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Pippo Russo sobre ‘caso Marega’: “Não foi caso único em Portugal. Episódio marca ponto de não retorno”

Em entrevista ao Jornal Económico, o sociólogo e jornalista italiano refere que a atitude tomada pelo jogador do FC Porto no encontro com o Vitória de Guimarães colocou a questão do racismo “na agenda do debate público em Portugal”. “Não é normal ser-se insultado pela cor da pele e quando isso acontece significa que chegou a hora de parar”, diz.
  • Cristina Bernardo/Jornal Económico
19 Fevereiro 2020, 07h57

Os insultos racistas de que foi alvo o jogador do FC Porto, Marega, na partida do último domingo frente ao Vitória de Guimarães, continuam não só a marcar a atualidade nacional, como tiveram destaque no panorama internacional. Pippo Russo, jornalista e sociólogo italiano, afirma em declarações ao Jornal Económico, que “o episódio de Marega marca um ponto de não retorno” no futebol português.

O sociólogo explica que os casos de racismo “também são bastante discutidos em Itália”, uma comunidade futebolística que, de acordo com Pippo Russo, nunca esperou “assistir a um episódio deste género em Portugal, fosse num estádio de futebol ou na sociedade em geral”. No entanto, a situação na qual se viu envolvido Marega veio colocar “a “questão do racismo na agenda do debate público em Portugal, não tanto para o mundo do futebol, mas para a sociedade portuguesa”.

Contudo, o sociólogo explica que esta “é uma ideia estereotipada, porque sabemos muito bem que o racismo não é incomum em Itália, tal como em Portugal, onde existem setores de opinião pública de extrema direita que têm falado muito sobre esse assunto”. Os acontecimentos que envolveram Marega no último domingo foram vistos por Pippo Russo “como um episódio de rutura”.

“Vimos o Marega a reagir de uma maneira sensacional, com um gesto extraordinário ao abandonar o campo”. No entanto, o sociólogo faz questão de salientar que “este não foi um caso único de racismo nos estádios portugueses. Existiram tantos outros episódios de racismo anteriormente, mas como ninguém reagiu acreditou-se que era uma coisa normal”, sublinha Pippo Russo.

O jogador maliano deixou o relvado do estádio Dom Afonso Henriques ao minuto 69′, indo contra a vontade dos seus colegas do FC Porto, do treinador Sérgio Conceição, mas também dos próprios jogadores do Vitória de Guimarães. “Notei uma coisa muito estranha nas fotos que os jornais publicaram. Quem tentou evitar que o Marega deixasse o campo foram os futebolistas de cor negra. Fossem os seus companheiros de equipa ou do Vitória de Guimarães”, afirma Pippo Russo.

Analisando esse momento na sua perspetiva de sociólogo, Pippo Russo frisa que “esta é uma imagem de grande impacto, porque mostra uma solidariedade entre irmãos de pele negra. Por outro lado, é também um sinal dos jogadores em Portugal, de que é necessário ter uma consciencialização daquilo que o Marega fez, para entendermos que certos episódios não podem ser tolerados. Não é normal ser-se insultado pela cor da pele e quando isso acontece significa que chegou a hora de parar”, conclui.

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