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Pandemia impede banca cabo-verdiana de distribuir lucros recorde de 30 milhões de euros

Os sete bancos cabo-verdianos que podem trabalhar com clientes residentes no arquipélago somaram lucros recorde superiores a 30 milhões de euros em 2019, mas os riscos associados à pandemia de covid-19 impediram a distribuição de dividendos pelos acionistas.
31 Agosto 2020, 08h37

Segundo dados das contas dos sete bancos, aprovadas nas últimas semanas pelos acionistas de cada instituição e compilados pela agência Lusa, a banca cabo-verdiana somou lucros históricos de 3.312 milhões de escudos (30,2 milhões de euros) em 2019, com praticamente todas as instituições a reconhecerem resultados recorde e nenhuma com prejuízos, contrariamente a 2018.

Metade dos lucros da banca cabo-verdiana em 2019, que fechou o ano com um recorde de 1.333 trabalhadores, estão concentrados em dois bancos da Caixa Geral de Depósitos (CGD), casos do Banco Comercial do Atlântico (BCA), que o grupo português pretende vender, e do Banco Interatlântico.

O Banco de Cabo Verde (BCV) avançou em março com um conjunto de decisões para reforçar a liquidez e solidez do sistema financeiro do arquipélago, antevendo os efeitos da pandemia de covid-19 e avançando com um regime de moratórias no pagamento de crédito.

“A contribuição de todos é fundamental, pelo que, para fazer face aos impactos e eventuais perdas futuras os bancos deverão reforçar os fundos próprios através da não distribuição de dividendos relativamente aos resultados de 2019”, lê-se na nota divulgada em março pelo banco central.

Os lucros da banca em 2019 foram liderados pelo BCA, com um resultado líquido de 1.170 milhões de escudos (10,6 milhões de euros), sendo este, segundo a administração, o melhor registo em 27 anos de história do banco.

Através do Banco Interatlântico (BI), que detém igualmente em Cabo Verde, a CGD controla 52,65% do BCA, ao que se soma uma participação própria de 6,76%. O Instituto Nacional da Previdência Social de Cabo Verde detém uma participação de 12,54% no BCA.

Desde 2019 que a CGD tem em curso o processo de venda da participação naquele banco, optando por ficar no mercado cabo-verdiano apenas com o BI. Esta venda da participação social no BCA, que no total ultrapassa um peso de 59%, estava prevista no plano estratégico da CGD para 2017-2020, mas ainda não foi concretizada.

Globalmente, a carteira de crédito do BCA rondava no final de 2019 os 53.544 milhões de escudos (486 milhões de euros) e o crédito vencido situava-se em 9,9% do total, quando um ano antes era de 11,7%.

A Caixa Económica, o outro dos dois grandes bancos de Cabo Verde, registou um lucro histórico de 940,8 milhões de escudos (8,5 milhões de euros), igualmente um aumento recorde de 98,55% face a 2018, sem distribuição de dividendos.

O banco é detido maioritariamente pelo Estado cabo-verdiano, através de uma participação direta no capital social, detida pelo Ministério das Finanças, de 27,44%, mas também pelo Instituto Nacional de Previdência Social, com uma quota de 47,21%, e pela empresa pública Correios de Cabo Verde, com uma participação de 15,14%.

Já os lucros do BI praticamente triplicaram em 2019, face ao ano anterior, para 477,3 milhões de escudos (4,3 milhões de euros), o melhor resultado desde a sua criação, segundo a administração, que tal como todos os outros bancos decidiu aplicar a totalidade dos resultados em reservas.

“Com as medidas já aprovadas pelo supervisor e aplicando nos fundos próprios a totalidade do resultado de 2019, o banco estará melhor preparado para resistir aos efeitos adversos da crise já iniciada”, lê-se na mensagem da administração no relatório e contas.

O Banco Caboverdiano de Negócios (BCN) fechou o ano com um resultado líquido de 278.479.773 escudos (2,5 milhões de euros), um crescimento de 34,4%, face a 2018, também sem distribuir dividendos aos acionistas.

O BCN foi detido durante vários anos, até à resolução, pelo português ex-Banif, sendo atualmente liderado pela seguradora cabo-verdiana Impar, com uma quota de 86,76%, e participado ainda pela Cruz Vermelha de Cabo Verde (4,44%) e vários investidores privados (8,80%).

Os lucros da filial de Cabo Verde do banco pan-africano Ecobank aumentaram 120% em 2019, para 173.841.542 escudos (1,56 milhões de euros), resultado que, mesmo sem distribuição de dividendos, a administração reconheceu ser o “melhor de sempre” e que permitiu recuperar “todo o capital perdido desde o lançamento” do banco.

Fundado em 1985, no Togo, o Ecobank Transnational Incorporated é um grupo bancário pan-africano presente em 36 países daquele continente e o segundo maior banco em África, tendo a filial em Cabo Verde iniciado atividade em julho de 2009.

O Banco Angolano de Investimentos (BAI) Cabo Verde, participado pela petrolífera Sonangol, registou lucros de 124,7 milhões de escudos (mais de 1,1 milhão de euros), um crescimento de 24,2% face ao ano anterior. A administração decidiu aplicar 15% desse valor para cobertura dos prejuízos de exercícios anteriores, outros 15% a Reserva Legal, 8% na Reserva de Estabilização de Dividendos e 62% para Reservas Livres.

O BAI Cabo Verde é detido em 83,9% pelo BAI (Angola), com a petrolífera Sonangol Cabo Verde a deter uma quota de 13,5% e a Sociedade de Investimentos SOGEI uma participação de 2,7%.

O IIB Cabo verde, banco liderado pelo grupo IIB do Bahrain, e participado em 10% pelo Novo Banco português (antes BES Cabo Verde), passou de prejuízos consecutivos para lucros de 147.250.000 escudos (1,35 milhões de euros) em 2019, igualmente sem distribuir dividendos.

Cabo Verde contava até 30 de agosto com um acumulado de 3.852 casos de covid-19 diagnosticados desde 19 de março, que provocaram 40 mortos.

A pandemia de covid-19 já provocou pelo menos 843 mil mortos e infetou mais de 25 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

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