A Direção Geral da Administração e do Emprego Público acaba de divulgar números relativos ao emprego público no nosso país, que merecem, no mínimo, uma reflexão atenta. Atualmente, Portugal tem 675 mil funcionários públicos, mais 16 mil em quase três anos de frente esquerda no Governo. Um em cada seis trabalhadores é funcionário público (15% dos empregos em Portugal), o que tem contribuído fortemente para a redução do desemprego, que se situa agora nos 7%.

Este crescimento robusto assenta sobretudo nas contratações públicas na Administração Local e Regional, nomeadamente, internalização de trabalhadores de empresas municipais, contratação de trabalhadores para atividades artísticas, desporto e recreativas e recrutamento de bombeiros. E qual o valor pago em média pelo Estado a cada um dos funcionários públicos? A remuneração média mensal dos trabalhadores a tempo inteiro no Estado é de 1.709 euros (inclui as médias das horas extraordinárias, prémios e subsídios).

Curiosamente, o primeiro-ministro ousou, no passado fim de semana, vestir a capa de frente esquerda e, em modo eleitoral, atacar privados e empresas, desafiando-os a pensar nas suas políticas salariais. O mesmo primeiro-ministro que há seis meses defendeu que a prioridade não era aumentar os salários (públicos ou privados), mas sim aumentar o número de funcionários públicos por contratação. Ainda mais curioso é o facto de, não tendo valorizado as carreiras e as retribuições dos professores, enfermeiros e médicos, venha agora pressionar as empresas a subirem os salários que praticam, sugerindo até alguns exemplos (do setor privado, claro, silêncio absoluto quanto ao setor público).

Claro que os privados responderam de imediato e de forma dura, acusando o primeiro-ministro de fazer “afirmações simplistase de ir atrás desoluções fáceis, imediatas e populistas”. Como se o Estado, em matéria salarial, não incumprisse com os seus trabalhadores… António Costa parece agir ao ataque, criticando os outros, para ver se não o atacam a si.

Na verdade, Portugal tem a terceira maior taxa de precaridade da União Europeia, que segundo dados do Eurostat são mais de 21% os empregados que têm vínculos temporários, quando a média europeia é de apenas 13%, com países como a Alemanha a não ultrapassar os 12%. Ou seja, um em cada quase quatro empregos, cerca de um milhão de portugueses é precário ou de trabalho temporário, o que é em absoluto dramático.

O debate em torno das temáticas do emprego precário ou da valorização salarial é muito necessário, quer seja no privado quer no público, mas tem de ser um debate bem sério e não uma conversa com fim eleitoral ou para contentar os parceiros da esquerda em vésperas de debate de Orçamento do Estado.

O Estado e as empresas têm de trabalhar de mãos dadas para criar empregos e evitar as assimetrias e disparidades que sem dúvida existem. É um trabalho de todos e para todos.