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Pesca comercial pode sofrer impacto com incumprimento do Acordo de Paris

Para que se mantenha o atual nível de exploração, realçou que as frotas teriam de efetuar “viagens maiores” para acompanharem esse movimento das espécies e que seguir de “uma forma mais clara o Acordo de Paris” acabará por se traduzir em “menores impactos económicos para o setor das pescas e a sociedade”.
3 Julho 2021, 16h58

A pesca de espécies como o bacalhau, robalo ou linguado podem sofrer um grande impacto caso não se cumpra o Acordo de Paris, diz uma investigação da Universidade do Algarve.

O estudo realizado por três investigadores do Centro de Ciências do Mar (CCMAR) centrou-se em dois cenários de cumprimento ou não do Acordo de Paris em 10 espécies-alvo de pesca comercial e concluiu que se deslocarão mais para norte, o que irá trazer prejuízos para o setor das pescas ou obrigá-lo a reajustar os seus métodos de captura.

“As espécies vão migrar para locais onde não estão neste momento, o que leva a mais custos na viagem para as pescar ou a uma adaptação forçada da frota às novas espécies, porque as que cá vão ficar, não são as que cá estão agora”, afirmou à Lusa Manuel Dias, um dos autores do estudo.

Para Manuel Dias a “grande novidade” no estudo – que faz uma previsão até ao ano 2100 – está na utilização de “mais dados como temperatura, salinidade, produtividade primária e oxigénio” que possibilitaram calcular os “potenciais impactos económicos no setor das pescas”.

Os autores analisaram qual a “sobreposição da distribuição das espécies em áreas de alta pesca neste momento” e puderam concluir que estas “iam mover-se para fora das áreas onde a pesca é mais intensiva”.

Para que se mantenha o atual nível de exploração, realçou que as frotas teriam de efetuar “viagens maiores” para acompanharem esse movimento das espécies e que seguir de “uma forma mais clara o Acordo de Paris” acabará por se traduzir em “menores impactos económicos para o setor das pescas e a sociedade”.

Manuel Dias apontou que o futuro pode trazer dois cenários ao setor das pescas, caso as alterações climáticas não sejam contidas.

Por um lado, as espécies podem manter-se no local atual, mas “numa abundância muito menor” e caso a exploração se mantenha igual, irá “acabar com os stocks”.

Por outro lado, as espécies poderiam passar a ser mais exploradas — já que a sua migração aumentará a sua abundância noutro local – mas como as quotas são determinadas com base em informação “mais antiga e não refletem a realidade”, não será possível explorá-las “ao máximo”, destacou.

O investigador revelou existir também a opção de passar a pescar as novas espécies invasoras – que se instalem em locais onde atualmente não existem — como forma de compensação pela perda do pescado verificada atualmente.

“Já sabemos que espécies é que se vão embora, outro passo interessante é saber que espécies é que podem potencialmente vir para cá, qual o impacto no stock de pescas e que tipo de frota seria necessário”, concluiu.

O estudo assinado também por David Abecassis e Jorge Assis foi publicado na revista Global Ecology and Biogeography e centrou-se em 10 espécies com interesse económico demonstrado em todo o Oceano Atlântico Norte na costa europeia e americana como o robalo, a pescada, o bacalhau, o linguado, o arenque, a enguia, o verdinho ou a raia-lenga.

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