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Pedro Castro e Almeida diz que a criação do Banco Português de Fomento “é uma boa ideia”

O CEO do Santander referiu que existem exemplos de países onde o banco de fomento funciona “bem”. Numa conferência promovida pela Associação Cristã de Empresários e Gestores, apelou ainda à dinamização da economia através de capital e não de dívida, e disse, segundo os dados que tem à data, a situação económica do país futura não é alarmante.
1 Julho 2020, 20h31

“É uma boa ideia”, disse Pedro Castro e Almeida, presidente executivo do Santander, sobre a criação do Banco Português de Fomento (BPF), um dos projetos assumidos pelo ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, inserida no quadro de apoio à economia.

O CEO falava na sexta edição do ciclo de conferências “Construir a Esperança”, uma iniciativa da Associação Cristã de Empresários e Gestores (ACEGE), que decorreu esta quarta-feira através de meios telemáticos.

Questionado sobre a importância da criação do BPF no contexto da recuperação económica da empresas, Pedro Castro e Almeida disse que a vê “com expectativa” e que poderá “contribuir para agilizar o processo de [dar] incentivos à economia”. “É uma boa ideia, vemos casos onde existem bancos de fomento, e na Alemanha e em França funcionam bem”, frisou.

O primeiro passo para a criação do Banco de Fomento já foi dado quando o Governo aprovou, no passado dia 16, a fusão da Instituição Financeira de Desenvolvimento (IFD) e da PME Investimentos na SPGM, mas a aprovação do decreto-lei foi apenas “na generalidade”. Para sair do papel, haverá ainda um período de audições, no qual participará o Banco de Portugal, e ainda obter a autorização de Bruxelas.

O BPF terá por missão principal suprir falhas de mercado na oferta de produtos financeiros, nomeadamente, concedendo garantias bancárias, participar no capital de empresas ou, entre outras, conceder financiamento com prazos alongados nos setores em maiores dificuldades.

O presidente executivo do Santander defendeu ainda dinamizar a economia numa vertente mais “pró-capital” e detrimento da dívida. “É verdade que as empresas portuguesas têm um défice de capital muito grande e temos um sistema fiscal que está completamente enviesado para um enquadramento pró-dívida e não pró-capital. Uma das coisas que devia ser feito era, em vez de distribuir dinheiro com critérios, provavelmente seria olhar para o sistema fiscal das empresas, criar incentivos mais para capital e não para dívida, e também das famílias. Acho que era essa a melhor maneira de dar maior dinâmica à nossa economia”, afirmou.

Pedro Castro e Almeida foi também questionado sobre o que poderá acontecer no período pós-moratórias, que o Governo prolongou até 31 de março de 2021, quando aprovou o Programa de Estabilização Económica e Social (PEES). Salientando a importância do turismo para a economia nacional — “Portugal é o terceiro país do mundo em que, direta ou indiretamente, o turismo tem maior peso no PIB” — disse que “o período pós-moratórias vai ter muito que ver com a recuperação económica. “Se nós tivermos uma recuperação do PIB relativamente rápida no próximo ano — e Portugal com pré-reservas no turismo para a primavera e o verão — acho que não vai haver um drama pós-moratórias. Se [demorar mais tempo a recuperar] poderemos ter uma situação pior do que a crise de 2012”, alertou.

Ainda assim, o CEO do Santander relativizou a questão: “Os indicadores que eu tenho até à data não são de uma preocupação alarmante”. Referiu que o primeiro impacto sentido ao nível do desemprego se deu “nos estagiários, trabalhadores temporários e restaurantes [estrangeiros]” e que o segundo impacto dependerá do que suceder, em termos económicos, a seguir ao verão. “O segundo impacto tem que ver com o impacto pós-verão, porque as empresas vão ver no que isto dá e provavelmente vão pensar em termos de eficiência e redução do quadro pessoas”, argumentou.

O teletrabalho foi outro dos assuntos abordados durante a conferência da ACEGE. Sobre este tema, Pedro Castro e Almeida realçou que tem coisas “boas” e coisas “menos boas”. Como ponto positivo, destacou que as empresas terão “poupanças em bens consumíveis e permite ganhar eficiência” e uma melhor gestão do tempo. Em relação aos recursos humanos, Pedro Castro e Almeida realçou que as pessoas ganham tempo porque deixam de fazer tantas viagens entre casa e o trabalho.

No ponto de vista das coisas “menos boas”, o CEO do Santander referiu que as reuniões através de meios digitais, como a plataforma Zoom, por vezes, escondem detalhes importantes: “Há coisas que só se sentem presencialmente, como a linguagem corporal, pequenos gestos que muitas vezes passam despercebidas” nos meios telemáticos. E, ao nível da gestão de equipas, Pedro Castro e Almeida referiu que “se e perde muito com esta experiência de 100% em teletrabalho”.

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