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“O treinador quer jogar”. Como o primeiro-ministro das Ilhas Virgens Britânicas foi detido por tráfico de droga

As Ilhas Virgens Britânicas eram há muito apontadas como um território com graves problemas a nível de transparência da governação, mas o que aconteceu esta semana surpreendeu os maiores críticos do primeiro-ministro deste território britânico das Caraíbas, com cerca de 35 mil habitantes.
1 – Ilhas Virgens Britânicas
30 Abril 2022, 12h21

Na passada quinta-feira, Andrew Fahie foi detido no aeroporto de Miami, na Flórida, por suspeitas de envolvimento em tráfico de droga. Num enredo que faz lembrar o da série do Netflix “Narcos”, um infiltrado da DEA, que se fez passar por membro do Cartel de Sinaloa, convenceu Fahie a permitir a utilização do território como plataforma para o transporte de cocaína para para Miami e Nova Iorque.

De acordo com o “The Guardian”, antes de chegar a Fahie, o informador da DEA estabeleceu contacto com Oleanvine Maynard, diretora executiva da administração portuária das Ilhas Virgens Britânicas, que juntamente com o seu filho demonstrou disponibilidade para se envolver no tráfico de droga. Questionada se o chefe do governo também estaria disposto a participar, Oleanvine Maynard admitiu que sim. “Sei o tipo de pessoa que ele é. Se vir uma oportunidade, irá agarrá-la. Ele é um pouco corrupto de vez em quando. Nem sempre é honesto”, terá dito ao agente da DEA.

No dia seguinte, o suposto traficante recebia uma mensagem no WatsApp a confirmar que o líder do governo local também queria uma fatia do bolo: “o treinador chefe quer jogar com a equipa nesta temporada”.

De seguida, o infiltrado da DEA chegou à fala com Andrew Fahie e selou um acordo que previa que o político recebesse o equivalente a 12% do preço de rua da droga transportada através do território. Foi o próprio Fahie que fez as contas ao preço da droga, com uma calculadora, esperando receber 7,8 milhões de dólares (7,3 milhões de euros) no primeiro carregamento, segundo os documentos da acusação.

Andrew Fahie

Na mesma ocasião, Fahie ter-se-á queixado do facto de o governo britânico “não lhe pagar o suficiente” e de estar há anos a tentar afastá-lo do poder. Revelou ainda que tem utilizado o seu cargo de primeiro-ministro para proteger criminosos. “Há muita gente que não entrego aos britânicos. Eles querem capturar algumas pessoas, mas eu vejo o que eles andam a fazer e protejo essas pessoas”, confessou.

Na mesma conversa, o primeiro-ministro terá dito ao informador que acredita em magia e em bruxas e mostrou-se convencido de que consegue detetar quando alguém lhe está a mentir.

Fechado o “negócio”, o informador da DEA convenceu Fahie a acompanhá-lo numa viagem a Miami, onde receberia o primeiro pagamento. Foi nessa viagem que o primeiro-ministro foi detido, tendo-se mostrado surpreso e exclamado: “Porque estou a ser preso, se não tenho droga nem dinheiro na minha posse?”.

Nascido em 1970, Andrew Fahie liderava o governo das Ilhas Virgens Britânicas desde 2019, após 12 anos à frente do principal partido da oposição. As autoridades britânicas preparam-se agora para suspender a constituição local e governar diretamente o território ultramarino, até que seja eleito um novo executivo.

A ministra britânica dos Territórios Ultramarinos, Amanda Milling, foi entretanto enviada com urgência para as Ilhas Virgens Britânicas pela chefe da diplomacia do Reino Unido, Liz Truss, que se afirmou “chocada com estas graves acusações”.

 

 

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