Portugal tem visto o empreendedorismo de lifestyle crescer a olhos vistos, com a maioria destes negócios a nascer por motivações pessoais. Um novo estudo do ISCTE mostra que estes negócios virados para o lifestyle já representam 6,5% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional.
Uma das muitas vantagens deste tipo de negócios é que não são dirigidos apenas a um segmento, espelhando-se em sectores como agricultura, saúde, bem-estar e mesmo artesanato. Mas estes negócios têm mostrado um impacto mais significativo no sector do turismo, correspondendo a um quinto do PIB português.
Os dados recolhidos pelo instituto mostram que perto de um terço da atividade turística é desenvolvida por microempresas com negócios orientados para este ramo. No entanto, o professor do ISCTE adianta que este valor pode ser superior, uma vez que há sectores que não são contabilizados nas estatísticas do turismo.
“Estes valores mostram que o empreendedorismo de lifestyle não é apenas uma escolha de vida, mas sim uma componente vital para a diversificação e sustentabilidade da economia portuguesa”, aponta Álvaro Dias, investigador do ISCTE e autor do livro que comporta este estudo.
Uma das maiores evidências desta análise ao sector do lifestyle é que, contrariamente ao empreendedorismo tradicional, estes negócios não procuram o lucro como o seu principal objetivo, uma vez que são mais estimulados pela paixão e seguir os seus valores pessoais.
“Cerca de 80% destes empreendedores não procuram o crescimento a qualquer custo: para eles o sucesso está em viver ao seu próprio ritmo, de acordo com os objetivos que escolheram, preservando a sua qualidade de vida”, adianta Álvaro Dias.
Na verdade, e segundo adianta o investigador, a popularidade deste tipo de negócios tem vindo a crescer em Portugal desde a última crise económica de 2011-2013. O território nacional viu vários negócios crescerem neste tempo, com pessoas a verem-se desempregadas e a seguirem paixões.
No entanto, e apesar do peso que já têm na economia portuguesa, estes negócios continuam a enfrentar desafios significativos no acesso a financiamento, uma vez que os “atuais critérios de financiamento são baseados no potencial de crescimento e escalabilidade, fatores que não se alinham com os objetivos destes empreendedores”.
“É essencial redefinir os modelos de financiamento, criando alternativas às fontes tradicionais e dando mais peso à sustentabilidade económica, social e ambiental, bem como à autenticidade das experiências oferecidas por estes negócios”, sublinha. Para Álvaro Dias, o “financiamento deve reconhecer que o crescimento nem sempre é o objetivo final, e que a criação de valor pode surgir de outras formas”.
Ainda assim, o investidor sustenta que este tipo de empreendedorismo pode ser uma resposta eficaz à massificação do turismo. “Estes negócios oferecem experiências mais genuínas e personalizadas, que valorizam a autenticidade e a qualidade em detrimento da quantidade. Este tipo de empreendedorismo tem o potencial de requalificar o turismo e de oferecer alternativas mais sustentáveis e enriquecedoras, tanto para os visitantes como para as comunidades locais”.
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