[weglot_switcher]

“Portugal é o país da Europa que tem menos capital de risco em percentagem do PIB”

Martim Avillez Figueiredo, partner da CoRe Capital, abordou a incerteza no mercado de captação de capital, ao lado de Martim Krupenski, Managing Partner da Morais Leitão, Inês Sequeira Mendes, managing partner da Abreu, Paulo Cardoso do Amaral, Professor na Católica-Lisbon, durante o Advisory Summit 2025 do JE.
2 Julho 2025, 21h47

Em tempos de incerteza – sobretudo a exportada pelos Estados Unidos, além das máquinas e combustíveis minerais -, confiar no que “não é incerto” é um recurso para aqueles que se dedicam à captação de capital.

E o que não é incerto?, questionou e respondeu Martim Avillez Figueiredo, partner da CoRe Capital, intervindo no Advisory Summit 2025 do Jornal Económico (JE). “Em Portugal, quase 50% do volume de negócios total vem das pequenas e média empresas (PME). Essas PME em Portugal, na indústria, têm uma característica que as distingue, ainda, da maior parte da indústria de manufatura europeia”, explicou.

“É o chamado learning by doing“, continuou, abordando a metodologia teorizada pelo pedagogo e filósofo norte-americano John Dewey. “Há um conjunto de pessoas que, há 30 anos, fazem peças de uma maneira que não é fácil de repetir noutros mercados. E se acabarmos com essa indústria, isso não se aprende nos próximos 30 anos. Na metalomecânica, por exemplo, um conjunto de peças que são usadas em motores elétricos é feita por uma empresa que já vendemos. Tinha um conjunto de 24 trabalhadores que faziam aquela peça há 30 anos. E faziam-na com uma rapidez – e a célebre produtividade que não temos na indústria – inigualável. Por isso, foi rapidamente capturada por essas maiores empresas”, revelou.

“Os Estados Unidos afetam algumas empresas portuguesas. Não é o principal mercado de exportações. Naturalmente, quem investe vai olhar para a exposição a mercados mais incertos. Sempre foi assim, vai continuar a ser assim. Se pudermos agora, durante este período, não investir em empresas expostas aos Estados Unidos, não investiremos”, afirmou Martim Avillez Figueiredo.

Na dimensão da captação de capital – “uma das variáveis críticas de fazer capital de risco em qualquer país” – Portugal apresenta-se como país europeu com menos capital de risco em percentagem do Produto Interno Bruto (PIB), alertou. “São 18 vezes menos do que a média da União Europeia (UE), seis vezes menos que Espanha e 5,7 vezes menos que a Grécia”, detalhou o sócio da Core Capital.

“Mesmo assim, nós temos de conseguir convencer um conjunto de investidores que têm todos esses mercados à sua disposição a acreditar em Portugal, e o que fazemos é agarrar-nos ao que não é incerto”, explicou.

Do capital de risco para a advocacia, Martim Krupenski, Managing Partner da Morais Leitão, afirmou que o Estado de Direito nos EUA “é duvidoso que ainda subsista”.

“Efetivamente se o poder judicial perder a sua independência, acumulando isso com todos os outros órgãos de soberania, muito alinhados num determinado sentido, seja neste ou noutro qualquer, é um risco muito sério para a democracia, porque está a pôr em causa verdadeiramente a separação de poderes”, alertou o mesmo responsável, convidado a comentar as limitações impostas pelo Supremo Tribunal aos tribunais inferiores de forma a interferir na expulsão dos imigrantes.

“Mas nós também temos os nossos problemas domésticos, como a interferência do Ministério Público excessiva na forma como as ações são conduzidas”, acrescentou, repreendendo “tudo o que ponha em causa a separação de poderes”.

Do lado da Abreu, Inês Sequeira Mendes, Managing Partner, considera que “aos advogados toca particularmente o que está nos Estados Unidos”. “Mas não é que já não exista na Europa. Como se gere isso? Não esquecendo os princípios, o Estado de Direito e a sua importância, e a defesa dos direitos, liberdades e garantias. E aí os advogados têm um papel fundamental. Foram vários os escritórios americanos que chegaram a acordo com a Administração Trump. Esta questão é bastante complexa. No fundo, há uma necessidade cada vez maior de não perdermos de vista os nossos princípios. E os advogados são o maior bastião na defesa desses princípios”, defendeu.

Da própria Universidade Católica, onde a conferência do JE decorreu, esta quarta-feira, Paulo Cardoso do Amaral, Professor na Católica-Lisbon desde 1996, abordou a incerteza na perspetiva de quem leciona sobre intelligence há 25 anos.

“A incerteza faz parte da vida e nós temos de lidar com ela. A diferença de há 25 anos para cá é que antigamente estávamos a gerir a mudança e agora estamos a gerir a surpresa”, começou por dizer.

“Atacar o Estado de Direito é abanar as bases daquilo que são as nossas certezas. Do ponto de vista prático de intelligence, o que fazemos é definir cenários e estar sempre à procura do que chamamos weak signals, que identifica o que pode acontecer a seguir, e vamo-nos preparando. Há abordagens práticas para nos preparamos minimamente para o que é possível. E o que eu continuo a ver na maioria das empresas são muitos blind spots. O que significa? Há informação que está cá fora que está a ser ignorada porque temos viés (bias), e não estamos a olhar para a informação que devíamos”, continuou.

Segundo Paulo Cardoso do Amaral, que também leciona na Academia Militar, o facto de esses “weak signals não serem considerados faz com que o cenário não possa ser equacionado e que, de repente, tenhamos a surpresa quando não tinha de acontecer”.

E apresentou dois passos a seguir: “onde é que nós vamos à procura dessa informação e como é que nós trabalhamos os nossos próprios bias, porque a tendência, por os termos, é olharmos para as coisas que nos deixam confortáveis”.

O Advisory Summit 2025 do JE, que teve o apoio da EY Law, VdA, PLMJ e Morais Leitão, decorreu esta quarta-feira, dia 2 de julho, na Universidade Católica Portuguesa (UCP), no campus de Palma de Cima, em Lisboa.

RELACIONADO
Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.