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Pedro Reis queria mais força, Montenegro tirou-lhe o tapete

Ex-governante queria fazer subir a Economia na hierarquia. Opção recaiu num novo ministério. Antes do anúncio ainda houve um comunicado conjunto de Pedro Reis e Castro Almeida.
JOSÉ COELHO/LUSA
6 Junho 2025, 06h53

A mudança do titular da pasta da Economia foi uma surpresa total, para os envolvidos e para os empresários. Fontes próximas do processo avançaram ao JE que o atual ministro e o ex-ministro “foram apanhados de surpresa” com a decisão de Luís Montenegro em juntar a Economia com a Coesão Territorial num único ministério liderado por Manuel Castro Almeida, levando à saída de Pedro Reis do elenco governamental.

Uma dessas fontes é mesmo perentória: Pedro Reis “foi atropelado por um camião sem ver a matrícula”, numa alusão que o ex-governante foi apanhado de surpresa com os planos do primeiro-ministro, cuja decisão terá sido comunicado no próprio dia em que levou a lista dos ministros ao Presidente da República, imediatamente antes a tornar-se pública.

A mesma fonte diz ainda que “este é um dos casos em que 1+1 [Economia mais Coesão Territorial] não dá 3, dá 1”. Explica aqui que “claramente houve uma opção pela aceleração dos fundos comunitários e o cumprimento do PRR em detrimento da economia”, lembrando que ao final da manhã de 4 de junho, dia em que Montenegro anunciou a lista dos ministros ao fim da tarde, foram reveladas as conclusões do relatório da Comissão Nacional de Acompanhamento do PRR (CNA-PRR) com alertas sobre a execução da bazuca europeia. Segundo a entidade liderada por Pedro Dominguinhos a situação agravou-se face ao último relatório: um terço dos investimentos do PRR estão em risco. Projetos críticos mais do que duplicaram em apenas meio ano, contaminando metade das componentes do PRR. São assinalados atrasos persistentes, falta de capacidade técnica e entraves administrativos comprometem as metas e os prazos acordados com Bruxelas, dando-se conta de que a recomendação de uma task-force já foi lançada.

As fontes contactadas pelo JE chamam a atenção que na manhã da divulgação dos alertas da CNA-PRR o ministério da Coesão Territorial emitiu um comunicado para “responder a notícias menos boas”, preparado em conjunto com o Ministério da Economia, onde se dava conta do lançamento instrumento financeiro destinado a investimentos inovadores em empresas, com uma dotação inicial de 315 milhões de euros através de verbas sobrantes de outros programas.

Neste comunicado, divulgado pela agência Lusa logo às 7:16, Pedro Reis é citado, atribuindo ao então ministro da Economia esta frase: “Por se tratar de um instrumento financeiro gerido por um banco promocional, o BPF, a sua execução será mais flexível em termos de ritmos e prazos de execução”.

“Com este comunicado, constata-se que foi preparado em conjunto na véspera do anúncio dos novos ministros (3 de junho), indiciando que ambos não sabiam dos planos de Montenegro para o novo elenco governativo quando preparam uma comunicação friendly e institucional”, avança uma dessas fontes, notando que “caso soubessem não fariam uma comunicação com referências a Pedro Reis, nem tão pouco o então governante iria querer frases suas na nota de imprensa”. Ainda assim fontes governamentais rebatem este argumento com “a regra é colaborar uns com os outros até ao último dia, que é o correto”.

Este argumento é, porém, rebatido por fontes próximas ao processo que dão ainda conta de que “Pedro Reis estava a trabalhar normalmente no dia anterior a olhar para a frente”, acrescentando também que o ex-governante “terá pedido a Montenegro para o Ministério da Economia subir na hierarquia do Executivo” – posicionado na 12ª posição no XXIV Governo, muito atrás da 4ª posição do Ministério da Coesão Territorial, que manteve este lugar na hierarquia no novo governo que agora tomou posse.

Resta agora saber quando é que este pedido foi endereçado a Luís Montenegro e a sua avaliação quanto à subida da Economia na hierarquia, não terá ditado a saída de Pedro Reis. Certo é que a Economia acabou por subir oito lugares com a junção à Coesão Territorial, mas agora sob a batuta de Castro Almeida com empresários a temerem que a Economia fique subalternizada aos Fundos de Coesão.

O JE confrontou Pedro Reis e Castro Almeida com a surpresa da saída do Governo e criação do novo ministério da Economia e Coesão Territorial, mas até ao fecho desta edição não obteve qualquer resposta.

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