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Portugal amigo especial da China? “Isso não faz qualquer sentido”, diz Governo português

Duas empresas chinesas já demonstraram interesse na expansão do porto de Sines, mas o Governo português quer atrair o interesse de empresas europeias e norte-americanas.
Cristina Bernardo
20 Janeiro 2020, 13h18

O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, rejeitou a ideia de que Portugal está a desenvolver uma dependência problemática de Pequim

Ao Financial Times, o ministro apontou que “se criou um mito em que Portugal é uma espécie de amigo especial da China na Europa”. “Isso não faz qualquer sentido”, garantiu Augusto Santos Silva.

O jornal explica que “o investimento chinês em Portugal começou a acelerar depois do país enfrentar uma grave crise financeira, há quase uma década, e Lisboa teve de se apressar com as privatizações como parte de um acordo de resgate com a União Europeia”.

“As entradas [de capital chinês] transformaram o país num dos maiores recetores per capita da Europa em investimentos chineses”, apontou o jornal. Em Portugal, empresas chinesas investiram em vários setores, como na energia – no caso da EDP e da REN -, como na banca e seguros, com a entrada da Fosun no BCP e na Fidelidade.

No passado mês de outubro, Lisboa lançou um concurso internacional relativamente à criação de um novo terminal de contentores em Sines. Este porto de água profundas, a 160 quilómetros de Lisboa, voltou a colocar o relacionamento de Portugal com a China em destaque.

De acordo com o jornal britânico, “Sines, o porto europeu mais próximo do Canal do Panamá, é visto como um centro que poderia desempenhar um papel importante no programa ‘Uma faixa, uma rota’ (BRI, sigla inglesa), o contencioso programa de construção de infraestruturas da China que suscitou preocupações na Europa relativamente a Pequim ganhar influência sobre ativos estrategicamente importantes”.

De relembrar que o governo de António Costa assinou um memorando com Pequim, em dezembro de 2018, para cooperarem no BRI. Também o Luxemburgo e Itália assinaram acordos semelhantes com a China.

As empresas chinesas Cosco e Shanghai International Port Group estão entre aquelas que demonstraram interesse no contrato de 50 anos para construir e operar o novo porto de Sines. Ainda assim, o Governo está a incentivar empresas norte-americanas e europeias a competir neste mesmo concurso.

Assim, o ministro dos Negócios Estrangeiros assumiu que espera a entrada de mais propostas credíveis para a mesa de negociações. “A qualidade das apostas será muito melhor” caso empresas dos Estados Unidos e da Europa também compitam no contrato de Sines, adicionando que este porto “representa uma das melhores oportunidades para a Europa diminuir a dependência do gás russo”, além de que os EUA estarão interessados em aumentar as exportações de gás natural liquidificado  através de Sines.

Augusto Santos Silva voltou a rejeitar a ideia de que a China é dominante sobre Portugal e disse que medir o investimento de Pequim numa base per capita “é uma maneira de desvalorizar o facto do investimento chinês na Europa [em termos absolutos] estar massivamente concentrados em grandes países como Reino Unido, Alemanha e França”.

Interesse em trocas comerciais continua 

Apesar de negar o domínio da China em Portugal, o ministro esclareceu que Lisboa continua interessada em atrair investimentos chineses, de forma a expandir o comércio e a incentivar o turismo. No entanto, a diferença entre as exportações e importações demarcam uma grande diferença, uma vez que as exportações valem menos de mil milhões de euros anuais e as importações chinesas valem 2,2 mil milhões de euros.

“Está na altura dos investidores chineses estabelecerem empresas industriais aqui, nomeadamente nos setores de mobilidade automóvel e elétrica”, apontou o ministro. Santos Silva revelou que apesar das negociações entre os dois países terem demorado muito tempo, Portugal conseguiu entrar na China com suínos congelados e que esse item “vai aumentar as exportações em mais de 20% no primeiro ano”.

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