Os resultados preliminares da Comissão Técnica Independente destacam Alcochete e Vendas Novas como soluções viáveis de uma nova oferta aeroportuária, mas, para os arquitetos, há preocupações cruciais que não foram abordadas no estudo, agora em consulta pública.

A participação e o diálogo público desempenham papéis essenciais neste processo, e os arquitetos entraram no debate público trazendo uma visão mais ampla, indo além da mera escolha geográfica, alertando para a formação de uma nova cidade, onde não se pode deixar de priorizar o planeamento territorial e paisagístico.

Neste sentido, os arquitetos defendem uma visão mais holística, que não se restrinja apenas a pistas e terminais, mas que valorize espaços verdes, instalações de suporte à nova comunidade em desenvolvimento, diversidade de formas do habitat urbano e a mobilidade. O objetivo deverá ser criar uma comunidade coesa e sustentável, não apenas um centro aeroportuário isolado.

Para o presidente da Ordem dos Arquitetos (AO), Avelino Oliveira, e Pedro Novo, da OALVT, a ausência de um acompanhamento direto por parte dos arquitetos na comissão é o que tem limitado a consideração de questões urbanísticas cruciais. A inexistência de especialistas em planeamento urbano na CTI resulta numa abordagem mais técnica e menos em preocupações que ultrapassam o impacto imediato, onde se consideram as implicações de longo prazo para as gerações futuras.

Essa visão só é possível, como alerta Max Hirsh, autor de “Urbanismo aeroportuário: Uma abordagem centrada nas pessoas para o desenvolvimento de aeroportos”, se os aeroportos se centrarem nas necessidades e desejos dos seus clientes. Isto inclui não só os passageiros, mas também as pessoas que vivem, trabalham e possuem negócios no aeroporto e nas comunidades vizinhas. O mesmo aspeto foi sublinhado pelo comandante e arquiteto João Moutinho, durante uma discussão promovida pela AO, “a experiência destina-se não apenas aos que passam, mas àqueles que vivem lá”.

A criação de projetos de desenvolvimento aeroportuário bem-sucedidos requer um conhecimento profundo dos desafios futuros do setor global da aviação, bem como a vontade de estabelecer colaborações significativas entre as instituições e as pessoas.

Não devemos perder a oportunidade de redesenhar o tecido urbano, moldar uma nova narrativa urbana, promover um desenvolvimento económico sustentável e criar uma nova identidade integrada, sustentável e inclusiva, onde o aeroporto se torna parte da vida das pessoas e da paisagem.