Paulo Macedo, CEO da Caixa Geral de Depósitos, falava no Webinar organizado pelo Banco de Portugal e pelo Banco Europeu de Investimento (BEI), sobre os desafios em Portugal no contexto da crise de Covid-19.
“O maior desafio é lidar com a incerteza da duração da pandemia”, começou por dizer o presidente da CGD.
“Uma política monetária (UE) e fiscal (Estado) adequada, implementada de forma rápida e coordenada a curto e médio prazo e um apoio da UE a longo prazo foram decisivos”, para reagir à crise. Sem esses instrumentos a crise poderia ter tido consequências mais devastadoras ao nível da evolução do PIB.
Para além da política monetária do BCE, Paulo Macedo elogiou a reação rápida do Estado com a concessão de liquidez às empresas, com o lay-off e o apoio à retoma, que ajudou a suportar famílias e empresas (sobretudo PME).
O presidente da CGD disse que era crítico o sucesso da execução do Plano de Recuperação e Resiliência nacional (PRR). Isto é, é importante garantir que os 45 mil milhões de euros que vêm da Europa serão canalizadas para as empresas e projectos viáveis.
Dada a robustez do sistema financeiro, a banca é parte da solução, nesta crise, ao contrário da crise anterior (crise financeira), em que os bancos foram parte do problema, salientou ainda o CEO da CGD.
Paulo Macedo falou dos vários desafios para a economia portuguesa. No início da pandemia o maior desafio era manter o tecido económico, assegurando a manutenção da capacidade produtiva apesar do confinamento. Aqui destacou a importância dos juros historicamente baixos (que ajudam as empresas). Tal como tem repetidamente dito em vários fóruns, Paulo Macedo voltou a frisar que os custos de financiamento são historicamente baixos e isso é um desafio para os bancos.
“É também relevante o tipo de ajuda de Estado que cada país tem”, disse.
Outro dos desafios é o fim das moratórias (em setembro de 2021). O que mais preocupa o CEO da CGD é o crédito a empresas que por causa do confinamento deixaram de ter cash flows para pagar os créditos. Empresas que, se não fosse a pandemia, eram viáveis.
Paulo Macedo lembrou que esta crise tem um impacto altamente assimétrico nos vários sectores. Evidentemente que as atividades relacionadas com o “gathering people” foram as mais afectadas. A restauração, a organização de eventos, a indústria de entretenimento, a cultura, o turismo, as viagens, o comércio, etc, foram os mais afectados pelo encerramento da economia.
O CEO da Caixa defendeu ainda a necessidade de renovação do investimento. Isto é, de fazer crescer o investimento noutras áreas que não apenas o investimento em infraestruturas, e citou como exemplo o investimento na digitalização e o investimento verde (ambientalmente responsável).
Tratando-se de um Webinar organizado pelo Banco de Portugal e pelo BEI, Paulo Macedo salientou o papel do BEI nas linhas de crédito garantidas pelo Estado às empresas, nomeadamente a PME.
O Banco Europeu de Investimento (BEI) é a instituição de concessão de crédito de longo prazo da União Europeia, detida pelos Estados-Membros da UE, que disponibiliza financiamento a longo prazo “para investimentos sólidos”, a fim de contribuir para os objetivos de políticas da UE.
“Manter a política monetária da UE alinhada com a política fiscal é outro desafio “, destacou ainda Paulo Macedo. A rapidez de reação quer da UE, quer do Governo foi muito positiva, “e é uma grande diferença em relação à última crise”, disse o banqueiro.
“O que é importante é que os instrumentos de apoio (corte de juros, compra de ativos, moratórias etc) foram coordenados dentro da UE, o que permitiu a criação de programas de resiliência em todos os países da Europa”, disse. No entanto o impacto será diferente de país para país dadas as vicissitudes de cada um deles.
Paulo Macedo destacou aquele que é consensualmente o maior ponto fraco da economia portuguesa, e que prejudica a capacidade das empresas de acesso a funding: o aumento da dívida.
Por isso, um dos desafios elencados pelo CEO da CGD é a capitalização das empresas, e sobretudo das PME (pequenas e médias empresas). Apesar dos instrumentos de ajuda estatal e europeia, é preciso que os balanços das empresas sejam equilibrados e por isso Paulo Macedo defendeu a emissão pelas empresas de instrumentos financeiros de “quase capital”. Isto “claramente é um desafio”.
Especificamente para o sector bancário, os desafios cruzam-se com os desafios para a economia.
É já um clássico que existe um risco de subida do crédito malparado no fim das moratórias, e o CEO da CGD voltou a invocá-lo na sua apresentação. “É preciso garantir que as empresas viáveis são ajudadas a retomar o pagamento dos créditos, que ficou suspenso com as moratórias, de forma a não termos um tsunami de NPL – Non Performing Loans”, defendeu Paulo Macedo.
O banqueiro alertou que nos próximos anos haverá uma estagnação das receitas dos bancos na Europa. “O bancos não vão regressar aos números pré-crise antes de 2023”, disse.
Os bancos são, nesta crise, parte da solução da recuperação da economia, frisou. “Os bancos têm mais liquidez e estão melhor capitalizados com maior capacidade de dar crédito à economia e estão a transmitir às empresas e famílias as vantagens da política monetária acomodatícia [uma política de juros negativos, compra de ativos, diretivas sobre a evolução dos juros no futuro e uma série de operações de empréstimo]”, adiantou.
Mas o CEO da CGD alertou que vem aí uma nova vaga de limpeza do balanço e da demonstração de resultados. “Os bancos têm de estar preparados para isso”, disse. Bem como haverão desafios decorrentes da aplicação de novos regulamentos e buffers de capital. Estes são alguns dos passos que se vão seguir à crise, na opinião de Paulo Macedo.
O CEO da Caixa lembrou que a banca é vulnerável ao contexto económico, pelo que a queda do PIB (-7,6% em 2020) é um desafio para os bancos. Assim como as baixas taxas de juros (-0,5% de euribor a 12 meses), que são um risco não só pelo impacto negativo nas receitas dos bancos como potenciam a tentação de procurar por investimentos de maior risco e com elevadas yields.
Num ambiente incerto com taxas de juros baixas, os dividendos das ações são escassos e os rendimentos dos títulos soberanos caem, restam as obrigações de maior risco com “high yield“.
Rentabilidade abaixo do custo de capital
“Baixa rentabilidade e baixos lucros; rendimentos de títulos estruturalmente baixos; a ineficiência de custos; o rentabilidade abaixo do custo de capital e a fraca capacidade de atrair investidores, são alguns dos problemas dos bancos na atualidade”, são alguns dos desafios que se apresentam ao sector bancário, defendeu Paulo Macedo.
“Mais de 70% dos bancos europeus não remunera o custo do capital”, alertou o banqueiro que lembrou que assim é difícil atrair investidores.
O presidente da CGD considera que é preciso aproveitar a oportunidade de digitalização para responder à estagnação das receitas do bancos. Os custos têm de ser reduzidos porque a margem financeira continua a cair, defendeu.
O CEO da Caixa lembrou que a acompanhar a contração das receitas tem de estar um corte de custos.
Todas as crises criam oportunidades, e Paulo Macedo elencou as oportunidades que esta crise criou para o sector bancário. A pandemia acelerou a digitalização da atividade bancária e fez crescer o negócio digital dos bancos portugueses.
“Investimento em tempos de Covid-19, digitalização e mudanças climáticas” foi o tema do painel do Webinar “Investimento, Digitalização e Financiamento Verde: O Caso Português, organizado pelo Banco de Portugal e pelo Banco Europeu de Investimento (BEI), em que participou o presidente da CGD.
No painel participaram Debora Revoltella, Economista-Chefe, Banco Europeu de Investimento; Birthe Bruhn-Léon, Diretora de Operações Iberia, do BEI; Paula Guerra, Diretora de Gestão Financeira na EDP e Helena Adegas, Chefe do Departamento de Mercados, do Banco de Portugal.
O Webinar contou com a participação do Governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, e do Vice-presidente do BEI, Ricardo Mourinho Félix.
O Banco de Portugal reforçou o seu forte compromisso com o apoio a práticas de investimento ambientalmente responsáveis.
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