Vou-me embora para Pasárgada, Lá sou amigo do Rei. 

Mas não, não vou para Pasárgada, nem sou amigo do Rei. Nem sou de ter ou querer as coisas fáceis e facilitadas da vida. Sou de combates, de lutar pelo que quero e pelo que considero justo. Não pretendo viver no mundo da ilusão, nem daquela que se acredita, nem daquela que se diz que acredita.

Ao fim de oito anos de militância cidadã empenhada na Assembleia Municipal de Lisboa, muitas coisas posso dizer e contar sobre a cidade e os seus problemas. A qualidade de Deputado Municipal em Lisboa exerce-se, e, no meu caso, procurei exercê-la principalmente com liberdade, enquadrada nos princípios e valores do partido político onde milito, o Partido Socialista, e visando os interesses da Cidade. Esta força da Assembleia deve muito ao trabalho e visão, defendidas pela anterior presidente da Assembleia Municipal, Helena Roseta, continuados pelo Rui Paulo Figueiredo e José Leitão, que lhe sucederam.

O debate na Assembleia Municipal de Lisboa, resultado das várias visões da cidade sufragadas pelos eleitores, foi muitas vezes intenso, e por vezes duro. Falamos de política, mas falamos também da vida, porque a política sem valores, sem ideais, sem visões e sem paixão, não é o exercício nobre que deve ser. O equilíbrio entre o mundo das ideias e o mundo sensível de que falava Platão não é fácil, mas é desejável. O verdadeiro combate político é feito com honestidade, respeito por todos e sentido democrático.

A Assembleia Municipal desempenha um papel decisivo no que diz respeito ao governo da cidade, servindo tanto de mediadora entre os munícipes e os decisores políticos, como de travão e, simultaneamente, farol para o executivo camarário. Não existe verdadeira democracia sem o respeito escrupuloso dos interesses dos cidadãos, sem a prevalência do interesse comum sobre os interesses particulares. Quando não é assim, não tratamos de política, tratamos de politiquice, onde as chamadas contas de merceeiro são mais importantes que o mérito, individual ou coletivo. A ação política tem de ser enformada por ideais, sob pena de, caso não o seja, estarmos a falar de outra coisa que não de democracia.

Os deputados municipais, quer do partido socialista, quer dos outros partidos, aqueles que com seriedade e empenho se esforçam por fazer de Lisboa uma cidade melhor para todos os que aqui habitam, trabalham ou visitam, têm consciência do verdadeiro foco da Assembleia Municipal: cuidar dos seus habitantes, independentemente da política partidária, num esforço democrático de inclusão das várias visões do que deve ser a cidade ideal. Que não é Pasárgada…

E foi com esses princípios em mente que me orgulho de ter lutado e defendido algumas causas importantes para o Governo da Cidade. Falo, por exemplo, da integração da Carris na Câmara Municipal de Lisboa. Os resultados positivos dessa decisão, sufragada pela Assembleia, cedo se manifestaram. Sem o controle municipal da Carris, a gestão dos transportes durante o Confinamento teria sido muito mais complicada. Assim como foi através da gestão municipal da Carris que se fez uma autêntica revolução na empresa, com a aquisição de veículos elétricos e a gás e na contratação de centenas de motoristas.

Igualmente defendi e defendo a Zer Avenida Baixa Chiado, Zona de Emissões Reduzidas, que visa permitir apenas o trânsito automóvel a veículos autorizados, táxis, veículos de residentes, elétricos e com um horário especial para cargas e descargas. Retirar o trânsito não local ao centro histórico vai trazer benefícios a todos, e passado o primeiro estado de estranheza, estou convicto que todos vão aplaudir a mudança. A rede de ciclovias associada a este projeto está já a transformar a mobilidade suave dos lisboetas e a incrementar as novas formas dos cidadãos olharem para o espaço público, um espaço para se desfrutar calmamente, a pé, de bicicleta, de trotinete, de skate.

Nestes oito anos em que estive na Assembleia Municipal de Lisboa, bati-me para que a vídeo vigilância fosse uma realidade em Lisboa, de forma a garantir mais segurança nas áreas problemáticas da Cidade. Os projetos estão lançados e espero que o sistema seja implementado no próximo mandato.

Terminando como comecei, com uma citação, esta não de Manuel Bandeira, mas sim de Anaïs Nin,“Não vemos as coisas como elas são, mas como nós somos”. Cada julgamento que fazemos, reflete mais de nós do que do outro. E é de nós que depende o rumo do mundo, da nossa fala, do nosso posicionamento, das nossas opções. É a visão de cada um e a visão de todos que faz o mundo mover.

Saio neste mandato da Assembleia Municipal de Lisboa, deixando um bem hajam, como se diz na minha cidade natal, Castelo Branco, a todos os cidadãos de Lisboa, certo que me esforcei para fazer o melhor que sabia, e podia. E certo que a Assembleia Municipal vai continuar a defender os melhores interesses dos Munícipes e da cidade.

O autor assina este texto na qualidade de Deputado da Assembleia Municipal de Lisboa, Partido Socialista (2013-2021)