário.

Mantenho a esperança de que o Governo esteja ciente de que a educação, em Portugal, tem de sofrer uma mudança estrutural a curto prazo. O Governo tem, aliás, dado alguns sinais de mudança quando introduz a flexibilização curricular e mais autonomia nas escolas. Não compreendo que esta medida seja introduzida de forma avulsa e não faça parte de uma estratégia de mudança do ensino em Portugal dotando as escolas portuguesas de um modelo de ensino do século XXI para assim acabar com um modelo desacreditado, gasto e ajustado à realidade do século XX.

Estudos científicos realizados sobre a retenção escolar apontam para os efeitos nefastos que o “chumbo” provoca no que se refere à carga emocional e psicológica que os alunos repetentes sofrem. Isto porque são colocados em turmas com colegas mais novos e mais sabedores, onde são apontados como fracassado, o que os vai levar a um sentimento de revolta, de vergonha, de baixa autoestima e, muitas vezes, vai conduzi-los ao abandono escolar. (Rebelo,2009).

Defendo que a retenção não é a solução para o sucesso dos alunos, até porque Portugal é um dos países onde os alunos do ensino básico mais reprovam. Uma análise realizada em 2015 pela OCDE no estudo PISA mostrou que, até aos 15 anos, 31,2% dos alunos portugueses já tinham chumbado. Temos também uma das maiores taxas de insucesso e de abandono escolar, daí podermos retirar que a solução não está em continuar a reprovar os alunos, mas sim repensar o ensino em Portugal o mais rápido possível. Sublinhe-se que a maioria dos problemas existentes nas escolas portuguesas são consequência do modelo existente.

Defendemos a conceção inclusiva onde todos cabem e têm oportunidades apesar das suas diferenças, capacidades e objetivos. Pretendemos obter escolas orientadas, adaptadas e estruturadas numa sintonia com o meio físico, social, cultural e, também, estruturadas mediante as características da população, das necessidades sociais e do mercado evolvente, disponibilizando currículos extremamente flexíveis, inclusivos e em sincronia com as necessidades de formação e o desenvolvimento local. Dessa forma, os alunos trabalhariam mediante objetivos e se comprometeriam a realizá-los dentro das suas capacidades, usando as práticas pedagógicas que mais se adequam ao seu perfil e velocidade de execução.

Defendemos que cada ciclo de aprendizagem representa e engloba uma experiência coletiva de ordem cultural, social, afetiva e intelectual, que deve transcorrer sem interrupções e sem barreiras, sendo a idade cronológica a categoria utilizada para formar os agrupamentos de alunos.

Os ciclos de aprendizagem permitem que o aluno transite para um determinado nível de ensino sem reprovações, sem encaminhamentos e desvios para o ensino especial. Instaura-se uma nova lógica organizacional, em que o processo escolar não fica limitado exclusivamente aos avanços cognitivos dos alunos e em que o tempo escolar é valorizado e entendido como uma etapa da vida do educando, concorrendo para a formação da sua personalidade como um todo.

Para reverter o processo de exclusão das nossas escolas entendemos que o papel da escola deve ser revisto, de modo que a instituição se possa dedicar essencialmente à formação de sujeitos éticos, justos, cooperativos, autónomos. A verdade é que não há mais tempo a perder para tornar os nossos alunos mais humanos e capazes de acompanhar a velocidade do desenvolvimento do saber científico e tecnológico dos nossos dias.

Defendemos uma escola que estabelece metas ambiciosas e claras acerca do que os estudantes devem ser capazes de fazer, dando aos docentes autonomia para definir que conteúdos e que tipo de ensino precisam de praticar com os seus alunos.

Defendemos que este paradigma tem de ser revisto nas instituições de ensino superior porque são estas que formam os futuros professores, apostando num ensino direcionado para as necessidades e exigências da sociedade, onde terá que, obrigatoriamente, existir uma alteração metodológica e pedagógica de base, com a introdução de novos métodos de ensino, novas tecnologias e com uma prática pedagógica alicerçada nas competências do aluno e não nos resultados académicos.

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