De acordo com o INE, Portugal vai perder população até 2080, passando dos atuais 10,3 milhões para 7,7 milhões de residentes, ficando abaixo dos 10 milhões já em 2033. Para além do declínio populacional, haverá um agravamento do envelhecimento demográfico: o número de jovens diminuirá de 1,4 milhões para 900.000, enquanto o número de idosos deverá aumentar de 2,2 milhões para 2,8 milhões. Prevê-se, aliás, que, em 2060, a idade do grupo mais populoso da população seja de 83 anos (hoje já é de 42 anos). Refira-se que estas projeções pressupõem saldos migratórios sempre positivos.
A evolução demográfica aqui retratada consubstancia evidentes riscos para a sustentabilidade socioeconómica do país, desde logo pela escassez de jovens no mercado de trabalho. Sendo os jovens a faixa etária mais representativa da população ativa, o envelhecimento populacional fará baixar a mão de obra disponível e, consequentemente, elevará o custo da mesma. Por outro lado, é de esperar uma quebra da produtividade, uma vez que os jovens são, por princípio, mais produtivos do que os trabalhadores em final de carreira. Acresce que, pelas suas características naturais, os jovens trazem à economia iniciativa, dinamismo, inovação, criatividade…
Ora, a economia portuguesa tem já hoje um problema sério de produtividade, causado, em boa medida, pelo défice de qualificações da mão de obra e pela deficiente organização interna de muitas empresas. A produtividade é apontada, aliás, como um fator-chave para reforçar a competitividade das empresas e aumentar o crescimento potencial do país. Por conseguinte, mesmo que a automação e robotização de processos na indústria atenuem a falta de jovens, o envelhecimento populacional pode, de facto, agudizar um dos problemas estruturais da nossa economia: a produtividade.
Também não é despiciendo para a nossa economia o agravamento dos encargos com a terceira idade, designadamente os custos da segurança social (aumentam os reformados ao mesmo tempo que diminuem os contribuintes) e da assistência médica a uma população cada vez mais longeva. O cenário que se desenha põe em causa a sustentabilidade do Estado social, obrigando a uma profunda reforma do modelo que tem vigorado na Europa – algo que exige engenho mas também coragem política.
O fator que pode contrariar, ou pelo menos minorar, esta sombria evolução demográfica é a natalidade, embora esta esteja a ser constrangida pela redução dos escalões etários mais férteis. Ainda assim, aumentar a natalidade deve ser uma prioridade nacional. E por isso custa entender que não haja políticas públicas mais ambiciosas de promoção da natalidade, nem sequer um debate mais aceso sobre este problema na nossa sociedade. O país dispensa imenso tempo às “causas fraturantes”, não parando para pensar sobre uma questão que faz perigar o futuro de Portugal enquanto nação independente e sustentável.