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Paulo Raimundo: a continuidade em versão pós-25 de Abril

A substituição de Jerónimo de Sousa à frente do PCP resultou na escolha de um perfil que se assemelha em tudo ao secretário-geral de quase duas décadas: um operário, que sabe exatamente qual é a língua que falam os trabalhadores.
7 Novembro 2022, 17h06

É, ou vai ser, o primeiro secretário-geral do PCP que não conheceu o antigo regime: nascido pouco depois de 1974, Paulo Raimundo traduz uma mudança geracional, mas não uma mudança de rumo, assegura o próprio partido através da sua biografia oficial. Nas poucas manifestações públicas que se lhe conhecem, Paulo Raimundo assegura a continuidade em termos de discurso, de postura política e do uso dos chavões (o que chegou a chamar-se ‘a cassete’, léxico que caiu em desuso, tal como o próprio artefacto). Para trás ficaram – mas isso são os analistas que o dizem – uma mão cheia de nomes que, tudo o indicava, estavam na primeira fila da sucessão de Jerónimo de Sousa: João Ferreira, João Oliveira, Bernardino Soares, ou o um pouco mais velho António Filipe.

Os pais são naturais do concelho de Beja, mas Paulo Raimundo nasceu em Cascais, concelho onde os pais trabalhavam há 46 anos, como funcionários do Estoril Futebol Clube, em cujas instalações também residiam. Ainda novo, aos 3 anos, foi viver para Setúbal e aí frequentou a Escola Primária do Faralhão, freguesia do Sado. Foi o seu primeiro contacto com as conquista de abril: a escola surgiu das reivindicações da população “na dinâmica do trabalho solidário e voluntário dos trabalhadores e populações da localidade”, refere a sua biografia.

Frequentou a telescola no 5.º e 6.º anos e depois disso a escola Ana de Castro Osório, na Bela Vista, ainda em Setúbal, até ao 9.º ano de escolaridade, período durante o qual teve o primeiro contacto com o trabalho (ajudava a mãe a pescar marisco) e com a luta estudantil – que a organização juvenil do PCP a JCP, gosta de começar cedo. Passou à condição de trabalhador-estudante e acabou o seu percurso escolar finalizando o 12.º ano, a estudar à noite, na Escola Secundária D. Manuel Martins, também em Setúbal.

Trabalhou em carpintaria, foi padeiro e animador cultural na Associação Cristã da Mocidade (ACM) na Bela Vista, “realidades que lhe permitiram sentir as contradições do dia-a-dia, a realidade do trabalho mal pago, da exploração e da precariedade e, por outro lado, ter a vivência da camaradagem e da solidariedade entre os trabalhadores”.

Paulo Raimundo aderiu à Juventude Comunista Portuguesa em 1991 e em 1995 passou ao seu quadro de funcionários. É membro do PCP desde 1994 e funcionário do partido desde 2004. Foi membro da Direção Nacional, da Comissão Política e do Secretariado da JCP e foi eleito na Assembleia Municipal de Setúbal. Em 1996, no XV Congresso do PCP, foi eleito membro do Comité Central e na reunião magna seguinte, em 2000, foi eleito para a Comissão Política – tendo acabado por assumir a responsabilidade da organização regional de Braga do PCP, uma das áreas de mais difícil implantação do partido – que ali sentiu os primeiros ‘calores’ do Verão Quente de 1975. No XX Congresso foi eleito para o Secretariado do Comité Central, para depois se eleito para a Comissão Política e o Secretariado do Comité Central.

“Paulo Raimundo associa qualidades humanas próprias a uma experiência densa e diversificada, um trabalho político em múltiplas áreas de organização e intervenção com responsabilidades pelo trabalho da juventude e da JCP, integração e direção de organizações regionais, tarefas nas áreas sindical, de acompanhamento de sectores e empresas e dos serviços públicos, entre muitas outras”. A biografia oficial especifica ainda que Paulo Raimundo é casado e tem três filhos.

E é, também, alguém, subtende-se na nota biográfica, que está no mesmo patamar que Jerónimo de Sousa: próximo dos trabalhadores, das suas reivindicações, dos seus ‘sindicalismos’. Foi esse o ‘target’ que venceu internamente no PCP – deixando mais uma vez de lado os ’jovens turcos’ que se sentem à vontade em áreas (principalmente na economia – como é o caso mais claro de Bernardino Soares e das suas pelejas com a ex-ministra Manuela Ferreira Leite num programa televisivo) que não são o ‘core’ do partido.

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