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ONG alerta para situação crítica em Moçambique após redução do apoio humanitário

“Moçambique está a ser atingido pelo triplo golpe de conflito, desastres climáticos e fome extrema, com cortes globais de financiamento deixando até um milhão de pessoas sem ajuda”, declarou o secretário-geral do Conselho Norueguês para Refugiados (NRC, sigla inglesa), Jan Egeland, citado hoje num comunicado da entidade.
11 Junho 2025, 19h44

O Conselho Norueguês para Refugiados, uma das maiores organizações humanitárias europeias, alertou hoje para situação humanitária crítica em Moçambique face à redução de apoio internacional, considerando que o país sofreu um “triplo golpe”, entre conflitos, fome e desastres naturais.

“Moçambique está a ser atingido pelo triplo golpe de conflito, desastres climáticos e fome extrema, com cortes globais de financiamento deixando até um milhão de pessoas sem ajuda”, declarou o secretário-geral do Conselho Norueguês para Refugiados (NRC, sigla inglesa), Jan Egeland, citado hoje num comunicado da entidade.

Segundo a Organização Não-Governamental (ONG), a crise que o país africano enfrenta atingiu um “ponto crítico”, com o “alarme sobre a violência crescente”, numa alusão à insurgência em Cabo Delgado, a devastação causada por múltiplos ciclones e o “quase colapso” das linhas de ajuda humanitária devido aos cortes de financiamento internacional.

“A violência deslocou mais de 1,4 milhão de pessoas até o momento, enquanto mais de 600 mil que retornaram para casa agora enfrentam uma insegurança renovada e pouca ou nenhuma assistência”, refere o NRC, que acrescenta que as crises agravadas levaram quase cinco milhões de moçambicanos a atingirem “níveis críticos” de fome, com mais de 900 mil em condições de emergência.

Para a ONG,  Moçambique precisa de uma ação internacional imediata para restaurar a segurança alimentar e apoiar a “frágil recuperação” do país.

“Isso inclui investimentos urgentes na recuperação agrícola e no apoio à pesca em áreas costeiras, nutrição para crianças e proteção para pessoas forçadas a fugir da violência”, acrescenta-se na nota.

Em fevereiro deste ano, o NRC afirmou que seria “forçado” a suspender as operações em cerca de 20 países se os Estados Unidos mantiverem suspensos os apoios.

Considerada a primeira na história da ONG, a suspensão afetará “centenas de milhares de pessoas em cerca de 20 países afetados por guerras, catástrofes e deslocações”.

Neste mês, as Nações Unidas alertaram para “grandes contratempos” que a ajuda humanitária em Moçambique enfrenta perante a queda de 17% da assistência às populações afetadas pelos ataques armados no norte do país, face ao mesmo período de 2024.

De acordo a ONU, estas reduções refletem um declínio mais amplo na capacidade operacional, além de prejudicarem “significativamente” a resposta, “especialmente na prestação de ajuda multissetorial”.

“O financiamento caiu quase 12%, de 52 milhões de dólares [45,5 milhões de euros] em 2024 para 46 milhões de dólares [40,2 milhões de euros], enquanto o número de parceiros humanitários caiu drasticamente — de 66 para apenas 48, uma redução de 35%”, refere-se no documento.

A província de Cabo Delgado concentra a maior parte das atividades das organizações humanitárias, em resultado da crise que se instalou devido à rebelião armada que começou em 2017, tendo já provocado milhares de mortos e mais de um milhão de pessoas deslocadas.

As novas movimentações de extremistas no norte de Moçambique incluem Niassa, província vizinha de Cabo Delgado, onde, desde a sua eclosão em 29 de abril, provocaram pelo menos duas mortes: dois guardas florestais decapitados.

Só em 2024, pelo menos 349 pessoas morreram em ataques de grupos extremistas islâmicos no norte de Moçambique, um aumento de 36% face ao ano anterior, segundo um estudo divulgado pelo Centro de Estudos Estratégicos de África (ACSS), uma instituição académica do Departamento de Defesa do Governo norte-americano.

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