Rui Rio, o presidente do PSD, está a igual a si próprio. Está preocupado com as contas e com a imagem de retidão. Se tiver de “abater” camaradas de partido fá-lo-á sem hesitar e com gosto. A mais recente reunião do Conselho Nacional do PSD é a prova de que a metodologia aplicada à edilidade do Porto há alguns anos está ser decalcada.

Mas Rio não pratica atos que outros não o tenham feito. Lembremos o que Durão Barroso fez aos “nogueiristas”, ou a “secagem” que Marcelo tentou fazer aos “barrositas” e aquilo que Passos fez com os mesmos “barrosistas”. “Secar” à volta não é só o PSD que faz. Lembremos o Bloco que “secou” a fação de João Semedo. O CDS é uma exceção nesta estratégia pelo simples facto de que tem tido liderança na continuidade.

Mas voltemos ao PSD e à importância das opções. Em que medida é Rio diferente de outros líderes que tentaram mostrar retidão nas contas, sendo isento e impoluto? A diferença é que Cavaco nos anos 80 fez o mesmo, mas estava no poder com o bloco central e o país intervencionado pelo FMI, enquanto dirigentes do PSD como Barroso ou Passos estavam à porta do poder, onde apenas esperavam o detonador. Ora, Rio não está sequer próximo do poder, nem a chegar a qualquer tipo de poder. E o PSD é um partido quando “cheira” a poder, mas passa a um conjunto de fações quando anda arredado do pódio.

Rio está a “secar” internamente, com destaque para os “santanistas”, mas também está a secar quem lhe possa colocar o tapete perante uma antecipação de desastres eleitorais nas europeias e legislativas. Prefere manter a postura de “presidente contabilista”, utilizando a gíria facebookiana de Carlos Sá Carneiro, ex-chefe de gabinete de Passos.

O grande dilema é que perante a ausência de perspetivas de poder e a ausência de vozes internas, deixa de existir interesse na militância. A Universidade de Verão do PSD foi o exemplo acabado do desinteresse generalizado quer por parte de militantes quer dos media. Faltam ideias de fundo e falta um governo sombra a funcionar. Estas são as queixas das estruturas do partido. Mas isso é algo que Rio atira para trás das costas.

Rio sustenta que está a limpar caciquismos, a “correr” com os maus exemplos e a aposta voltam a ser os números. É natural que Rio espere o colapso das finanças públicas para ter o seu momento zen e ganhar o poder. Por enquanto não há ideias novas na saúde, edução, defesa e economia. A tributação da especulação imobiliária através do agravamento do imposto em sede de mais-valias até pode ser uma boa ideia, mas já deveria ter concretizado e não deixar-se colar ao Bloco, que não tem agenda nem pudor em apresentar propostas em temas onde foi pecador.