Paulo Cardoso do Amaral vê a inteligência artificial não como uma tecnologia, mas como uma competência. O professor da Católica-Lisbon, que é engenheiro e doutorado em Sistemas de informação, explicou ao auditório da conferência AI Summit 2025, do Jornal Económico, que esta não é a primeira vez que assistimos a disrupções tecnológicas, a questão é que durante todo o processo de evolução tecnológica temos trabalhado com informação estruturada.
“A partir de hoje passamos a ter uma ferramenta que nos permite trabalhar informação não estruturada, da mesma forma que tínhamos ferramentas para trabalhar a informação estruturada”, afirma.
Informação não estruturada, significa, por exemplo, a conversa que mantinha com Ricardo Santos Ferreira, Subdiretor do JE que o entrevistava no LEAP 7Rios, onde se realizou a conferência.
“Nós não conversamos de forma matemática. Nós conversamos com conceitos”, esclarece, acrescentando: “Estas ferramentas passaram a conseguir transformar informação não estruturada em algo que permite comunicar, por isso é que se chama Chat”. Por isso é que a mais famosa ferramenta do género foi batizada de Chat GPT.
Face ao exposto, a questão é: Como é que nós, pessoas, empresas ou organizações vamos passar a trabalhar a informação não estruturada? Como vamos aprender a utilizá-la para inovar e para fazer estratégia num processo muito semelhante aquilo que aconteceu com a informação estruturada?
“A questão que aqui se coloca não é a da ferramenta, é a do processo de aprendizagem. E esse processo de aprendizagem põe tudo em causa. A começar pelo ensino, passando pela forma como as pessoas trabalham as suas competência e as utilizam na organização…”, refere.
O sistema de ensino enfrenta, desde logo, grandes desafios. O mote tem de ser na capacitação, incluindo a própria capacitação desse sistema. Esse é o problema, admite Paulo Cardoso do Amaral. “Por detrás da aprendizagem está um conceito ainda mais difícil de que raramente se fala que é a aprendizagem da própria aprendizagem. Ou seja: aprender a aprender”. Isso é algo, adianta, que tem que começar a ser trabalhado desde cedo.(…) Há coisas que só em tenra idade conseguimos desenvolver. É, claro, que podemos sempre desenvolver procedimentos, obviamente que a capacitação é possível”, mas há uma questão de fundo: Como se aborda a questão da aprendizagem da aprendizagem?
O essencial é aprender a aprender, o que significa “ter capacidade de lá à frente pôr tudo em causa e, de repente, dar a volta, porque temos capacidade para isso”, salienta Paulo Cardoso do Amaral.
O problema tem transposição para as empresas. E desiludam-se, pois, não vamos lá apenas com o líder a dar ordens: “Sejam excelentes! Aprendam! ” A resposta passa por outros caminhos, salienta o professor, que coordena o Executive Master in Digital Innovation e leciona nos mestrados, licenciaturas e no The Lisbon MBA: “As pessoas têm que ser levadas, motivadas, tem que haver um trabalho muito emocional da liderança para que tal seja possível”.
Como se ajuda, então, essa multidão de trabalhadores a adaptar não só à ferramenta mas à evolução da ferramenta? – questiona Ricardo Santos Ferreira.
Liderança é a chave, responde Paulo Cardoso do Amaral. Nas suas palavras, tal significa que os líderes vão ter que aprender a interagir com as emoções das pessoas que estão a liderar. “Não é possível aprender a aprender sem passar por um processo de tolerância ao erro, tolerância ao falhanço. Ninguém aprende a andar sem cair. Todo o processo de aprendizagem é um sofrimento, na verde”.
Segundo adianta, “o líder tem que gerir as disfunções e tem que arranjar forma e criar mecanismos de grupo onde as pessoas em vez de terem receio de falhar, tenham mais recompensas, porque tentaram e porque isso foi reconhecido socialmente”.
O problema tem que ser tratado a montante. Numa estrutura rígida bem se podem despejar todas as ferramentas de IA que a única coisa que se conseguir é “aumentar um pouco a eficiência da organização. Não terá impacto estratégico nenhum”, garante.
Resumindo, diz: “Eu sou contra uma visão instrumental destas tecnologias, pensando que tudo fica como está e nós vamos introduzir um bocadinho mais de capacitação, vamos criar mais uns cursos… O que vai fazer a diferença é mexermos nas pessoas de forma eficaz, de maneira que elas a seguir tenham capacidade de saber o que é que têm que aprender”.
Entre a Europa e o mundo anglo-saxônico existem muitas diferenças, mas quase que se podem resumir à comparação entre um jardim francês, desenhado a régua e esquadro, e um jardim inglês, que deixa as pessoas passar primeiro e depois embeleza. “A nossa economia toda ela baseia-se na lei. A forma como a lei é aplicada nos dois lados do mundo é completamente diferente. Lá é mais aberto, cá tudo é regulado ao milímetro”. Eles têm vantagem, porque sendo mais participativo, aquilo que é regulado está mais próximo daquilo que as pessoas precisam.
Paulo Cardoso do Amaral admite que temos dificuldades, mas nem tudo são más notícias. “O facto de termos a regulação que temos também permite, por exemplo, que eu consiga identificar os cidadãos de forma inequívoca, coisa que os americanos não conseguem. Eu prevejo que dentro de alguns anos (poucos) nós teremos a capacidade de dar um salto muito significativo, se os nossos governantes estiverem alerta, porque podemos aproveitar o facto essa identificação ser possível para mexer na economia à séria, o que eles não podem, porque eles nunca vão ter esse problema resolvido”.
Tagus Park – Edifício Tecnologia 4.1
Avenida Professor Doutor Cavaco Silva, nº 71 a 74
2740-122 – Porto Salvo, Portugal
online@medianove.com