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Parcerias público-privadas são “essenciais” para acelerar 5G, diz primeiro-ministro espanhol

O líder do governo espanhol, Pedro Sánchez, afirmou esta segunda-feira em Barcelona que a colaboração público-privada é “essencial” para liderar o processo de revolução da rede 5G e acelerar a coesão social e territorial.
27 Fevereiro 2023, 17h16

O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, disse esta segunda-feira que a revolução da rede 5G é crucial para acelerar os processos de coesão social e territorial. Para isso, o líder do governo espanhol diz que é “essencial” pensar em colaborações público-privadas. Ainda assim, o político do PSOE pede às tecnológicas e, por arrasto, ao sector, que os processos de transformação digital sejam feitos a um ritmo “humanista”.

A mensagem do chefe de governo do país vizinho foi transmitida esta tarde, durante o Mobile World Congress (MWC) 2023, que decorre até dia 2 de março em Barcelona. Sánchez diz que a sua posição quanto à aceleração e implementação da rede 5G surge depois de “várias reuniões” com os líderes de algumas tecnológicas.

Entre as empresas ouvidas pelo primeiro-ministro espanhol estavam a Meta e a operadora Orange, que mantém uma operação significativa em Espanha e em França, mas não em Portugal. Também a norte-americana Cisco foi consultada pelo líder do governo e, curiosamente, é em Barcelona que a empresa planeia instalar o primeiro centro de desenho de semicondutores de nova geração, a serem fabricados em espaço europeu, tal como confirmou Sánchez, no final de novembro do ano passado.

Além destas, o primeiro-ministro espanhol reuniu também com o anterior vice-primeiro-ministro britânico, Nick Clegg, agora ao serviço da empresa de Zuckerberg.

Rara convergência

O MWC Barcelona decorre na cidade catalã desde 2006, apenas interrompido na sua génese convencional uma vez – pela pandemia. O evento é absolutamente central na agenda empresarial e industrial da cidade e incontornável para o sector global das telecomunicações, dos fabricantes aos operadores e, até, às startups e fintechs.

Há quem o compare à Web Summit, tanto em escala como em natureza, mas parece ser certo que o impacto económico em nada é comparável: o MWC deverá injetar na economia da cidade até 350 milhões de euros — quase o dobro do que a conferência de Paddy Cosgrave alegadamente gera para a capital portuguesa.

Contudo, o MWC é também um dos raros momentos de convergência entre o governo regional da Catalunha e o governo central espanhol. Apesar do protesto agendado pelos separatistas catalães para esta segunda-feira, pela presença do monarca espanhol, Filipe VI, na abertura do congresso, o MWC mereceu renovadas palavras de apreço por parte do presidente do governo regional da Catalunha (Generalitat de Catalunya), Pere Aragonès, durante a apresentação da região.

“O sector mobile colocou a Catalunha no centro mundial da tecnologia digital”, começou por celebrar Aragonès. “Temos hoje um sector em plena efervescência e cremos que a cada dia será mais forte”.

Ficam também feitas promessas de reforço do investimento, numa cidade já por si dominada pelas empresas tecnológicas. Segundo dados do governo regional, o sector tecnológico é um dos mais importantes na economia da cidade. Existem em média cerca de 14 mil ofertas de emprego direcionadas para esta área, que atrai sobretudo talento estrangeiro: um em cada cinco habitantes da cidade não é natural de Espanha.

Atualmente, e com base nos mais recentes Censos, a área metropolitana de Barcelona tem cerca de 5,6 milhões de habitantes, pouco menos do que a capital espanhola, Madrid, com 6,7 milhões.

“É por isto que alimentaremos o talento, investindo em formação, em centros de atividades ‘de ponta’ e com alianças para reforçar o ecossistema digital”, sublinha Aragonès.

Inimigo do meu inimigo

Ainda assim, e apesar da relativa convergência quanto à importância do sector na economia da cidade e, por sinal, na economia espanhola, há vozes dissonantes, mesmo dentro do governo espanhol. Foi o caso da ‘número 2’ de Sánchez, Nadia Calviño, que este sábado, em vésperas de chegada de milhares de participantes, aproveitou a deixa para criticar a autarquia e sublinhar a “decadência” do mercado de arrendamento da cidade, assombrado por preços elevados.

Calviño acusa a autarquia de ter à sua disposição instrumentos para mudar o rumo dos preços dos arrendamentos e colocou-se do lado dos operadores, ao pedir uma reforma legislativa “o quanto antes”. Em causa, está o uso de banda larga por parte das Big Tech. “É evidente que o desenvolvimento de novas infraestruturas necessita de um investimento massivo do sector público e privado. Todos os agentes têm de contribuir de forma justa para esse financiamento. Somos defensores de que, o quanto antes, se apresente um projeto-lei”, diz.

O tema marcou o debate desta segunda-feira, mas nem por isso a acusação inicial ficou esquecida pela presidente do município, Ada Colau, que respondeu durante a sua apresentação no MWC.

“Os dados económicos desmentem os debates catastrofistas que falam de uma ‘decadência’ de Barcelona”, começou por dizer a autarca, que se revela surpreendida pelas palavras escolhidas pela governante: “Surpreendeu-me muito, porque o seu comentário ou revela um desconhecimento das políticas de habitação ou má fé”.

Tanto Ada Colau como Pere Aragonès foram fotografados com Felipe VI na inauguração desta edição do MWC, mas recusaram participar na saudação protocolar ao monarca.

A presidente da câmara municipal de Madrid, Isabel Díaz Ayuoso, de visita a Barcelona esta segunda-feira, apelidou os dois políticos de “falsos” por não saudarem formalmente o monarca. “Nunca seríamos tão falsos ao ponto de não saudar o chefe de Estado, mas depois ir jantar com ele, ou pedir dinheiro ao presidente”. Num evento à margem, com empresários da cidade, Ayuoso celebrou o seu modelo económico “de liberdade” que, assegura, converteu Madrid “na locomotiva económico de Espanha”.

Discordância e frieza entre os governantes catalães e o governo central não será, contudo, novidade ou sequer motivo de estranheza. Pelo menos em Barcelona, que por estes dias volta a receber quase 100 mil visitantes, que não deixam de reparar, à chegada, nas muitas – mesmo muitas – bandeiras catalãs presas em varandas, estores e carros, frequentemente acompanhadas por um laço de luto.

O MWC decorre na Fira de Barcelona até quinta-feira, 2 de março, e deverá trazer à cidade mais de 80 mil participantes e 2.000 empresas.

 

*O jornalista viajou para Barcelona a convite da Huawei

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