[weglot_switcher]

“Para alguns, o genocídio é lucrativo”: Relatora da ONU denuncia como empresas beneficiam com ocupação da Palestina

O relatório de Francesca Albanese aponta o dedo a 48 grupos empresariais distintos, expondo a forma como estes lucram com o genocídio em Gaza e a ocupação e apartheid na Cisjordânia e pedindo aos países da ONU que suspendam relações económicas com Israel.
Palestinians fleeing north Gaza move southward as Israeli tanks roll deeper into the enclave, amid the ongoing conflict between Israel and Hamas, in the central Gaza Strip November 10, 2023. REUTERS/Ibraheem Abu Mustafa TPX IMAGES OF THE DAY
4 Julho 2025, 12h25

Um relatório da ONU da autoria da relatora especial para os territórios palestinianos ocupados, Francesca Albanese, argumenta que há uma série de empresas para quem “o genocídio é lucrativo”, referindo-se à ofensiva israelita em Gaza. Falando numa “economia de ocupação”, o documento aponta o dedo a inúmeras organizações, desde tecnológicas a financeiras, explicando as relações com o Estado israelita e a forma como lucram com as suas violações dos direitos humanos.

“Claramente, para alguns o genocídio é lucrativo”, afirmou Albanese na conferência de imprensa de apresentação do relatório esta quinta-feira, na Suíça, onde pediu um embargo à venda de armas a Israel, mas também que todos os países cortassem ligações económicas com aquele país, que, classifica, “é responsável por um dos genocídios mais cruéis da história moderna”.

Enquanto Gaza foi “devastada”, a “bolsa de Telavive disparou 213%, acumulando 225,7 mil milhões de dólares em ganhos, incluindo 67,8 mil milhões só no mês passado”, denuncia, num exemplo claro do “falhanço dos sistemas internacionais de negócios e legais no cumprimento dos direitos mais básicos de um dos povos mais desprovidos do mundo”.

O relatório aponta 48 empresas ou grupos, incluindo as suas empresas-mãe, subsidiárias, franchisadas ou parceiros de consórcio em vários setores. Tecnológicas como a IBM, Microsoft, Google, Amazon ou a HP lucram com contratos avultados para ajudar o Estado israelita em programas de vigilância, assistindo no desenvolvimento de sistemas de inteligência artificial (IA) para identificar alvos ou com a identificação e repressão de conteúdos pró-Palestina.

Também o software Pegasus, desenhado para vigilância dissimulada de smartphones e utilizado por vários governos e atores estatais por todo o mundo para atacar jornalistas, ativistas e defensores dos direitos humanos, foi desenvolvido por antigos membros do exército israelita, mostrando os laços entre estas empresas e as forças armadas.

Do lado industrial, empresas como a Lockheed Martin, Elbit ou Leonardo beneficiam com a venda de equipamento militar aos israelitas, permitindo-lhes publicitar os seus produtos como ‘testados em batalha’. Neste capítulo, não só empresas privadas são visadas – por um lado, vários Estados lucram com estas transações; por outro, institutos de educação e universidades como o MIT também estão envolvidos no desenvolvimento e pesquisa.

Estas empresas “permitiram que 85 mil toneladas de bombas – seis vezes a quantidade em Hiroshima – fossem lançadas sobre Gaza”, ilustra Francesca Albanese.

Também nomes como a Volvo e Hyundai se vêm envolvidas nesta “economia de ocupação”, fornecendo os bulldozers utilizados pelo Estado israelita para destruir as casas de palestinianos na Cisjordânia, onde a expansão dos colonatos ilegais israelitas não tem parado. Em maio passado, o ministro das Finanças Bezalel Smotrich, ele próprio um colono na Cisjordânia, anunciou a construção de 22 novos colonatos – uma política de ocupação repetidas vezes decretada ilegal pelo Tribunal Penal Internacional.

“Até atores aparentemente neutros, como locais turísticos, supermercados e universidades estão a normalizar o apartheid e o apagamento sistemático da vida palestiniana”, lê-se no relatório, uma acusação que visa nomes como, por exemplo, a Booking e a Airbnb, que permitem propriedades listadas em colonatos ilegais na Cisjordânia.

Todo este paradigma de lucro com violações dos direitos humanos e crimes de guerra é financiado pelo sistema financeiro internacional, desde o investimento em bonds israelitas e nestas empresas até às organizações de caridade em inúmeros países europeus e nos EUA desenhadas para financiar estes projetos ilegais, frequentemente isentas de impostos.

A ofensiva israelita em Gaza já matou mais de 57 mil pessoas, segundo o balanço mais recente do Ministério da Saúde local, levando à emissão de mandados de captura internacionais por crimes de guerra ao primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, e ao então ministro da Defesa, Yoav Gallant.

Também os líderes do Hamas Yahya Sinwar, Isma’il Haniyeh e Mohammed Deif foram acusados de crimes contra a humanidade pelo envolvimento nos ataques de 7 de outubro, tendo, entretanto, sido todos eliminados pelo exército israelita.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.