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“Onde é que dorme o Snoopy?” Como a ‘pet economy’ originou um fundo de investimento

Em entrevista ao Jornal Económico, o diretor do departamento de ‘equity research’ na Allianz Global Investors explica os critérios na base de um fundo temático de investimento. E realça a importância do crescimento estrutural de determinado setor.
  • Fotografia cedida
17 Abril 2019, 07h49

“Onde é que dorme o Snoopy?”, questiona Andreas Fruschki, diretor do departamento de equity research na Allianz Global Investors (GI). A resposta “numa casota no jardim” apenas se aplica ao famoso desenho, diz, porque actualmente “a generalidade dos animais de estimação dorme e vive dentro das casas”.

O exemplo, que ilustra a alteração na forma de relacionamento com os animais de estimação e consequente aumento do consumo de produtos associados, pretende demonstrar como pode ser identificado o potencial de um setor para o desenvolvimento de um fundo temático de investimento.

“Os animais de estimação passaram a ser tratados cada vez mais como um membro da família”, destaca Andreas Fruschki, em entrevista ao Jornal Económico. “Compram-se cada vez mais coisas para os animais de estimação como para uma criança”.

O analista da gestora de ativos aponta que a economia dos animais de estimação está a crescer cerca de 5% a 6% a cada ano na Europa e nos EUA, enquanto na Ásia aumenta cerca de 15%.

A identificação deste crescimento contribuiu para a Allianz GI criar o primeiro fundo temático em Portugal centrado no mercado global de animais de estimação – o Allianz Pet and Animal Wellbeing.

Andreas Fruschki realça que a pet economy tem duas vertentes. “As pessoas envelhecem e o que fazem? Compram um animal de estimação”, diz. Por outro lado, os cuidados aumentaram. “Não se poupa dinheiro com o animal de estimação. Se estiver doente, leva-se ao médico, porque ninguém poupa dinheiro com um membro da família”.

O crescimento de um setor é, então, suficiente para transformá-lo num tema de fundo de investimento Apesar de salientar que um dos critérios fundamentais na génese de um fundo temático é o crescimento estrutural, Andreas Fruschki sublinha que “nem tudo o que está na primeira página do Financial Times é um tema”. “Nem tudo o que se está a falar muito é automaticamente e já um tema. Deve ser algo que as pessoas podem dizer: eu vou investir nisto”, refere, apontando a necessidade de um foco muito claro sobre qual é o investimento.

Animais “defensivos”

“Um fundo temático não é um fundo tradicional comum. O investidor apenas quer obter uma grande exposição a esse tema. E é completamente irrelevante se é uma pequena empresa, uma grande empresa, se é uma empresa chinesa, se é uma empresa europeia. Isso significa que não ignora as empresas que realmente beneficiam desse tema apenas porque estavam na região errada ou no tamanho errado de capitalização de mercado”, salienta.

“Estamos sempre a pensar em tendências estruturais de consumo numa sociedade que está cada vez mais envelhecida. A pet economy toca nisso: as pessoas que envelhecem, as pessoas que vivem nas cidades, as pessoas que viajam mais, as pessoas que levam animais de estimação a todos os lugares. É incrível a quantidade de produtos e serviços que hoje existem”, explica.

Para o diretor do departamento de equity research na gestora, esta é uma economia muito defensiva e o investimento subjacente também. Andreas Fruschki identifica cerca de 30 ações neste fundo, principalmente de fabricantes de alimentos para animais, comerciantes de produtos para animais de estimação, seguros de animais e empresas farmacêuticas ou de saúde animal.

“Os últimos três anos centraram-se na tecnologia no mercado. Toda a gente tinha comprado empresas de tecnologia. Nos próximos três anos, o mercado de ações poderá ser mais volátil. Então, o que se quer é algo defensivo. O que sabemos é que as pessoas gastam dinheiro aqui, independentemente de a economia subir ou descer. É um bom aspecto diferenciador de crescimento defensivo”, sublinha.

“As empresas que temos nestes fundos muito provavelmente são outras empresas que ninguém tem ainda. Quantas empresas de animais de estimação tipicamente existem nos portfólios? Não muitas. É um bom beneficiário diversificar o tema num grande portfólio”.

O analista considera ainda que apesar do crescente peso da tecnologia nos mercados, a inteligência artificial (IA), por exemplo, é uma área muito nova. A gestora definiu também este como um fundo de investimento temático: “A IA beneficia empresas que possuem muitos dados porque permite encontrar padrões, poupar dinheiro no tratamento de dados. Ou seja, pode beneficiar tanto empresas que desenvolvam inteligência artificial, como as empresas que têm esses dados”, refere.

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