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Pablo Hasél. Rapper é detido por “glorificar terrorismo” e desencadeia protestos por toda a Espanha

Em Barcelona, cidade a 150 quilómetros de Lérida, cerca de dois mil manifestantes empunhavam cartazes com a frase “Soltem o Pablo” mas em seguida, e contra as autoridades, os apoiantes começaram a incendiar caixotes do lixo. 
EPA/Paul de la Calle
18 Fevereiro 2021, 11h55

Espanha está envolta em protestos depois do rapper Pablo Hasél ter sido detido na Universidade de Lérida, depois de se barricar dentro do estabelecimento, devido às letras que canta desde 2011. O mandado de detenção com o nome de Hasél indica que este é acusado de “enaltecer o terrorismo e insultar a monarquia”, bem como a polícia.

A detenção de Pablo Hasél, que se barricou na universidade para fugir ao mandato de captura, foi efetuada pela polícia catalã, os Mossos d’Esquadra, e gerou uma vaga de protestos por todo o país, inclusive violência dos manifestantes para com as forças da autoridade.

O rapper espanhol começou um braço de ferro com a justiça em 2011, quando um tribunal declarou que a liberdade de expressão não incluía o discurso de ódio. Como esta era a quarta sentença do tribunal contra o artista, foi decretado um mandato de prisão, tendo o rapper sido condenado a nove meses pelo Supremo Tribunal.

“Glorificação do terrorismo e insulto à Coroa e às instituições do Estado”, bem como injúrias à polícia nas letras das músicas e nas publicações realizadas na rede social Twitter motivaram a condenação inicial de dois anos e nove meses, entretanto reduzida. Pablo Hasél ainda dirigia mensagens de ataque à atuação da polícia e aos membros da realeza espanhola.

Em 2017, um tribunal em Lérida impôs uma multa de 30 mil euros ao rapper por este ter dirigido rimas polémicas ao autarca Àngel Ros, onde referia que este “merece um tiro” e o ia “esfaquear” e “arrancar a pele às tiras”. Também nesse ano, o rapper foi condenado por resistência à detenção e desobediência à autoridade, sendo que em 2018 foi condenado por invasão de propriedade privada.

O rapper deixou um comunicado nas redes sociais, antes de se barricar na universidade e de ser detido, onde dava conta que o prazo para a sua entrega voluntária na esquadra ter terminado na semana anterior. Pablo Hasél ficou na universidade durante duas horas, juntamente com alguns dos seus apoiantes, e após ter sido capturado pelos Mossos d’Esquadra gritou “morte ao estado fascista” e “eles nunca nos vão silenciar”.

No mesmo dia em que o rapper foi detido, os protestos iniciaram-se em várias cidades espanholas em apoio ao artista. Em Barcelona, cidade a 150 quilómetros de Lérida, cerca de dois mil manifestantes empunhavam cartazes com a frase “Soltem o Pablo” mas em seguida, e contra as autoridades, os apoiantes começaram a incendiar caixotes do lixo.

Também em Madrid, um grupo de manifestantes ostentavam cartazes com frases de apoio ao rapper e arremessaram pedras da calçadas contra a polícia, que teve de conter a violência recorrendo a balas de borracha e lás lacrimogéneo das Unidades de Intervenção.

Entre os cânticos de apoio ao artista misturavam-se pedidos de libertação dos líderes do movimento pela independência da Catalunha, uma causa apoiada por Hasél.

Além de apoiantes desconhecidos, mais de 200 artistas, nos quais se incluem o realizador Pedro Almodóvar e o actor Javier Bardem, assinaram uma petição contra a prisão do rapper. Também a Amnistia Internacional se pronunciou e sustentou que a detenção de Hasél são péssimas notícias para a liberdade de expressão em Espanha.

Hasél não é exemplo único

Apesar do caso de Hasél estar a ser mediático devido à dimensão dos protestos que coloca manifestantes contra a polícia em confrontos violentos e destruidores, não é exemplo único da falta de liberdade de expressão em Espanha.

Também o rapper espanhol Valtònyc foi condenado a três anos e meio de prisão por escrever músicas onde elogiava grupos terroristas e insultava a família real. No entanto, o rapper está refugiado na Bélgica após ter fugido às autoridades espanholas no passado mês de maio, altura em que se deveria ter entregado voluntariamente.

A justiça belga rejeitou as três acusações que constavam na ficha de Valtònyc, cujo nome é José Miguel Arenas Beltran, uma vez que as acusações da justiça espanhola não têm equivalência na Bélgica, e negou um pedido de extradição imposto por Espanha. À saída do tribunal, na passada segunda-feira, o rapper revelou estar satisfeito com a decisão da justiça belga em não proceder à extradição.

O rapper justificou que as letras das suas músicas apenas tinham como objetivo “chocar a consciência das pessoas” e não atacá-las fisicamente. Entre as letras encontravam-se injúrias e a possibilidade de assassinato a membros do governo, Coroa e partidos de direita. “Depois de assistir ao [filme] ‘Kill Bill’, vão começar a cortar a garganta das pessoas com uma catana? Não, as pessoas percebem que é arte”, declarou o artista.

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