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Palestina: Hamas aceita cessar-fogo, mas Israel diz que proposta foi alterada

O líder do Hamas diz que aceitou a proposta de cessar-fogo mas Israel afirma que há alterações não previstas – com os EUA a dizerem que precisam de analisar tudo outra vez. Entretanto, o ministro israelita da Segurança Nacional diz que o que é preciso é arrasar Rafah.
7 Maio 2024, 07h30

De forma inesperada e ao cabo de muitas horas acumuladas de negociações, o líder do Hamas, Ismail Haniyeh, enviou nota da aceitação de uma proposta de cessar-fogo emanada dos mediadores do Qatar e do Egipto – ao mesmo tempo que milhares de palestinianos fugiam de Rafah depois de Israel ordenar a evacuação da cidade, o que prenunciava um ataque iminente.

A notícia vinda da cúpula do Hamas foi recebida com o entusiasmo que se previa, mas rapidamente começaram a surgir dúvidas sobre o que está em cima da mesa de negociações. Os jornais de Israel avançam que elementos do executivo liderado por Benjamin Netanyahu terão dito que a proposta aceite pelo Hamas não será a mesma que Israel enviou para as negociações – o que poderia colocar em causa o próprio acordo. Um oficial israelita afirmou à Reuters, sob anonimato, que o Hamas aceitou uma proposta egípcia “suavizada” e que, por isso, não é aceitável para Israel. A mesma fonte refere que a proposta contém conclusões “abrangentes” com as quais Telavive não concorda e que o anúncio do Hamas “parece ser um estratagema” para apresentar Israel como a parte que recusa um acordo. De qualquer modo, oficialmente – e até ao fecho desta edição – a única reação oficial veio do porta-voz das Forças de Defesa de Israel (IDF),Daniel Hagari, que afirmou que “cada resposta será seriamente examinada” e que “todas as possibilidades sobre negociações e libertação de reféns estão a ser esgotadas”.

Já o ministro da Segurança Nacional, o extremista Itamar Ben-Gvir, disse que rejeita a aceitação do cessar-fogo pelo Hamas chamando-lhe um truque para camuflar novas investidas terrorista. “”Só há uma resposta aos truques e jogos do Hamas: uma ordem imediata para conquistar Rafah, aumentar a pressão militar e continuar a esmagar o Hamas até que seja totalmente derrotado”.

Do seu lado, o Hamas diz que qualquer ofensiva militar israelita em Rafah não será um “piquenique”, acrescentando que está “totalmente preparado” para defender os palestinianos, segundo fonte citada pela Al Jazeera – que foi oficialmente proibida de cobrir o dia-a-dia da guerra depois de o gabinete de crise votar por unanimidade o encerramento das operações da estação televisiva de origem qatar no país.

Entretanto, o porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, Matthew Miller, disse que Washington só comentará o possível cessar-fogo e a aceitação do plano pelo Hamas depois de o analisar completamente. “Posso confirmar que o Hamas emitiu uma resposta. Estamos a avaliá-la e a debatê-la com os nossos parceiros na região”, disse, recusando-se a dizer se o Hamas concordou com a oferta aprovada pelos Estados Unidos ou com uma versão diferente da proposta. “O diretor da CIA está na região a trabalhar em tempo real. Vamos discutir a resposta com os nossos parceiros nas próximas horas”, afirmou.

A proposta de cessar-fogo inclui três fases, redundando num cessar-fogo permanente, segundo revelam fontes próximas dos negociadores egípcios e qataris. Cada fase teria uma duração de 42 dias. Segundo as mesmas fontes, está prevista uma trégua na primeira fase, juntamente com uma retirada israelita do corredor de Netzarim que Israel usa para dividir o norte e o sul de Gaza. Uma segunda fase incluiria a aprovação de uma cessação permanente das operações militares e a retirada completa das forças israelitas de Gaza. A terceira fase seria o fim permanente da guerra e do bloqueio a Gaza. Algures, está prevista a troca de prisioneiros palestinianos por reféns ainda nas mãos do Hamas – ao mesmo tempo que a terceira fase deverá coincidir com o início da reconstrução de Gaza.

A presença do chefe da CIA, William Burns, em Doha desde este domingo fazia prever que um acordo estaria para breve – mas ainda não é possível, segundo os analistas, confirma-se que já há um acordo. O certo é que aquilo que se sabe do acordo vai diametralmente contra tudo o que Netanyahu disse sobre a guerra e mesmo sobre a fase pós-guerra. O primeiro-ministro insistiu sempre que o fim da guerra teria necessariamente que coincidir com o desmantelamento da operacionalidade do Hamas e que Israel não deixaria Gaza mesmo depois do fim dos combates e enquanto não encontrasse uma solução ‘amigável’ que permitisse uma vizinhança segura. E também disse que uma solução permanente não seria conseguida nem com o Hamas nem com a Autoridade Palestiniana – o que quer dizer, e não foi desmentido, que Israel quer inviabilizar a solução de dois Estados na região.

 

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