A conceituada revista de vinhos norte americana Wine Spectator provou milhares de brancos de todo o mundo. Desses, apenas 15 receberam uma pontuação entre os 93 e os 96 pontos, a máxima atribuída este ano. Um deles era português, o Poeira Branco de Jor ge Moreira.
É um branco diferente, exclusivamente a partir de Alvarinho, a casta de eleição dos Verdes, “um exemplo da diversidade do Douro. Mais do que um Alvarinho, é um vinho da Quinta do Poeira, em tudo semelhante aos seus irmãos tintos”.
O Poeira Branco pode ter sido eleito como o melhor de Portugal em 2014, mas, por estes dias, é outro o vinho que deixa Jorge Mo reira mais orgulhoso. Porque é especial, lançado para comemorar 20 anos – ou 20 vindimas – de séria dedicação ao vinho.
Quem acompanha o seu trabalho sabe que os seus vinhos têm um perfil fresco e equilibrado e nunca demasiado concentrado ou potente. Ainda assim, Jorge Moreira prefere categorizá-los como “vinhos de vinha”, porque “são elas que determinam os vinhos. O meu trabalho con siste em compreender as vinhas e extrair todo o seu potencial”. Ora poucas vinhas são tão de safiantes como uma parcela que Jorge Moreira diz ter “vontade própria e personalidade única. É sempre caprichosa, mas, quando quer, consegue ser arrebatadora”. Foi dali que saiu o vinho que, por isso, se chama Ímpar. Poeira Ímpar 2009, ano em que foi arrebatadora.
Jorge Moreira comprou a Quin ta do Poeira em 2001. Na altura, a sua vontade era manter o trabalho na Real Companhia Velha e, paralelemente, dedicar-se à quinta, até porque o trabalho na RCV implicava muito tempo em adega e Jorge Moreira queria “mais campo”, para crescer co mo enólogo. Mas, um ano depois, percebeu que “não podia lá ir apenas aos fins-de-semana”, e demitiu-se.
Uma decisão difícil, não só pe lo risco mas porque tinha sido na Real – e só então – que Jorge descobrira a paixão pelo vinho. Conta que foi parar à Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro “porque queria sair de casa dos pais”, em Gaia, e, apesar de não gostar de estudar, “tinha ouvido dizer que o ambiente na UTAD era mais descontraído”. Enologia só surgiu “porque não era grande alu no e o curso tinha médias baixas para entrar.” E nem durante o curso, nem durante um estágio em Itália, se entusiasmou muito por este mundo. Ainda assim, o pai “obrigou-me a pelo menos uma experiência numa empresa de vinhos e arranjou-me um estágio não remunerado na RCV”. Assim que entrou na adega, Jorge Mo reira apaixonou-se. E o amor foi correspondido. Ao fim do primeiro mês, a RCV decidiu atribuir-lhe um ordenado e um contrato e, durante os sete anos seguintes, Jorge Moreira encarregou-se de elevar a qualidade geral dos vinhos da Companhia.
Pouco depois de ter saído pa ra se dedicar à sua quinta, Sofia Breq vist, da Quinta de la Rosa, con vida-o para assumir a enologia da empresa, uma parceria que, entretanto, se expandiu ao projeto Passagem, no Douro Superior, perto do Pocinho, e, em 2010, “retornava a casa” com o con vite de Pedro Silva Reis para assumir a direção técnica da equi pa de enologia da RCV. A estes projetos soma-se ainda o M.O.B., fruto de uma interessante parceria com o produtor Francisco Olazabal e com o também enólogo Jorge Serôdio Borges. O no me vem das iniciais dos três.
Hoje, Jorge Moreira tem à sua res pon sabilidade quase 80 vi nhos diferentes. Cinquenta nomes na Real Companhia Velha, 18 na Quin ta de la Rosa e no projeto Passagem, cinco na Quinta do Poeira e seis no M.O.B. Ao to do, são mais de 700 hectares de vinha “para compreender”.
Uma tarefa gigantesca e só possível porque tem uma equipa montada em todos os projetos. E nunca o chamem de consultor: “Sou o enólogo, responsável por to dos os projetos em que estou en volvido. Vou todos os dias às em presas a que estou ligado. Não apareço lá de vez em quando.”
Não sabe, “nem quero saber para já” onde vai estar daqui por 20 anos mas, como o Poeira Ímpar é um vinho “com enorme capacidade para nos surpreender daqui por 20 anos pelo menos”, o mais certo é que esteja a abrir uma garrafa deste vinho que o dei xa tão orgulhoso.
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