Aos 36 anos, Diogo Figueiredo pode orgulhar-se do seu percurso. Descobriu-se empreendedor aos 25, quando criou uma empresa de publicidade, branding e desenvolvimento de marca. Férias, poucas ou nenhumas, e uma meta clara: aprender, aprender, aprender. Para depois concretizar. E assim foi. Após criar numerosos conceitos de restauração em Lisboa, o visiense que adotou a capital para dar largas à sua veia empreendedora, rapidamente percebeu que podia ter os seus próprios projetos nessa área.
Pragmático, definiu que iria mudar o paradigma da restauração. E “abrir as portas para o que está para vir”. Hoje, graceja, ainda não se considera “um sénior nestas andanças”, mas admite que a maturidade alcançada se deve aos “altos e baixos, às aprendizagens que retirou da pandemia, à valorização e reconhecimento que procura dar a todos os colaboradores do grupo e marca Paradigma. A missão, aliás, plasma isso mesmo: “Sermos anfitriões de um novo paradigma de experiências gastronómicas – conectando pessoas, espaços e conceitos inovadores”.
“Parece falta de modéstia”, diz Diogo ao JE, mas “vejo-me como uma pessoa muito sensata e isso tem-me ajudado muito ao longo dos anos”. Especialmente para fazer valer as suas ideias e projetos quando os interlocutores não esperavam ter pela frente alguém tão novo. A idade é um obstáculo? “Sim”, responde, mas ressalva que o tecido empresarial tem vindo a mudar, na medida em que, hoje em dia, “existe todo um ecossistema de empreendedorismo, de jovens que empreendem e muitos com provas dadas”. Mas reconhece que “as muitas barreiras que encontrou” eram derrubadas sempre que tinha a oportunidade de falar presencialmente e de fazer o seu ‘pitch’.
A verdade é que a idade não o impediu de perseguir o seu “Paradigma”. Os últimos quatro anos são, aliás, contundentes nesse aspeto: Ofício, Lota, Canalha, Dona by Hugo Candeias, This Close, Vincent Farges no Time Out Market, Café do Paço e ISCO. Cerca de 130 colaboradores, um portefólio diversificado e vários sócios, sendo que cada operação tem a sua estrutura societária própria.
Mas vamos aos detalhes. O CEO do Paradigma, ou seja, Diogo Figueiredo, soube que o chef Hugo Candeias regressara de Barcelona e desafiou-o para liderar a cozinha do Ofício. Aposta ganha? Para o Guia Michelin, pelo menos, mereceu o título de Bib Gourmand… em menos de um ano. Entretanto, abriram a Lota, nas Avenidas Novas, e já este ano desafiou novamente Hugo Candeias a criar uma carta de autor em produtos do mar, trabalhados na grelha, com técnica e criatividade. E assim temos o Lota Sea & Fire.
Na verdade, poderia ter ficado por aqui, mas aquilo que o faz correr é a qualidade e não a quantidade. Daí que as parcerias tenham conquistado espaço e importância na estratégia do grupo. Daí a parceria com o chef João Rodrigues, no reputado Canalha, na Junqueira, em Lisboa, e também na Comporta. E uma outra parceria com Vincent Farges para o corner do Time Out Market. Paralelamente, foi traçada outra meta a aprofundar, isto é, a “visão” do grupo: não é imaginar “onde queremos estar”, “nós” Paradigma, mas sim “como queremos estar – de portas abertas a pessoas que se tornam comunidades e a ideias que se tornam experiências”.
Diogo admite que neste crescimento, o projeto mais desafiante foi o que se seguiu, i.e., a compra do Café do Paço, com o objetivo de preservar a identidade do espaço e conceito, quando o habitual é criar de raiz. “Nós entramos, fazemos, conceptualizamos tudo e operacionalizamos, e ali foi um desafio diferente e muito gratificante”. Acrescenta Diogo Figueiredo que, hoje, é “um lugar muito especial, onde se sente em casa, “porque são pessoas que já se conhecem há muitos anos, trabalham juntas há muitos anos, e têm uma relação especial com os clientes”.
Mas não só. Diogo aproveita para realçar outra faceta da marca Paradigma. “O Paço entrou no nosso portefólio numa lógica de preservação do património histórico e gastronómico”. Aliás, destaca igualmente que “muito importante os sítios onde nós estamos abraçarem-nos e sermos acolhidos. Porque também queremos acrescentar valores trazendo pessoas ao ‘bairro’ sem sermos bairristas”. No fundo, o que se pretende é que “a pessoa que vai ao restaurante passa a conhecer a padaria que há aqui ao lado, o café, e por aí fora”.
E entra em cena o perfil do cliente. É muito semelhante de espaço para espaço, ou há pontos comuns? “O que sentimos no grupo é que cada vez temos um perfil mais qualificado a visitar-nos, ou seja, quem nos visita é, tendencialmente, um cliente mais exigente, um cliente conhecedor do produto, com muito mundo, portanto, conhecedor daquilo que são espaços similares e que oferecem gastronomias de diferentes partes do mundo”.
A diversidade de conceitos e clientes importa e atesta o sucesso do caminho trilhado, porque a experiência que o cliente tem em cada espaço “é completamente diferente, pois são conceitos distintos e as pessoas procuram os restaurantes do grupo por isso mesmo”, alega, antes de acrescentar, com uma ponta de orgulho, que “é sinal de que nós estamos a fazer as coisas bem”.
Planos para o futuro? “Aprendi muito com quem pensava a longo prazo e aprendi também que as viagens podem dar ideias”. Diogo esteve recentemente em Londres e trouxe ideias que quer pôr em prática, diz. “Lisboa evoluiu muito nos últimos dez anos, e não só no setor em que operamos, restauração e hospitalidade”. E explica. Tornou-se uma cidade mais cosmopolita e ampliou o seu território. Temos, por exemplo, Cascais, com uma vertente gastronómica muito forte, Alcântara também está a crescer muito, temos a margem Sul, a Costa da Caparica”. Sem querer antecipar, deixa no ar uma pista. “O plano tem de ser macro, até porque o crescimento vai fazer com que estas áreas que até então eram periféricas se tornem mais centrais”. O que é que falta? “Faltam «espaços destino»”.
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